Page 7 - Revista da Armada
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cada vez mais, da profícua cooperação, permitindo, dessa forma, evitar mos por via marítima todo o petróleo e 2/3 do gás natural que consumimos.
a duplicação de estruturas e de meios, com o mesmo propósito, noutros É ele que atrai 90% dos turistas que nos visitam.
departamentos do Estado. Na conjuntura actual, marcada pela neces- É o mar que está na base de um conjunto de actividades económicas
sidade de uma gestão parcimoniosa dos escassos recursos disponíveis,
não se podem permitir redundâncias e ineficiências. Isto tem que ser que representam, cerca 12 a 14 mil milhões de euros.
bem entendido por todos. É o mar que, directa e indirectamente, dá emprego a quase 200 mil
Uma palavra, também, para a colaboração havida com as estruturas portugueses.
de protecção civil, no sentido de prevenir riscos inerentes a situações de É ele que nos diferencia no quadro das nações e nos assegura a liber-
acidente grave ou catástrofe ou de
atenuar os seus efeitos, apoiando dade de acção política.
prontamente e de forma compe- É o mar que abriga e, ao mesmo
tente e útil as populações sempre
que necessário, como sucedeu na tempo, esconde, na sua plataforma
Madeira, na sequência do aluvião continental, recursos que estamos
de 20 de Fevereiro deste ano. consistentemente a avaliar.
No domínio da acção militar Finalmente, é o mar que sus-
estrita, exercemos, entre Janeiro tenta diversas actividades econó-
de 2009 e Janeiro deste ano, pela micas, com enorme potencial de
terceira vez na nossa história, o crescimento como o turismo náu-
comando do Standing NATO Ma- tico, a náutica de recreio, a aqui-
ritime Group 1. Foi uma missão cultura, o transporte marítimo de
longa e complexa, que envolveu curta distância, as energias reno-
a participação em três operações váveis e a exploração de minerais,
reais de combate ao terrorismo, de hidrocarbonetos e de produtos
à proliferação de armamento e à de biotecnologia.
pirataria marítima. Na linha do
sucedido nas ocasiões anteriores, Tudo isso levou um estudo re-
tanto o Comandante da Força e o cente a estimar que a economia
seu staff, como os navios envolvi- marítima nacional represente, den-
dos – as fragatas Álvares Cabral e tro de 15 anos, cerca de 10 a 12%
Corte Real – prestigiaram de for- do PIB e do emprego nacionais, o
ma bem marcada a Marinha e o que equivalerá a cerca de 20 a 25
País. Temos agora outros desafios mil milhões de euros e a mais de
importantes pela frente, em que meio milhão de empregos. É um
avultam o comando da EURO- potencial que o País não pode des-
MARFOR, que assumimos em Se- perdiçar. Para a concretização des-
tembro de 2009, por um período se desígnio, Portugal pode sempre
de 2 anos, e o comando da força contar – agora, como no passado
naval da União Europeia empe- e no futuro – com a sua Marinha.
nhada na Operação ATALANTA,
destinada a combater a pirataria Uma Marinha capaz de contri-
marítima no Corno de África e na buir para a defesa militar e para a
bacia da Somália, que assumire- garantia do uso do mar em benefí-
mos entre Abril e Agosto de 2011. cio de Portugal e dos Portugueses.
São desafios em que vamos ter que Por isso pugnei durante quarenta e
evidenciar a competência, a capa- cinco anos e, com responsabilida-
cidade e o espírito de missão a que des acrescidas, nos últimos cinco.
habituámos o País. Se é certo que muito há para fazer,
julgo poder afirmar, com orgulho,
Ilustres e distintos convidados, que entregarei uma Marinha mais
Militares, militarizados e civis da Marinha preparada para enfrentar os desa-
Tracei-vos uma breve avaliação do passado recente e das perspectivas fios que despontam no horizonte,
futuras nos âmbitos genético, estrutural e operacional. Como Comandan- dando, na senda da nossa tradição
te da Marinha, estou profundamente orgulhoso do que conseguimos para naval, continuidade ao relevan-
que os portugueses possam usar o mar, pois ele é, como sempre tenho te legado dos meus ilustres antecessores.
dito, o factor físico cujo potencial nos individualizou no passado, nos dá Os resultados alcançados só foram possíveis graças à qualidade e dedi-
liberdade de acção no presente e que pode projectar o nosso desenvolvi- cação daqueles que vivem a Marinha de forma intensa e abnegada, cuja
mento no futuro. postura de serviço a Portugal e aos Portugueses é incontestável. O orgulho
Com efeito, o mar tem sido, desde a fundação da nação, o grande ele- que sinto e que, penso, todos sentem pelo muito que temos concretizado,
mento identitário de Portugal, estando presente em todos os capítulos dou- tem que ser um estímulo para enfrentar os desafios que se aproximam. A
rados da nossa História, que, segundo Jaime Cortesão, “se pode resumir a rota futura não se apresenta despida de perigos para a navegação. Antes
uma série de esforços para o aproveitamento das possibilidades atlânticas pelo contrário!
do território”. Estou, contudo, seguro de que, com as bases sólidas que se têm vin-
É o mar, o nosso mar, que liga as diversas parcelas do território nacional. do a construir e sedimentar, a Marinha sabe o que quer e para onde vai e
É ele que constitui o elo de ligação ao mundo lusófono e aos nossos está bem preparada para enfrentar os exigentes, mas estimulantes, desa-
aliados. fios do futuro.
É pelo mar que circula 60% do nosso comércio externo. Para quem sabe onde está e para onde quer ir, só determinados ventos
É por mar que nos chegam 70% das nossas importações. lhe servem: os da Honra, da Liberdade, da Justiça e do espírito de bem ser-
É o mar que garante a nossa segurança energética, uma vez que recebe- vir Portugal e os portugueses.
Certo estou que a seguir ao tempo, outro tempo virá.
Termino desejando a todos “BonsVentos e Mar de Feição!
Fernando de Melo Gomes
Almirante
REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2010 7