Page 24 - Revista da Armada
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Cabeçadas Presidente do Ministério e mais te com a canhoneira-torpedeira “Tejo”, sob tuem a dita Comissão, distinguem-se o rela-
tarde lhe entrega todos os poderes constitu- a direcção de um construtor naval francês, tor, 1º Tenente Pereira da Silva, o secretário
cionais executivos. Esta situação traduzia a o engenheiro Croneau, contratado para in- 2º Tenente Nunes Ribeiro e o 2º Tenente Bo-
fraqueza institucional em que assentava o troduzir novas técnicas de construção no telho de Sousa.
edifício político do Estado republicano na Estaleiro, o que não deixa de ser um sinal É proposto a compra de grandes unidades
sua fase final, diminuído pelo seus detrac- esclarecedor das dificuldades técnicas e fi- de esquadra, que teriam um papel central na
tores e ostracizado pela maioria dos que o nanceiras com que se debatia a indústria na- defesa de Portugal, em caso de um conflito
tinham erguido. val portuguesa. nos mares da Europa. Porém, as compras e
O Comandante Cabeçadas não consegue, De um ponto de vista técnico, a constru- as construções vão ser mínimas nos anos que
desde a primeira hora, arregimentar apoios ção do cruzador “Rainha D.Amélia” colocou se seguem, mostrando-se irrealista os planos
suficientes, nem sequer no interior da Mari- problemas de difícil solução, que foram sem- esboçados para a construção de grandes uni-
nha, instituição que tinha sido, durante anos pre solucionados com custos dispendiosos e dades navais, para as quais o Estado não tem
a trave-mestra dos governos democráticos prorrogação do tempo de entrega do navio2. recursos para adquirir e manter.
da República. Por volta de 1926, a Armada Qual seria então a solução para o ressurgi- A situação tende a degradar-se progres-
atinge «o zero naval». Os navios eram pou- mento naval português? O último Presiden- sivamente. Em 1911, quando regressava de
cos, antiquados e não estavam na sua maioria te do Conselho de Ministros da Monarquia, uma missão ao norte do país, onde auxiliara
operacionais. Por outro lado, o Cor- as forças da República no combate
po de Marinheiros havia sido desac- a uma incursão monárquica, o cru-
tivado e para Vila Franca de Xira ti- zador “S. Rafael” encalha frente a
nha sido enviada parte da esquadra, Vila do Conde e ali se perde batido
ficando assim longe da capital. Com pela fúria do mar. No ano seguin-
um Exército muito mais politizado, te, náufraga na costa algarvia a ca-
depois da experiência da Flandres nhoneira “Faro”. A 6 de Agosto de
(1916-1918), sem o apoio da Mari- 1915, encalha na praia de Peniche o
nha, o Comandante Cabeçadas é cruzador “República” (ex- Rainha
ultrapassado pelos acontecimentos, D. Amélia). O “Almirante Reis”
perante um clima de desmobiliza- (ex- D. Carlos I) está igualmente
ção e apatia das hostes republicanas em dificuldades e a necessitar de
liberais, ficando à mercê das facções uma reparação onerosa das cal-
mais conservadoras. A 6 de Junho deiras, enquanto o “S. Gabriel” e
sucede o primeiro sinal de força. o “Adamastor” se encontram em
O General Gomes da Costa entra O Primeiro-Ministro Afonso Costa numa visita ao “Espadarte” em 1913. reparação. A discussão à volta do
triunfalmente em Lisboa com cerca plano de construções, juntamente
de 15.000 homens e fará a 18 de Ju- com as ideias megalómanas sobre
nho “xeque-mate”, com grande faci- a dimensão que a esquadra portu-
lidade, ao Comandante Cabeçadas e guesa deveria ter, leva a uma per-
seus apoiantes, sem que haja derra- da de tempo preciosa, só colmata-
mamento de sangue. Cabeçadas e os da com a construção do primeiro
seus seguidores, sem um programa contratorpedeiro, o “Douro”, no
próprio, não tinham previsto a força Arsenal, encomendado em 1911 e
avassaladora dos anti-democráticos. lançado à água em 1913, e logo de
Nos anos seguintes, até 1929, já sob a seguida do “Guadiana”, em 1914.
ditadura militar, os republicanos re- Os dirigentes políticos da I Repú-
formadores resistem apenas através blica e as altas chefias da Marinha
de acções revilharistas, onde surgem rapidamente percebem que está
pontualmente militares daArmada. traçado o caminho a seguir. São es-
Pouco mais restava à Marinha do tes navios, com 1 peça Armstrong
que esperar pelo início da década Os submersíveis “Hidra”, “Foca” e “Golfinho” em La Spezzia no dia da de 100 mm, 2 de 76 mm e 2 tubos
de trinta para se modernizar. entrega a Portugal. lança-torpedos de 450 mm, des-
IV. OS MEIOS – PLANOS, que tivera a tutela da Marinha em 1900, re- locando aproximadamente 670 toneladas
conhecia: Portugal não pode aspirar a ter uma e atingindo uma velocidade máxima de
CONSTRUÇÕES E RENOVAÇÃO grande esquadra de combate. Os navios são carís- 27 nós, que se coadunam com as necessi-
DA ESQUADRA simos e o seu custeio é muito dispendioso. […] se dades da Marinha e as possibilidades do
não podemos aspirar a um grande poder naval, país. Na verdade, a constituir-se flotilhas
Em 1910, Portugal tinha seis cruzadores. temos de adquirir o necessário em cruzadores de ligeiras estes navios poderiam integrar es-
Um havia sido construído em Itália o “Ada- grande velocidade, em torpedeiros e em submari- coltas, fiscalizar a costa e efectuar missões
mastor”, dois em França o “S. Gabriel”, e o nos, para a defesa do porto de Lisboa e das costas de representação. Estava encontrada uma
“S. Rafael”, um em Inglaterra, o único ver- de Portugal.3 solução prática e pouco onerosa para reno-
dadeiramente digno da designação de cru- Ora uma das primeiras medidas do Go- var a esquadra. Nesse sentido, ao “Douro”
zador o “D. Carlos I” e outro em Portugal, verno Provisório da República, em Janeiro e ao “Guadiana” vêm juntar-se o “Vouga”
no Arsenal da Marinha o “Rainha D. Amé- de 1911, é nomear uma “Grande Comissão” em 1920 e o “Tâmega” em 1922.
lia”. Os cinco novos navios são incorporados que incluía cerca de quarenta oficiais, para É de referir que em 1911, o iate real “Amé-
na Armada entre 1897 e 1900. Entretanto, a estudar a renovação da Armada. A maior lia”, é classificado como aviso, baptizado de
“Vasco da Gama” efectua fabricos em Itá- parte dos membros da Comissão, de baixa “Cinco de Outubro”, e empregue no serviço
lia, para deixar de ser uma corveta-coura- patente, primeiros e segundos-tenentes, não de hidrografia. Nesses anos são construídas,
çada e transformar-se num cruzador. Uma regateiam esforços na preparação de um do- também no Arsenal, um conjunto de canho-
única grande unidade, o cruzador “Rainha cumento que estabeleça as directrizes com neiras: a “Ibo”(1910), “Bengo” e “Mando-
D. Amélia”, como se disse, é construída em que se pretende orientar a futura organiza- vi” (1917), “Quanza” (1918), “Zaire”(1925),
Portugal, no Arsenal da Marinha, juntamen- ção da Marinha. Entre os oficiais que consti- “Damão” (1926). Com o lançamento à água
24 NOVEMBRO 2010 • Revista da aRmada