Page 26 - Revista da Armada
P. 26
pelo mar, dado que o navio tinha entrado mente com o Comandante Camacho, dos a draga “Mondego “ que se encontrava em
Viana do Castelo, já que a “Aveiro ”, draga
bastante no areal, ficando praticamente a Transportes Marítimos e com o represen- do porto local, estava ocupada. Foram ain-
da requisitadas bombas, chaparia e rebites
seco na baixa-mar. tante inglês, Captain Mail, presente. e até entrou em acção pessoal do Arsenal
da Marinha nas reparações do navio.
O relatório sobre a situação do navio e Comunicou então ao Ministro que desde
O plano de salvamento era simples:
possível salvamento, inicialmente apre- que lhe fossem dadas condições, considera- 1º Reparar as avarias no casco e restante
sentado pelo Comando do “Patrão Lo- va possível salvar o navio pela ria dentro! material de bordo incluindo cal-
deiras e toda a maquinaria (fora
pes”, demorou a ser enviado à Direcção O Ministro respondeu: “Pois muito bem, de estaleiro).
dos Transportes Maritinos, que respon- vamos tornar a tentar salvar o navio por 2º Endireitar o navio e abrir um
poço à sua proa para onde desceria,
deu ao Ministro da Marinha nes- ficando em condições de flutuação
(fácil de dizer mas muito complexo
tes termos: e difícil de concretizar).
“Da posse da copia da comu- 3º Abrir um canal de cerca de
1km de comprimento de forma a
nicação do Comando do “Patrão levar o navio até à ria.
Lopes” cumpre-me dizer a V.Exª 4º Dragar a passagem à frente
do navio, através da ria, e rebocá-
que todo o trabalho de salvamen- lo até à barra.
to pertence à firma “Furness Wi- O livro atrás referido é na rea-
lidade um extenso relatório que contem
thy & C. Lm.ª” ou às companhias todos os passos da realização do planea-
mento, com larga descrição das operações
de seguros conforme as condições desenvolvidas e pormenorizando as dificul-
dades que foi necessário vencer.
de fretamento de vapores do go-
Tratou-se de uma verdadeira odisseia que
verno inglês.” levou cerca de dois anos a concretizar, com
grande esforço e dedicação de todos os que
De facto apareceu uma missão nela se empenharam em vencer as inúme-
ras vicissitudes.
inglesa de salvamento (Salvage As-
De facto, houve vários percalços a ultra-
sociation) que trouxe um forte cabo passar que resumidamente foram:
de aço e três ferros com intenção de No canal a caminho da Ria.
Temporais que causaram estragos e atra-
alar o navio para o mar em altura de marés nossa conta” e voltando para o Sr. Mail, sos.
vivas. Houve no entanto desentendimento participou-lhe a resolução que acabava
com o maquinista de bordo sobre porme- de tomar. Dificuldades de dragagem em partes da
nores de actuação, o que originou troca de De notar que na altura tinha havido mais ria cujo fundo era de barro duro e não de
notas diplomáticas e consequente destitui- uma alteração na Administração Nacional lodo, frente à Costa Nova, o que originou
ção do maquinista. o pedido de draga mais potente.
o que acabou por ser favorável à resolução
Quando mais tarde se tentou usar os fer- do problema. De facto, por um lado a Di- Demoras na entrega dos materiais pe-
ros e o cabo de aço, este rebentou e ficou recção Transportes Marítimos do Estado didos para Lisboa e que, por vezes, eram
tudo no fundo do mar. descarregados em V. Nova de Gaia e não
passou do Ministério do Trabalho ao Mi- em Aveiro.
O autor do livro, que pelos vistos estava nistério das Subsistências, cujo ministro era
ao serviço dos Transportes Marítimos do o VALM Machado dos Santos e o Director Necessidade de abater a ponte do Forte
Estado, foi inicialmente nomeado em 6 de dos Transportes Marítimos passou a ser o para o navio passar.
Julho de 1917, para substituir o maquinis- ALM Macedo e Couto.
ta demitido e seguiu para Aveiro na mesma A própria saída da barra de Aveiro foi
uma operação perigosa, pois na altura a
data juntamente com o novo comandante barra era estreita, pouco profunda e com
rebentação na parte final. Valeu a acção do
José Casimiro do Rosário.. rebocador “Cabo da Roca” chamado para
dar ajuda.
Encontrou o navio atravessado e en-
De registar o último artigo do autor do
terrado na praia, com chapas e rebites livro, dedicado ao pessoal.
aluídos. “O pessoal que esteve às minhas ordens,
durante largo tempo, trabalhou em turnos
O pessoal encarregado do salvamento já de 12 horas, sendo bastante penoso, como é
fácil calcular, o trabalho de noite num areal
não aparecia há mais de 15 dias. junto ao Oceano nos meses frios e chuvosos
dos Invernos de 1918 a 1920.”
Averiguou-se que o desentendimento
Destaca depois os nomes do maquinis-
do maquinista com o representante inglês, ta Ernesto Júlio Santiago como tendo sido
o seu braço direito nos trabalhos de enge-
fora devido a este ter decidido despejar as nharia e ainda o Comandante Álvaro Ca-
macho que se desempenhou na parte dis-
caldeiras. ciplinar e administrativa do pessoal com
a maior competência e honorabilidade.
Entretanto, o Engº Mendes Barata e o Co- Chegou a haver mais de 200 trabalhadores
mandante Rosário foram de novo chama-
dos a Lisboa em 20 de Julho e substituídos
a bordo pelo Comandante Álvaro Camacho
e o maquinista Júlio Santiago.
Com estas substituições a missão inglesa
regressou e os trabalhos reiniciaram-se.
Houve mais tentativas sem sucesso, até
que, em 21 de Janeiro de 1918, o mar perdeu
a paciência, desencadeando-se forte tempo-
ral que causou graves danos no casco.
A partir desta altura as entidades ingle-
sas resolveram desistir do salvamento e Trajecto do canal dragado.
opinaram que o navio devia ser declara-
do como perdido e entregue à companhia O Engº Mendes Barata apresentou então
de seguros. um orçamento para ser aprovado, que ul-
Tudo parecia perdido, mas o Engº M. Ba- trapassava os 298 contos (na época) e que
rata, perante os seus superiores, foi de opi- acabou, segundo ele, por ser largamente
nião que ainda era possível salvar o navio excedido, devido a vários atrasos no for-
e acabou por ser recebido já em Fevereiro necimento dos materiais necessários, in-
de 1918 pelo Ministro da Marinha, junta- cluindo o pequeno rebocador “Formiga” e
26 MARÇO 2010 U REVISTA DA ARMADA