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HIERARQUIA DA MARINHA 16
DISTINTIVOS MILITARES
Na segunda metade do século XVIII, du- sómente de dois galões de ouro lavrados, e abertos, hum tenho determinado: Sou servido outrosim dispensar a
rante o período de governação do mar- deles da largura assima referida, que se porá direito, sem Pragmatica para os sobreditos effeitos sómente, ficando
quês de Pombal, foram implementadas outra alguma figura, que não seja a que requer a guar- aliás em seu vigor. E considerando que nenhum vesti-
grandes reformas na Marinha e no Exército . Are- nição dos bolsos, e o outro mais estreito á borda, sendo do póde haver mais nobre, nem mais digno de entrar
gulamentação dos distintivos militares a usar nos as vestias na mesma fórma, e os botões, e casas como na minha Corte, do que os uniformes Militares: Orde-
uniformes militares, decretada pelo rei D. José, assima tambem fica declarado: os Sargentos Móres de no, que depois das ordens expedidas em execuçaõ des-
em 27 de Abril de 1761, foi uma das primeiras Batalha usaraõ de um só galão tambem lavrado, e aber- te, nenhum General, Official de Patente, Subalterno,
medidas indiciadoras dos novos tempos, mar- to, e assentado na mesma conformidade em casacas, e e Soldado, ou pessoa de qualquer qualidade, ou condi-
cados pelo génio do grande ministro. Pelo seu vestias com abotoaduras iguais ás sobreditas: os Briga- ção que seja, com exercicio nas Minhas Tropas, ou sem
interesse histórico, transcreve-se o texto do res- deiros, e Coroneis do mar, usaraõ em casacas, e vestias ele, vencendo soldo militar, possa vir á minha presença
pectivo decreto. das mesmas abotoaduras com hum galão á borda liso, e nas funções públicas, ou audiencias com outros vesti-
fechado, que tenha dois dedos e meio de largura: os Co- dos, que não sejam os seus respectivos uniformes, ou
«Atendendo aos inconvenientes que resultaõ de naõ ronéis das Tropas de terra, e Capitães de Mar e Guerra, fardas, sob pena de perdimento do posto, ou praça, que
haver disposiçaõ que regule as distincções, de que nos usaraõ de hum galaõ lizo de ouro, ou de prata, segundo tiverem até nova mercê Minha. Exceptuo as pessoas,
seus uniformes devem usar os Generaes, e Officiaes Mi- os seus respectivos uniformes, de dedo e meio de largu- que em razaõ dos seus empregos políticos me acompa-
litares: Sou servido, que da publicação deste Decreto em ra, posto á borda com casas da cor da farda, e botões de nharem nos dias em que forem chamados, e isto sómente
diante, o Capitaõ General dos Galeões da Minha Arma- metal. Todos os outros Officiais de Patente usaraõ de quando nos avisos, que lhes forem feitos para esse fim,
da Real de alto bordo; os Mestres de Campos Generaes, hum só galão estreito á borda na vestia, e sendo lavrado, se lhes declararem os vestidos, com que devem assistir-
que tiverem Patente, ou exercício de Governadores das e aberto o dos Tenentes Coroneis, Capitães Tenentes, e -me, posto que sejaõ Militares. O Conselho de Guerra
Armas nas suas respectivas Províncias, usem de ala- Sargentos Móres; e lizo o dos Capitães: os Ajudantes de o tenha assim entendido, e faça expedir nesta conformi-
mares de ouro nas casacas com galaõ de três dados de Campo, que forem do Capitaõ General da Minha Arma- dade as ordens necessárias. Nossa Senhora da Ajuda a
largura á borda, e nas vestias de hum galaõ da mesma da, e dos Generaes, que governarem o Exercito, ou tive- vinte e sete de Abril de mil setecentos e sessenta e um.»
largura também á borda, com guarniçaõ nos bolsos, rem a seu cargo os governos das Provincias, usaraõ nos
sendo tudo guarnecido com casas de ouro, e botões de seus uniformes da guarniçaõ, que, segundo a Patente
metal dourado: Os Mestres de Campo Generaes, ou se que tiverem, lhe competir, pelo que neste meu Decreto,
achem com exercicio dos seus postos, ou sem ele, usaraõ António Silva Ribeiro
CALM
VIGIA DA HISTÓRIA 43
PRISÃO EM HAMBURGO
Recordando o Zé Heitor, companheiro de aventura
Naquele Verão de 1973 tudo se propiciava Descontando os primeiros dias tudo parecia facilmente compreensível de certeza que não
para ser uma agradável viagem a bordo corresponder às expectativas iniciais que, adivi- o teríamos acompanhado até uma sala onde
do NRP Sagres; na verdade para quem nhava-se, iam ser superadas na escala seguinte aguardámos o desenrolar dos acontecimentos.
acabara de chegar de uma comissão na Guiné em Hamburgo, local onde a Sagres havia sido
pouco haveria que não fosse agradável, quanto construída e onde voltava pela primeira vez os- Tanto quanto me lembro, a resolução da si-
mais uma viagem pelo Norte da Europa. Logo tentando pavilhão estrangeiro. tuação passou pela intervenção das entidades
de início, no trajecto para Vigo, houve que supor- diplomáticas, que levaram o guarda a desistir
tar mau tempo, o vento de proa era de tal forma Na véspera da chegada, eu e um “filho da es- da prisão que efectuara a dois contrabandistas .
queachungosa1 levou5diasavenceradistância. cola“ fomos escolhidos para representar o navio
junto dos militares portugueses deficientes que Regressados a bordo e perante a impossi-
Já a Mancha parecia um lago, no qual, ao na- estavam em tratamento num hospital militar bilidade de transportarmos os pacotes, logo
vegar com o pano todo, a Sagres era um chama- em Hamburgo. se pôs em prática um plano alternativo que
riz para os navios de turismo, os Mirage da força consistiu no transporte, por grande número
aérea francesa e até um submarino nuclear que Em contacto com o Adido Militar português de membros da guarnição, de dois maços de
se vieram posicionar a “barlafotografia” para soubemos que aqueles militares tinham, na cigarros cada um, que iam depositando no
mais tarde recordar.Aestadia no Havre foi bas- maioria dos casos, grandes dificuldades eco- porta-bagagens do carro que nos haveria de
tante curiosa, face à recusa da autarquia em rece- nómicas, não sendo o dinheiro suficiente para, transportar e que se encontrava estacionado
ber um navio de guerra português, a autarquia inclusive, comprar cigarros. Face a esta infor- longe do cais em lugar fora de vista. A alegria
era maioritariamente comunista, a Marinha mação, logo nos prontificámos a oferecer uns com que fomos recebidos, e que no dia seguin-
francesa destacou vários oficiais e sargentos de pacotes de cigarros. te, em almoço a bordo da Sagres, se voltou a
ligação, todos eles falando português e propor- manifestar, compensou totalmente aqueles
cionou um programa de visitas diárias a Paris À hora aprazada lá saímos do navio carre- longos minutos de prisão.
e às praias da Normandia. A saída do Havre , gando, cada um, uns sacos de plástico com os
efectuada , desde a largada do cais, unicamente pacotes de cigarros a oferecer e quando nos
à vela, despertou uma onda de entusiasmo en- aprestávamos para sair do cais eis que surge um Com. E. Gomes
tre as largas centenas de espectadores que, no guarda vociferando, num dialecto que para os
cais e na eclusa, não se cansaram de aplaudir alemães era certamente perceptível e compreen Notas
com especial relevo para um grupo de velhos sível mas que para nós, por incompreensível, até 1 Designação dada, ao tempo, ao propulsor do navio.
marinheiros da Associação dos Cap Horniers2. poderia ser chinês. 2 Designação dada aos homens do mar que passaram
Não fora o grande “pistolão“ que ameaça- o Cabo Horn.
doramente empunhava e cuja linguagem era
N.R.
O autor não adota o novo acordo ortográfico.
REVISTA DA ARMADA • MAIO 2012 27