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Curso de Emergência em Combate
Decorreu no passado mês de Fevereiro,
no Centro de Simulação Médica da esta “limitação” desenvolvendo meios de actua das vítimas está totalmente dependente da ca-
Marinha (CSMM), a primeira edição ção próprios que permitissem o socorro eficaz pacidade de resposta e dos conhecimentos dos
do Curso de Emergência em Combate (ASS30). e atempado em alto mar. próprios indivíduos envolvidos no combate.
Este curso, com a duração total de 36 ho- A importância da concretização do Curso de O equipamento disponível no “kit” de so-
ras distribuídas por 6 dias (10 horas teóricas e Emergência em Combate (ASS30), ultrapassa a corrismo é também menor que os dispositivos
26 horas práticas), foi ministrado por oficiais e regular formação em socorrismo, por se tratar médicos de qualquer infraestrutura de saúde,
sargentos das classes de médicos navais (MN), dum curso inédito, com um conteúdo especí- por mais simples que seja, mas o domínio das
enfermeiros (HE), fuzileiros (FZ) e mergulha- fico e exigente, vocacionado para o ambiente técnicas capazes de salvar uma vida humana é
dores (U). de combate. Resulta dum longo trabalho de um objetivo possível para o qual se direcionou
pesquisa, adaptação e reflexão no sentido de
O objetivo é dotar oficiais, sargentos adequar os conhecimentos de socorrismo uni- toda a conceção do cursoASS30 – Emer-
e praças da Marinha Portuguesa com versalmente aceites à realidade da guerra e da gência em Combate.
o conhecimento e competências téc- Marinha Portuguesa.
nicas necessárias ao desempenho de Globalmente pretende-se minimizar a
funções de socorrismo sob fogo, sobre- Os contextos militar e civil apresentam dife- vulnerabilidade dos militares sem redu-
tudo os que participam em missões de renças significativas na abordagem de situações zir os padrões de desempenho. Os três
maior risco. de emergência médica: numa sala de emergên- objetivos-chave do curso são: (1) trata-
cia hospitalar assistir uma vítima de trauma é a mento do ferido, (2) prevenção de feridos
Considerando a tipologia das opera- missão principal, em cenário de guerra essa as- adicionais e (3) cumprimento da missão.
ções em que o isolamento dos militares sistência é apenas uma parte. As competências táticas e de emergência
longe das linhas amigas (ações de pro- pré-hospitalar são ensinadas e treinadas
fundidade) é mais provável, o risco de Os prestadores de cuidados no contexto mi- neste curso, agrupadas em três fases dis-
ocorrência de incidentes na atividade litar e civil diferem grandemente. Em contexto tintas: (1) primeiros-socorros sob fogo, (2)
operacional é maior. de guerra, o primeiro-socorro e estabilização socorro no terreno tático e (3) evacuação
tática de feridos em combate.
Dado que a evacuação dum militar
em operação pode ser mais demorada, Numa primeira fase, em que se veri-
este curso visa facultar uma formação fiquem vítimas em combate, as funções
mais exigente em termos de suporte de do socorrista resumem-se a orientar o
vida.Assim como um maior domínio da próprio ferido para se auto-socorrer e
utilização de recursos/dispositivos médi- transportá-lo para um abrigo quando
cos no terreno quando comparado com possível, mantendo-se ambos a salvo
outros cursos de socorrismo também mi- do fogo hostil.
nistrados no CSMM.
Quando a vítima estiver segura, é pres-
Neste sentido, foram nomeados oito tado o socorro visando a sua estabiliza-
fuzileiros que integram o Destacamento ção e posterior evacuação. O choque
de Ações Especiais (DAE), Batalhão Nº2 hipovolémico por hemorragia de feridas
e Escola de Fuzileiros e três mergulhado- nos membros, o pneumotórax hiperten-
res do Destacamento de Mergulhadores sivo e os traumas associados à via aérea
Sapadores. são considerados as causas de morte
evitáveis em combate mais frequentes.
O desenho do curso e o desenvolvi- O perfeito domínio da atuação nestas
mento dos seus conteúdos – o manual situações específicas é o tema princi-
dos alunos, as aulas teóricas, os cená- pal das componentes teórica e prática
rios práticos e os métodos de avaliação - do ASS30.
efetuaram-se em estreita colaboração do
CSMM com o Centro de Medicina Naval Por fim, a fase de evacuação tática,
(representado pelo 1TEN MN Duarte e que inclui o relato verbal e escrito sobre
Silva), com o Corpo de Fuzileiros (1SAR o incidente e os cuidados de socorro já
FZ Miranda Neto) e com a Esquadrilha prestados à vítima, termina com a trans-
de Submarinos (SAJ H Dias Melo). ferência da vítima para a equipa médica
e o seu transporte para terreno não hostil.
O curso tem por base as orientações
mais recentes do Tactical Combat Ca Tratando-se duma primeira edição, fo-
sualty Care (TCCC), concebido em 1996 ram naturalmente identificados conteú
pelo Comando Conjunto de Operações dos e cenários de aprendizagem práti-
Especiais norte-americano como resposta à ne- ca que podem ser otimizados. Decorre
cessidade de associar ao AdvancedTrauma Life ainda o debriefing do curso com o objetivo de
Support (ATLS) e ao PrehospitalTrauma Life Sup que o feedback dos alunos e dos formadores,
port (PHTLS) a componente prática e tática dos vertido nos opinogramas preenchidos por todos,
cenários de guerra, nomeadamente visibilidade permita aperfeiçoar o Curso de Emergência em
reduzida, sob fogo inimigo, temperaturas extre- Combate de forma a ir ao encontro da realida-
mas, ambientes e terrenos áridos e pantanosos, de da nossa Marinha e eventualmente vir a tor-
entre outros. nar esta formação num instrumento conjunto e
combinado, disponível a outros ramos das For-
Também em Portugal, o ensino de primeiros- ças Armadas, Forças de Segurança nacionais e
-socorros assenta no pressuposto da proximida- países da CPLP.
de à estrutura de assistência hospitalar. A Ma-
rinha, através do treino e avaliação contínuos
das Unidades Navais, sempre tentou contornar Filipa Albergaria
1TEN MN
REVISTA DA ARMADA • MAIO 2012 23