Page 25 - Revista da Armada
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desses navios, ficava provado que, embora o Atlântico Sul - em 1922, onde sobressai          No espaço de sete anos a Marinha incor-
não acompanhasse a mais evoluída cons- o génio de Sacadura Cabral e Gago Couti-            porara novos meios, como o submarino e o
trução naval do seu tempo, na medida em nho, que simbolizam só por si, o quanto em         avião, duas das armas mais avançadas nas
que a Europa conhecia uma corrida naval Portugal e na Marinha em particular, se ti-        primeiras décadas do século XX, onde im-
entre potências sem precedentes, na qual as nha avançado, no espaço de quatro a cinco      perava a instabilidade nas Relações Interna-
tonelagens dos navios não paravam de au- anos, em termos técnicos e em métodos de          cionais. A vinda de equipamentos tão avan-
mentar. O Arsenal da Marinha tinha capaci- navegação aérea.                                çados tecnologicamente vai obrigar a uma
dade para entregar à Armada navios para o Com o fim da Grande Guerra, são adquiri-         imediata reformulação dos programas de
exercício das suas missões,
principalmente nos territó-                                                                                  ensino e a uma redefinição,
rios ultramarinos.                                                                                           não menos importante, das
No ano em que é lança-                                                                                       infra-estruturas na Marinha
do à água o “Douro” (1913)                                                                                   Portuguesa.
chega a Portugal, vindo de
Itália, o primeiro submersí-                                                                                   Todavia, deve-se subli-
vel português, o “Espadar-                                                                                   nhar outra inovação im-
te”, que fora encomendado,                                                                                   portante que a Marinha traz
ainda no tempo da Monar-                                                                                     para Portugal e que decorre
quia, em Junho de 1910,                                                                                      do amplo desenvolvimento
pelo Ministro da Marinha,                                                                                    das tecnologias de comu-
ComandanteAzevedo Cou-                                                                                       nicações desde o início do
tinho. De referir que o “Es-                                                                                 Século XX.
padarte” tem a particulari-    O Contratorpedeiro “Douro” – 1913.
                                                                                                               No mês de Janeiro de
dade de ser a única unidade do género na dos dois cruzadores à Inglaterra, em segunda                        1910, é instalado um posto
Península Ibérica, com características únicas mão: o “Carvalho Araújo” e o”República”.                       radiotelegráfico na Casa da
ao nível furtivo e dissuasor, numa altura em E como indemnizações, pela participação no    Balança, que inicia as primeiras comunica-
que a Espanha reforça a sua presença na Eu- conflito, seis torpedeiros do derrotado Impé-  ções sem fios em moldes definitivos a partir
ropa e compete pelo mesmo espaço geopolí- rio Austro-Húngaro: “Ave”, “Liz”, “Sado”,        de 16 de Fevereiro, após ter estabelecido con-
tico que Portugal. Encomendados em 1915, “Mondego”, “Cavado”, “Zêzere”. Que não            tacto com a Escola de Torpedos e Electricida-
são lançados à água em 1917, em La                                                         de, em Vale de Zebro. Rapidamente a TSF se
Spezzia os submersíveis “Foca” e                                                           vai disseminar, primeiro pelos navios e em
“Hidra”, e o “Golfinho”. Os navios                                                                  seguida pela sociedade civil, caben-
chegam a Portugal em 1918 e pas-                                                                    do à Marinha assegurar as ligações
sam a constituir, juntamente com o                                                                  pioneiras. Os passos vão ser extre-
“Espadarte”, a primeira esquadri-                                                                   mamente rápidos. Para se ter uma
lha de submarinos portuguesa.                                                                       ideia, entre 1910 e 1926 edificam-se
Os submersíveis tinham sido ini-                                                                    seis postos de radiotelegrafia e três
cialmente pensados para a defesa                                                                    radiogoniométricos. Em 1916 é er-
do Tejo, mas a sua utilidade, poden-                                                                guido o Posto Radiotelegráfico do
do actuar em companhia de outras                                                                    Monsanto, no ano de 1923 a Mari-
unidades da esquadra, é extensí-                                                                    nha cria a Repartição dos Serviços
vel à vigilância da costa, de diver-                                                                Radiotelegráficos que, sendo neces-
sos portos e bases, visando manter                                                                  sária uma organização ainda mais
afastadas as ameaças de superfície.                                                                 profunda, é sucedida, em 1924, pela
Estamos perante um avanço tecno-        Doca do Bom Sucesso.                                        Direcção do Serviço de Electricidade
                                                                                                    e Comunicações (DSEC), organismo
lógico apreciável para a Marinha,                                                                   que em mais de meio século planeia,
tendo-se constatado, uma vez mais,                                                                  edifica e mantém uma eficaz rede de
que esta seria a via correcta para re-                                                              Postos e Estações Radionavais. De-
forçar a presença naval portuguesa                                                                  ve-se ao Comandante Nunes Ribei-
nas suas águas territoriais e junto                                                                 ro o aparecimento em 1928 de uma
dos seus aliados.                                                                                   escola de radiotelegrafia em Mon-
Em 1916, Sacadura Cabral fre-                                                                       santo, que ali se mantém a funcionar
quenta cursos de pilotagem aérea                                                                    até 1937, formando largas centenas
em França. No ano seguinte, em                                                                      de telegrafistas que vão integrando
1917, é criado o Serviço de Aviação                                                                 os quadros técnicos da Marinha. No
da Armada. Dois aviões FBA, vin-                                                                    pensamento “mahniano” de Nunes
dos de Vila Nova da Rainha ama-                                                                     Ribeiro e de Pereira da Silva estava
ram no Tejo no dia 14 de Dezembro                                                                   uma Marinha servida por militares
desse ano, pilotados por Pedro Ro-                                                                  competentes, que soubessem operar
sado e Azeredo de Vasconcelos. Es-                                                                  com as mais modernas tecnologias
tes aparelhos serão um instrumento      Escola da Aviação Naval – S. Jacinto.                       do seu tempo.

muito útil, como nova arma de guerra, na eram os navios inicialmente previstos rece-       V. AS GRANDES REFORMAS:
captação de informação, na vigilância e de- ber, visto se ter negociado em Paris a vinda   ORGANIZAÇÃO
tecção de navios inimigos e minas. A Avia- de unidades navais mais poderosas. Dois         E INFRA-ESTRUTURAS
ção Naval, que nasce durante a guerra, terá daqueles torpedeiros, o “Cavado” e o “Liz”,
um período de glória, nos anos que se vão nunca chegariam a Portugal, pois naufraga-         Com a entrada ao serviço da Armada de
seguir ao conflito. Na década de vinte têm ram próximo da Argélia. Como compensa-          novos meios, tem lugar uma profunda reor-
lugar travessias aéreas, tanto para a Madei- ção de guerra foi ainda recebido da Alema-    ganização quer das infra-estruturas quer da
ra, em 1921, como para o Brasil - cruzando nha o rebocador “Raul Cascais”.                 própria legislação que regulava a estrutura

                                                                                                 Revista da aRmada • NOVEMBRO 2010 25
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