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Alocução do Almirante CEMA
Começo por me dirigir a todos aqueles que estão a cumprir a sua fai- Fotos Júlio Tito e 1SAR FZ Pereiraconseguido, como bem atestam os indicadores referidos pelo senhorVice-
na longe de Portugal, honrando o botão de âncora ou a alcaxa que -Almirante Comandante Naval.Tivessem outros órgãos do Estado o mesmo
ostentam. Saúdo particularmente o pessoal da Marinha destacado nível de desempenho, e bem mais simples seria a solução das dificuldades
na International Security and Assistance Force no Afeganistão e também que todos enfrentamos.
a guarnição do navio-escola “Sagres”, envolvida numa relevante missão
de apoio à diplomacia portuguesa à volta do Mundo e que navega, neste No domínio genético, quero começar por abordar alguns aspectos rela-
momento, entre Banguecoque e Singapura. cionados com o pessoal. Nesta área, verificou-se uma redução significativa
nos últimos cinco anos, só possível, em boa parte, devido ao investimen-
Lembro, também, as guarnições dos 8 navios que hoje estão com mis- to tecnológico e à melhoria na formação e treino. Contudo, a redução de
são atribuída, assegurando as tarefas que a Marinha desempenha, em per- cerca de 850 militares, não deixou de implicar um esforço acrescido, so-
manência, no nosso mar, essencialmente ligadas à vigilância, controlo e bretudo para o pessoal embarcado, diminuindo a necessária rotatividade
fiscalização dos espaços marítimos nacionais e à garantia do serviço de navio - terra de forma a não afectar a actividade operacional.A redução do
busca e salvamento marítimo. Recordo, ainda, o pessoal das unidades de número de civis foi de cerca de 1100, em grande parte devido à empresa-
fuzileiros e de mergulhadores, da estrutura da Direcção-Geral da Autori- rialização do Arsenal do Alfeite, ao passo que os quantitativos de militari-
dade Marítima, do Comando-Geral da Po-
lícia Marítima e do Instituto Hidrográfico zados se mantiveram relativamente estáveis.
que contribui para o dispositivo permanen- Assim, a Marinha dispõe actualmente de
te da Marinha, o qual totaliza cerca de 750
militares, militarizados e civis da Marinha, cerca de 12 200 homens e mulheres. Con-
permanentemente em acção, ou em eleva- sidero este o quantitativo mínimo para o
da prontidão. cumprimento das actuais missões com os
meios disponíveis.
Saúde também as delegações da Escola
Naval e da ETNA como garantes do nosso Esclareço aqui, para que não restem dú-
futuro e da continuidade da nossa postura vidas, que, quando numa entrevista recen-
de serviço em relação ao mar a aos portu- te, me referi à exagerada dimensão do Back
gueses. Office não era da nossa Marinha – como é
obvio – que falava.
Finalmente, envio uma saudação a todos
os servidores da Marinha que, no seu pos- Sendo as pessoas o nosso recurso mais
to de trabalho, tornam possíveis a disponi- importante, quero aqui sublinhar que não
bilidade do pessoal e do material, com os foi de todo possível, no meu mandato, con-
padrões imprescindíveis aos desempenhos cretizar o reconhecimento que é devido ao
operacionais que tanto nos orgulham. pessoal embarcado.Além disso, temos ago-
ra as gravosas medidas de contenção finan-
Seguidamente, quero agradecer a dis- ceira anunciadas, sem paralelo conhecido
ponibilidade dos ilustres convidados que na nossa História. Bem sei que são transver-
se associaram a esta cerimónia. Permitam- sais a toda a administração pública e que a
-me que cumprimente de forma particular elas não poderíamos, também por dever de
o Exmo Sr. General Luís Araújo, Chefe do consciência, ficar imunes; mas, o mesmo
Estado-Maior da Força Aérea instituição dever de consciência, leva-me a ter legíti-
com a qual partilhamos exemplar coope- mas expectativas de que a condição da ci-
ração. Seja bem-vindo à Marinha! Sejam dadania militar não seja ignorada. Por todos.
todos bem-vindos à Marinha!
Em contraposição, haverá que reconhe-
Marinheiros cer, sem reservas, o grande investimento
É nesta cerimónia, que se destina a dar público reconhecimento do tra- realizado nos meios navais e infraestruturas. De facto, atravessamos um
balho de todos os que cumprem a sua missão na linha da frente da exi- momento fundamental, nomeadamente no respeitante à renovação da
gência operacional, que escolhi, perante vós - a esquadra -, fazer a minha Esquadra. Modernizámos os navios hidro-oceanográficos “D. Carlos I” e
última intervenção como Comandante da Marinha após uma vida cheia, “Alm. Gago Coutinho”, apetrechando-os com os mais avançados equipa-
também no mar. No campo da honra - como gosto de dizer.Aqui comecei, mentos para a investigação científica.
aqui aprendi, aqui comandei e passei momentos inesquecíveis. Não con- Recebemos 3 modernas embarcações salva-vidas da classe Vigilante,
sigo recordar nenhum de que guarde má memória. Certamente por méri- construídas no Arsenal do Alfeite, que têm constituído uma mais-valia
to vosso e por amor à “briosa”. A todos o meu muito obrigado. Se tivesse, significativa no socorro a náufragos. Além disso, modernizámos estações
hoje, que escolher uma vida, escolheria, sem hesitações, a minha. Honra à salva-vidas, sem descurar a aquisição de material para o salvamento a
grande Instituição que servimos.A Marinha de Portugal e dos portugueses. partir de terra.
Integrámos na Esquadra as duas fragatas da classe Bartolomeu Dias, cul-
Ilustres Convidados, minando assim um processo verdadeiramente exemplar, iniciado em 2006
Esta cerimónia marca, também, o início do ano operacional 2010/2011. e concluído em tempo record,passando, assim, a dispor de cinco fragatas
Constitui, por isso, um momento propício para fazer um ponto ao meio capazes de potenciar a nossa actuação em todo o espectro de emprego
dia, e para anteciparmos desafios futuros. do poder naval e marítimo.
Temos que reconhecer que vivemos momentos muito difíceis que in- Recebemos, provisoriamente, o submarino Tridente, assegurando a con-
felizmente têm natureza estrutural e portanto duradoura. Não tenhamos tinuação de uma capacidade, a capacidade submarina, que o País mantém
ilusões! Temos uma vez por todas que assumir as nossas responsabilida- ininterruptamente desde 1913. Em breve receberemos o segundo navio
des. A Marinha sempre soube, e saberá, assumir as suas, mas não aceita da classe: o Arpão. Estou certo de que, quando passar a espuma dos dias
as que lhe não pertencem. que correm, ficará evidente a sua extrema utilidade para uma nação que
Em teoria é sempre possível fazer melhor com os recursos disponíveis, não pode dispensar a vigilância discreta dos seus espaços marítimos, nem
mas, digo-o sem falsa modéstia que podemos orgulhar-nos do que temos a dissuasão proporcionada pelos submarinos – não igualada por qualquer
outro meio do Sistema de Forças nacional.
Apesar de todos estes marcos importantes, a renovação da Esquadra não
REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2010 5