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A CAPACIDADE DE RESPOSTA DA MARINHA

PRONTIDÃO, FLEXIBILIDADE E MOBILIDADE
Em 14 de abril largaram da BNL, para uma
     missão de evacuação de cidadãos nacio-        dade, consubstanciada na liberdade de uso dos tiva da capacidade de resposta da Marinha. No
     nais na República da Guiné-Bissau, os         mares, e também uma característica própria das entanto, caso venham a descurar-se determina-
NRP Vasco da Gama, NRP Baptista de Andra-          forças navais, torna-as particularmente úteis em dos aspetos fundamentais, a prontidão, flexibili-
de e NRP Bérrio.A bordo, além das guarnições,      tais quadros de atuação.                          dade e mobilidade ora demonstradas, poderão
seguiram uma Força de Fuzileiros de Escalão        Por outro lado, é inerente às forças navais, a não se manter no futuro.
Companhia (com elementos de comando, ma-           possibilidade dos meios e unidades poderem A questão da prontidão coloca-se, principal-
nobra, apoio de combate, apoio de serviços,        atender a diferentes desafios, adaptando as mente,emtermosdadisponibilidadeedoestado
assalto anfíbio e ações especiais), equipas de     suas valências e reconfigurando os seus perfis do material2, e da existência de pessoal treinado
mergulhadores, equipa médica e, dois helicóp-      de atua­ção, para dar a melhor resposta a cada e motivado. Só garantindo todos os requisitos an-
teros Lynx. Dois dias mais tarde, juntou-se-lhes   novo quesito operacional. Esta flexibilidade de teriores se conseguirão promover níveis de con-
ainda o NRP Bartolomeu Dias, onde embarca-         uso é uma solução essencial para o caráter in- fiança e as perícias adequadas para assegurar um
ram o comandante e estado-maior da Força de        certo, quanto à forma, das ameaças, relevan- desempenho seguro e eficaz.A flexibilidade está
Reação Imediata. A força naval assim               do a importância das Marinhas neste contexto. associada à versatilidade e, logo, aos padrões de
constituída reuniu um total aproxima-                                                                   prontidão, que são a base da organi-
do de 800 militares da Marinha.                                              NRP BARTOLOMEU DIAS zação interna das unidades. A flexibi-
                                                                                                        lidade depende dos mecanismos de
  O envio desta força constituiu a                                                                      decisão, da gestão dos processos inter-
pronta resposta de Portugal à situação                                                                  nos, e da apreensão destes pelas guar-
que se vivia naquele país africano, obri-                                                               nições. Para isso é fundamental muito
gação que decorre das responsabilida-                                                                   treino! A mobilidade está relacionada
des do Estado expressas na Lei da De-                                                                   com meios, logo com o processo de
fesa Nacional. Mas esta missão pode                                                                     planeamento e edificação de forças.
também ser entendida num propósito                                           NRP VASCO DA GAMA Mas depende, em igual medida, da
mais abrangente, por permitir a Portu-                                                                  mestria das guarnições, logo do trei-
gal afirmar-se numa área de incontes-                                                                   no individual e de força. A indisponi-
tável interesse estratégico, onde, um                                                                   bilidade de um AOR condiciona os
passado comum, uma diplomacia ati-                                                                      movimentos, a sustentação e a capa-
va, e ações de cooperação conduzidas                                                                    cidade de emprego das forças navais.
de forma permanente, permitiram ge-                                                                     Mesmo que os navios tenham atingi-
rar laços de confiança mútua, que hoje                                       NRP BAPTISTA DE ANDRADE do elevados padrões de desempenho
facilitam a aceitação do nosso país na                                                                  ao nível do RAS3 tal de nada servirá se
mediação de crises e/ou de conflitos.                                                                   não existir um reabastecedor. E caso
                                                                                                        este exista, de nada servirá à força se
  Aceitando como bons tais argu-                                                                        esta não estiver proficiente em RAS.
mentos, terá sido o emprego de meios                                                                    A exigência ao nível do treino, e a
e unidades da Marinha, a opção mais                                                                     necessidade de se manterem eleva-
adequada?                                                                    NRP BÉRRIO dos padrões, ao nível da disponibi-
                                                                                                        lidade e do estado do material, rele-
  Para responder a esta pergunta, im-                                                                   vam como denominadores comuns à
porta recordar que a natureza imprevi-                                                                  capacidade de resposta da Marinha.
sível, no espaço e no tempo, dos fatores                                                                Estes desígnios não podem ser negli-
que podem perturbar a segurança e a                                                                     genciados, devendo, por isso, supe-
estabilidade internacionais, só pode ser                                                                rintender às opções de gestão e de-
devidamente combatida se se dispuser                                                                    terminar a consonância de esforços.
de uma capacidade de resposta pronta.              No caso em apreço, a rapidez na resposta, e Na realidade, só a noção de propósito e a
As características intrínsecas do Poder            a configuração modular da força, materializam, unidade no esforço poderão gerar a força que
Naval permitem que as Marinhas, através das        simultaneamente, os requisitos de prontidão, a Marinha necessita, para estar pronta, quando
suas forças, mantenham um elevado grau de          que respondem à imprevisibilidade, e de flexi- e onde Portugal dela necessitar, continuando a
prontidão, i.e., disponibilidade de meios hu-      bilidade, que respondem à incerteza.A inclusão merecer o reconhecimento dos mais elevados
manos e materiais, para empregar num curto         do reabastecedor de esquadra (AOR) garantiu responsáveis de Portugal:
espaço de tempo, e em teatros de operações         a sustentação, logo a mobilidade, terceiro fator “Reconheço e agradeço a todos os militares
diversificados e longínquos.                       fundamental para a projeção de poder. De facto, envolvidos o relevante serviço que prestaram a
                                                   para períodos prolongados de permanência no Portugal e aos portugueses” (mensagem do Pri-
  A este propósito, interessa não esquecer, que    mar, a satisfação das necessidades logísticas de meiro-ministro, por ocasião da chegada da FRI).
no mundo globalizado de hoje, a localização        uma força naval1 só pode ser assegurada com
geográfica de uma ocorrência não lhe confere,                                                                               
necessariamente, um cariz regional. A interde-     uma escala num porto da área de operações,           CMG L. Sousa Pereira
pendência dos fenómenos, seja nas causas ou
nas consequências, induz nos estados a respon-     logo dependendo do apoio de terceiros, ou pela       CTEN P. Gonçalves Simões
sabilidade, moral e ética, de participarem em so-  presença de umAOR. Nesta ótica, o reabastece- Notas
luções internacionais de natureza cooperativa,     dor confere a uma força independência logística 1 Em particular o reabastecimento de combustível, o
pois mesmo quando não estão diretamente en-        relativamente a apoios externos, o que reflete a  completamento das dotações de mísseis, torpedos e mu-
volvidos numa determinada situação, poderão        capacidade do Estado atuar de forma autónoma.     nições, e o fornecimento de determinados sobressalentes.
vir a ser afetados por ela. Intervir, em espaços
geográficos distantes, passou assim a constituir     Esta missão, à semelhança de outras que            2 Em resultado das ações de manutenção planeada
um requisito da ação dos estados, e a mobili-      ocorreram num passado recente, é bem ilustra-     ou corretiva.

                                                                                                        3 Replenishment at Sea (reabastecimento no mar).

10 JUNHO 2012 • REVISTA DA ARMADA
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