Page 66 - Revista da Armada
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entenderem-se. Cita, designadamente, a controvérsia em torno da  que, a propósito da escolha da localização para um novo aeroporto in-
         validade do CEDN em ocasiões de concepção do SFN, ou de elabo-  ternacional na área de Lisboa, também o Dr. António Vitorino, nas suas
         ração, ou revisão da LPM. Qual investigador, o autor busca as raízes  Notas Soltas, pugna pela adopção do processo? “Definam-se primeiro
         desse diferencial apontando, entre outras, a influência exercida pelos  os critérios e, pela sua aplicação, conclua-se do seu mérito relativo, em
         ambientes próprios da actuação de cada ramo.         ordem a fazer uma opção responsável, aberta”.
           No patamar da apreciação singular dos elementos que integram o   As considerações que antecedem não esgotam a apresentação do
         sistema, no que concerne o  pessoal, recurso  mais valioso da Forças  livro do Alm. Neves que traz aqui a presença de tantos e tão ilustres
         Armadas, não podia ele deixar de merecer maior atenção do autor,  convidados. Mais palavras minhas poderiam ser substituídas com
         dada a sua longa experiência na área. Daí, oferecer uma excelente vi-  vantagem pela leitura de algumas passagens seleccionadas do livro.
         são da problemática envolvida, tanto nos seus aspectos quantitativos  Acontece que é tempo de terminar.
         como qualitativos.                                    Direi então, em síntese, que:
           Nas considerações sobre o elemento recursos financeiros, mas sem-  “ As Forças Armadas e a Defesa Nacional “ constitui uma reflexão
         pre no quadro da aproximação sistémica, e depois da análise das es-  do autor sobre o tema, amadurecida ao longo dos anos da sua vivência
         truturas organizativas, recordam-se, designadamente, e com muita  como militar, espelhando salutar discernimento e estudo afincado.
         oportunidade, as diferenças de densidade financeira do investimen-  A obra afirma-se, desde já, como subsídio credível para a feitura de
         to na aquisição, e custos de operação e de manutenção do material  um novo Livro Branco da Defesa Nacional.
         próprio de cada ramo. Antes, tinha sido levantada a questão de saber   Constituirá, certamente, fonte de consulta idónea para os estudiosos
         quais são os recursos financeiros mínimos indispensáveis para cum-  de assuntos da Defesa Nacional e das Forças Armadas.
         primento das missões das Forças Armadas, pergunta cuja resposta   Lido com espírito aberto, poderá colmatar muitas lacunas e corri-
         pode chocar muita gente, atendendo a que “ o cidadão comum sen-  gir percepções erradas dos que, por profissão, ou voluntarismo, ele-
         te que o Estado não assegura a satisfação de algumas necessidades a  gem o tema para divulgação das suas opiniões através dessas caixas
         seu cargo e que a noção de ameaça está ausente da consciência dos  de ressonância chamadas meios de comunicação social. Daí também
         nossos cidadãos” estou a citar.                      o seu valor pedagógico.
           Choca também, como emerge da escrita do Alm. Neves, ver que   Finalmente: se aos destinatários particularmente eleitos e mencio-
         se fazem comparações entre os gastos anuais com as Forças Arma-  nados como tal no início da obra, nenhum efeito lhes deixar a sua
         das de vários países e ritmo de reduções operadas por via do novo  leitura, só resta interrogarmo-nos, como faz o filósofo “quando uma
         ambiente estratégico, sem cuidar de esclarecer previamente o qua-  cabeça e um livro chocam um com o outro e ouve-se um som de oco,
         dro de situação de que se parte, relativo aos seus armamento e equi-  será porventura do livro, o som?”
         pamento, particularmente a idade e estado de modernização. Resul-  Está de parabéns o Alm. Pires Neves pelo mérito do que chama um
         tado: comparam-se coisas que não são comparáveis, tal como se lê  seu contributo, a bem de uma visão esclarecida das Forças Armadas
         num extenso artigo aparecido esta semana no “Público”, cujo autor  no seio da Defesa Nacional.
         só timidamente aceita existirem inconformidades devido a questão   Estão de parabéns as Forças Armadas pelo discurso à Nação assim
         de comparabilidade.                                  apresentado por este seu tribuno.
           Ainda no contexto da temática do SFN note-se a preocupação do   Está de parabéns a Marinha pelo acolhimento em boa hora dado à
         autor em acompanhar as suas reflexões de oportuno suporte concep-  obra do Alm. Pires Neves, que assim tornou possível a sua mais am-
         tual, que o ajuda em muito à defesa das ideias expressas.  pla divulgação”.
           Entre as passagens que continuam a merecer referência naquele âm-  Por fim o VALM Pires Neves agradeceu a presença dos convida-
         bito, sublinhe-se a insistência com que o Alm. Pires Neves aponta para  dos e a todos aqueles que o apoiaram e incentivaram na concretização
         a necessidade de, na fase de tomada de decisões no quadro do processo  desta sua obra cujo propósito mais não foi que uma mera contribui-
         de planeamento do SFN, se proceder à avaliação de cada uma das solu-  ção de alguém que, sendo cidadão português, gostaria que não fos-
         ções gizadas à luz de critérios previamente definidos, a famosa trilogia  sem observadas e avaliadas as Forças Armadas de Portugal de uma
         AEA e, só depois desse exercício feito, se assumir a escolha. A não ser  forma demasiado simplista, grosseira e até atentatória da dignidade
         assim, arriscamo-nos a submetermo-nos as decisões de mera tirania de  de todos quantos nelas denodamente serviram e servem o País, como
         curto prazo, ou de vencimento de interesses não acomodados. Não é  por vezes parece acontecer.
         prática nova, mas parece estar frequentemente esquecida. Será por isso                                Z


                 A Operação “CROCODILO” (Guiné-1998)
                 A Operação “CROCODILO” (Guiné-1998)

                                RELATADA NO LIVRO “ BISSAU EM CHAMAS”
               o passado dia 8 de Novembro, no Pavilhão das Galeotas  que eclodiu na República da Guiné-Bissau em Junho de 1988, sa-
               do Museu de Marinha, foi apresentado o livro em epígra-  lientou o papel decisivo de uma força naval portuguesa que para
         Nfe cuja autoria é dos Vice-Almirantes Reis Rodrigues e  além de assegurar a evacuação de cidadãos nacionais e estrangei-
         Silva Santos.                                                               ros possibilitou a tomada de medi-
           Perante numerosa assistência, de                                          das diplomáticas com vista à reso-
         entre a qual se contavam os actuais                                         lução do conflito.
         e alguns antigos CEMGFA e CEM,                                             Foto 1SAR FZ Pereira  O evento terminou com um agra-
         após breves palavras de uma repre-                                          decimento do VALM Reis Rodri-
         sentante da “ Casa Das Letras”, a                                           gues, Comandante Naval à data dos
         editora da obra, o Professor Salgado                                        acontecimentos relatados, feito em
         Matos fez a apresentação de “ Bis-                                          seu nome e no do co-autor da obra,
         sau em Chamas”, contextualizando                                            a todos quantos, com os seus teste-
         o tema tratado, que descreve uma                                            munhos e incentivos, possibilitaram
         intervenção militar portuguesa no                                           a publicação deste escrito referente
         exterior, de âmbito exclusivamente                                          a uma brilhante e recente actuação
         nacional e fora de qualquer quadro                                          da Marinha de Portugal.
         de alianças, durante a crise política                                                                 Z

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