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Atribuição da Ordem Militar de Cristo
ao NRP Sagres
FUNDAMENTO
De acordo com o legado que nos foi namentos dos egrégios navegadores portu- Foto Luís Miguel CorreiaUnião Soviética: Leninegrado, actual S. Pe-
transmitido, a ponta de Sagres cons- gueses de antanho. tersburgo (1975). Foi igualmente o primeiro
tituiu sede da mítica Escola edifica- navio de uma Marinha ocidental a visitar um
da pelo Infante D. Henrique, que esteve na Ao serviço de Portugal e da Marinha Por- porto na China, Xangai (1983), depois da re-
génese daquele que identificamos como o tuguesa, o NRP Sagres efectuou, até à data, volução que teve lugar naquele país em 1949.
período áureo da História de Portugal. mais de 150 viagens, navegando pelos oce-
anos Atlântico, Pacífico e Índico, mares do Em 2012, no dia 8 de Fevereiro, cumpriu-
Se a muitos povos o Mar Oceano inicial- Norte, das Caraíbas, do Japão, da China, -se meio século desde que o actual NRP Sa-
mente intimidou, para os insignes marinhei- Mediterrâneo, Arábico, Báltico, Vermelho e gres içou, pela primeira vez, a bandeira por-
ros lusos constituiu apenas mais um desafio Amarelo, a que juntou 31 passagens da Li- tuguesa. Com efeito, vai para 50 anos que
gizado à medida da sua própria existência nha do Equador. presta os mais relevantes serviços a Portugal,
e ambição. A bordo dos seus frágeis navios, sendo, com toda a justiça, conhecido como o
caracterizados pela purpúrea Cruz de Cris- Frequentemente em articulação com a Pre- nosso Embaixador Itinerante. Além da sólida
to nas alvas velas, ou- sidência da República e com o Governo, tem
saram dar novos mun- prestado um importante apoio à participa- formação que propor-
dos ao mundo. Da sua ção de Portugal em diversos eventos inter- ciona aos cadetes da
gesta nos séculos XV e nacionais como a Expo Mundial em Nova Escola Naval – também
XVI, resultou a afirma- Iorque (1964), o bicentenário da Independên- ela herdeira dos prin-
ção de Portugal como cia dos Estados Unidos (1976), o bicentená- cípios cultivados pelo
primeira potência ma- rio da Estátua da Liberdade (1986), o Festival Infante D. Henrique –,
rítima à escala global. Cabrilho em S. Diego (1978, 1983 e 1992), as o NRP Sagres constitui
comemorações de Jacques Cartier no Cana- ainda o pedaço de solo
Cinco séculos mais dá (1984), as celebrações do Desembarque da pátrio que enche de or-
tarde, o navio-esco- Normandia em Rouen (1989), os 500 anos da gulho os nossos imi-
la da Marinha Portu- descoberta daAmérica (1992), os 450 anos da grantes, aquando da
guesa era, com toda a chegada dos portugueses ao Japão (1993), visita do navio aos seus
propriedade, baptiza- as comemorações do descobrimento do ca- países de acolhimento.
do com o nome Sagres, minho marítimo para a Índia por Vasco da
passando, pouco tem- Gama (1998), as comemorações do Descobri- Com três voltas ao
po depois, a ostentar mento do Brasil por Álvares Cabral (2000), a mundo realizadas, 180
como figura-de-proa o cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos portos e 60 países vi-
Infante D. Henrique e em Atenas (2004), o bicentenário da Batalha sitados, quase 600 000
a exibir nas velas as fa- de Trafalgar (2005), o bicentenário das inde- milhas navegadas e
mosas Cruzes de Cris- pendências dos países da América do Sul centenas de milhar de
to, que se tornaram no (2010) ou a Expo de Xangai (2010). visitantes acolhidos a
seu ex-libris. bordo, o NRP Sagres
Num mundo em constante mudança, cou- é, presentemente, um dos veleiros mais co-
O actual navio-escola Sagres foi adquiri- be ao NRP Sagres ser o primeiro navio da nhecidos em todo o mundo, tendo inclusiva-
do em 1961, no sentido de dar continuidade Marinha Portuguesa a visitar Goa (1979), mente acolhido a bordo inúmeros visitantes
ao extraordinário legado do seu antecessor depois da anexação daqueles territórios por- ilustres, desde presidentes da república, pri-
(1924-1961), dele herdando todos os sím- tugueses pela Índia em 1961, tendo também meiros-ministros, reis, príncipes, bem como
bolos, incluindo o próprio nome. Constru- sido o único a visitar um porto na antiga figuras ímpares da cultura como a fadista
ído em Hamburgo, na Alemanha, foi lan- Amália Rodrigues, o Captain Alan Villiers, o
çado à água no dia 30 de Outubro de 1937, pintor Roger Chapelet, o jornalista Fernan-
atingindo em 2012 a provecta idade de 75 do Pessa ou o realizador Manoel de Olivei-
anos – número raro mesmo para um navio ra, que a bordo deixaram o seu testemunho
– depois de anteriormente haver navegado no Livro de Honra do navio.
como navio-escola com as bandeiras alemã De forma ímpar e conferindo expressão ao
(1937-1945) e brasileira (1948-1961), com os importante legado de nação marítima que nos
nomes de Albert Leo Schlageter e Guanabara, caracteriza, o NRPSagres consagrou, ao longo
respectivamente. de meio século, os mais proeminentes e dis-
tintos serviços a Portugal e aos portugueses,
O navio arvorou pela primeira vez a ban- contribuindo, desta forma, para o enalteci-
deira portuguesa em 8 de Fevereiro de 1962. mento da nossa história, para a afirmação da
Desde esse ano, à excepção de 1987 e 1991 – nossa cultura e para a difusão dos nossos va-
anos em que foi sujeito a importantes acções lores. Constitui, por isso, um símbolo e uma
de manutenção e modernização –, todos os referência de Portugal e de todos os portugue-
cursos da Escola Naval tiveram o privilégio ses – tanto dos cerca de 10 milhões que habi-
de efectuar a sua grande viagem de instru- tam o território nacional como dos cerca de 5
ção a bordo do NRP Sagres, pondo em prá- milhões espalhados pela diáspora.
tica os seus conhecimentos teóricos (nome-
adamente os respeitantes à marinharia e à
navegação costeira e astronómica) e estabe-
lecendo, dessa forma, a ponte com os ensi- Proposta de fundamento apresentada pela Marinha
em outubro de 2011
REVISTA DA ARMADA • MAIO 2012 5