Page 23 - Revista da Armada
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Curso de Emergência em Combate
Decorreu no passado mês de Fevereiro,
        no Centro de Simulação Médica da           esta “limitação” desenvolvendo meios de actua­    das vítimas está totalmente dependente da ca-
        Marinha (CSMM), a primeira edição          ção próprios que permitissem o socorro eficaz     pacidade de resposta e dos conhecimentos dos
do Curso de Emergência em Combate (ASS30).         e atempado em alto mar.                           próprios indivíduos envolvidos no combate.

  Este curso, com a duração total de 36 ho-          A importância da concretização do Curso de        O equipamento disponível no “kit” de so-
ras distribuídas por 6 dias (10 horas teóricas e   Emergência em Combate (ASS30), ultrapassa a       corrismo é também menor que os dispositivos
26 horas práticas), foi ministrado por oficiais e  regular formação em socorrismo, por se tratar     médicos de qualquer infraestrutura de saúde,
sargentos das classes de médicos navais (MN),      dum curso inédito, com um conteúdo especí-        por mais simples que seja, mas o domínio das
enfermeiros (HE), fuzileiros (FZ) e mergulha-      fico e exigente, vocacionado para o ambiente      técnicas capazes de salvar uma vida humana é
dores (U).                                         de combate. Resulta dum longo trabalho de         um objetivo possível para o qual se direcionou
                                                   pesquisa, adaptação e reflexão no sentido de
  O objetivo é dotar oficiais, sargentos           adequar os conhecimentos de socorrismo uni-              toda a conceção do cursoASS30 – Emer-
e praças da Marinha Portuguesa com                 versalmente aceites à realidade da guerra e da           gência em Combate.
o conhecimento e competências téc-                 Marinha Portuguesa.
nicas necessárias ao desempenho de                                                                             Globalmente pretende-se minimizar a
funções de socorrismo sob fogo, sobre-               Os contextos militar e civil apresentam dife-          vulnerabilidade dos militares sem redu-
tudo os que participam em missões de               renças significativas na abordagem de situações          zir os padrões de desempenho. Os três
maior risco.                                       de emergência médica: numa sala de emergên-              objetivos-chave do curso são: (1) trata-
                                                   cia hospitalar assistir uma vítima de trauma é a         mento do ferido, (2) prevenção de feridos
  Considerando a tipologia das opera-              missão principal, em cenário de guerra essa as-          adicionais e (3) cumprimento da missão.
ções em que o isolamento dos militares             sistência é apenas uma parte.                            As competências táticas e de emergência
longe das linhas amigas (ações de pro-                                                                      pré-hospitalar são ensinadas e treinadas
fundidade) é mais provável, o risco de               Os prestadores de cuidados no contexto mi-             neste curso, agrupadas em três fases dis-
ocorrência de incidentes na atividade              litar e civil diferem grandemente. Em contexto           tintas: (1) primeiros-socorros sob fogo, (2)
operacional é maior.                               de guerra, o primeiro-socorro e estabilização            socorro no terreno tático e (3) evacuação
                                                                                                            tática de feridos em combate.
  Dado que a evacuação dum militar
em operação pode ser mais demorada,                                                                            Numa primeira fase, em que se veri-
este curso visa facultar uma formação                                                                       fiquem vítimas em combate, as funções
mais exigente em termos de suporte de                                                                       do socorrista resumem-se a orientar o
vida.Assim como um maior domínio da                                                                         próprio ferido para se auto-socorrer e
utilização de recursos/dispositivos médi-                                                                   transportá-lo para um abrigo quando
cos no terreno quando comparado com                                                                         possível, mantendo-se ambos a salvo
outros cursos de socorrismo também mi-                                                                      do fogo hostil.
nistrados no CSMM.
                                                                                                               Quando a vítima estiver segura, é pres-
  Neste sentido, foram nomeados oito                                                                        tado o socorro visando a sua estabiliza-
fuzileiros que integram o Destacamento                                                                      ção e posterior evacuação. O choque
de Ações Especiais (DAE), Batalhão Nº2                                                                      hipovolémico por hemorragia de feridas
e Escola de Fuzileiros e três mergulhado-                                                                   nos membros, o pneumotórax hiperten-
res do Destacamento de Mergulhadores                                                                        sivo e os traumas associados à via aérea
Sapadores.                                                                                                  são considerados as causas de morte
                                                                                                            evitáveis em combate mais frequentes.
  O desenho do curso e o desenvolvi-                                                                        O perfeito domínio da atuação nestas
mento dos seus conteúdos – o manual                                                                         situações específicas é o tema princi-
dos alunos, as aulas teóricas, os cená-                                                                     pal das componentes teórica e prática
rios práticos e os métodos de avaliação -                                                                   do ASS30.
efetuaram-se em estreita colaboração do
CSMM com o Centro de Medicina Naval                                                                            Por fim, a fase de evacuação tática,
(representado pelo 1TEN MN Duarte e                                                                         que inclui o relato verbal e escrito sobre
Silva), com o Corpo de Fuzileiros (1SAR                                                                     o incidente e os cuidados de socorro já
FZ Miranda Neto) e com a  Esquadrilha                                                                       prestados à vítima, termina com a trans-
de Submarinos (SAJ H Dias Melo).                                                                            ferência da vítima para a equipa médica
                                                                                                            e o seu transporte para terreno não hostil.
  O curso tem por base as orientações
mais recentes do Tactical Combat Ca­                                                                           Tratando-se duma primeira edição, fo-
sualty Care (TCCC), concebido em 1996                                                                       ram naturalmente identificados conteú­
pelo Comando Conjunto de Operações                                                                          dos e cenários de aprendizagem práti-
Especiais norte-americano como resposta à ne-                                                               ca que podem ser otimizados. Decorre
cessidade de associar ao AdvancedTrauma Life                                                         ainda o debriefing do curso com o objetivo de
Support (ATLS) e ao PrehospitalTrauma Life Sup­                                                      que o feedback dos alunos e dos formadores,
port (PHTLS) a componente prática e tática dos                                                       vertido nos opinogramas preenchidos por todos,
cenários de guerra, nomeadamente visibilidade                                                        permita aperfeiçoar o Curso de Emergência em
reduzida, sob fogo inimigo, temperaturas extre-                                                      Combate de forma a ir ao encontro da realida-
mas, ambientes e terrenos áridos e pantanosos,                                                       de da nossa Marinha e eventualmente vir a tor-
entre outros.                                                                                        nar esta formação num instrumento conjunto e
                                                                                                     combinado, disponível a outros ramos das For-
  Também em Portugal, o ensino de primeiros-                                                         ças Armadas, Forças de Segurança nacionais e
-socorros assenta no pressuposto da proximida-                                                       países da CPLP.
de à estrutura de assistência hospitalar. A Ma-
rinha, através do treino e avaliação contínuos                                                                                                          
das Unidades Navais, sempre tentou contornar                                                                                       Filipa Albergaria

                                                                                                                                                       1TEN MN

                                                                                                     REVISTA DA ARMADA • MAIO 2012 23
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