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REFLEXÃO ESTRATÉGICA						                                                                       3

Mahan e a necessidade das Armadas
Otrabalho mais famoso de Alfred T.
         Mahan, The Influence of Sea Power       do. Como factor determinante para alcançar      operar a força naval, Mahan reconhece­ a
         Upon History, 1660-1783, revela         o comando do mar, Mahan identifica o con-       necessidade de obter bases, onde os n­avios
claramente que, no essencial, o seu pensa-       ceito do controlo do mar, cuja intensidade      se possam abrigar, ser reparados e reabas-
mento assenta em quatro ideias estratégicas,     pode variar entre a destruição e a neutrali-    tecidos.
encadeadas de forma lógica e interdepen-         zação da força naval inimiga.
dente, direccionadas para sustentar a neces-                                                       Esta ideia estratégica atende ao facto de,
sidade das armadas.                                Na terceira ideia estratégica, para o Es-     no inverno, o estado do mar dificultar bas-
                                                 tado garantir o comando do mar, Mahan,          tante a perseguição e o combate à força na-
  Na primeira ideia estratégica, Mahan assu-     inspirado em Jomini, elege a concentração       val inimiga. Para além disso, contempla a
me que, para o Estado aumentar a sua pros-       da força como o princípio determinante da       necessidade dos navios serem submetidos a
peridade e se afirmar internacionalmente,        operação da força naval.                        reparações que mantenham o seu potencial
necessita de fortalecer o poder marítimo.                                                        de combate. Considera, ainda, que algumas
                                                   Esta ideia estratégica confere primazia ao    áreas de operação podem ficar muito longe
  Esta ideia estratégica confere primazia ao     princípio da concentração da força naval.       dos portos de armamento, e que os navios
poder marítimo e aos seus factores básicos,      Todavia, ocupar uma posição central em          precisam de se reabastecer de combustível
relativamente aos                                relação à força naval inimiga, operar a par-
restantes elementos                              tir de linhas interiores, e dispor de boas li-                            e de víveres. Na opi-
do poder nacional.                               nhas de comunicação marítima, são os três                                 nião de Mahan, a
Por isso, Mahan dá                               princípios estratégicos coadjuvantes, des-                                conjugação destes
tanta importância à                              tinados a favorecer a maior concentração                                  factores implica o
posição geográfica,                              possível de força naval no ponto decisivo.                                estabelecimento de
à configuração física                            Neste contexto, Mahan preconiza que o                                     bases em locais que
e à extensão do ter-                             sucesso na guerra naval é determinado pe-                                 permitam um tempo
ritório, à dimensão                              los navios de linha ou couraçados que inte-                               de operação da for-
populacional e ao                                gram a força naval combatente. Por isso, os                               ça naval tão exten-
carácter do povo, e                              navios de apoio de combate, sejam escolta-                                so quanto possível.
à determinação e ao                              dores ou avisos, só devem ser considerados                                Afirma Mahan que,
génio do governo. A                              nos planos destinados à edificação da força                               como a concessão
posição geográfica                               naval, se não prejudicarem a obtenção dos                                 dessas bases por
dos Estados reflec-                              navios de linha. Mahan também aconselha                                   outros governos é
te a sua localização                             que os couraçados sejam integrados num                                    pouco confiável, os
em relação às rotas                              único corpo empenhado na busca da força                                   Estados devem esta-
marítimas e ao terri-                            naval inimiga, que deve ser destruída numa                                belecer colónias ou,
tório de outros Esta-                            batalha decisiva. O bloqueio próximo e o                                  pelo menos, bases
dos. A configuração                              bloqueio distante são consideradas modali-                                navais autosusten-
física e a extensão                              dades de acção válidas para manter a força                                táveis, nas regiões
do território nacio-                             naval concentrada, enquanto se aguarda a                                  que consideram es-
nal condicionam a                                saída da força naval inimiga, dos seus portos                             trategicamente rele-
forma como o povo                                de abrigo, para travar uma batalha decisiva.                              vantes.
se posiciona relativamente à busca e à con-
secução do poder marítimo. A dimensão po-          Na quarta ideia estratégica, para o Estado                                As quatro ideias
pulacional e o carácter do povo referem-se à                                                     estratégicas que sustentam a conceptuali­
sua propensão para os assuntos marítimos. A                                                      zação de Mahan sobre a necessidade das
determinação e o génio do governo signifi-                                                       armadas, foram exploradas, entre outros,
cam o seu empenhamento e a sua habilida-                                                         porTheod­ ore Roosevelt, Henry Cabot Lodge­ ,
de na formulação e operacionalização das                                                         Elihu Root, Henry Adams e Franklin D. Roo­
políticas públicas destinadas à preparação e                                                     sevelt, para justificarem os avultados inves-
ao emprego do poder marítimo.                                                                    timentos, na preparação e no emprego da
                                                                                                 armada dos EUA. É certo que, tais inves-
  Na segunda ideia estratégica, para o Es-                                                       timentos, naquela época pareceram des-
tado fortalecer o poder marítimo, Mahan                                                          propositados e impuseram sacrifícios aos
considera essencial dispor de armadas que                                                        americanos. Contudo, verificou-se, pouco
garantam o comando do mar.                                                                       depois, que foram determinantes para aque-
                                                                                                 le país alcançar rapidamente o estatuto de
  Esta ideia estratégica foi desenvolvida com                                                    primeira potência mundial, que actualmen-
base em análises ao comportamento da Grã-                                                        te mantém. Em consequência disso, Alfred T.
-Bretanha durante os séculos XVII e XVIII,                                                       Mahan, cuja carreira naval tinha sido vulgar
nas disputas que manteve, em especial com                                                        e estava na sua fase final, obteve subitamen-
a França. Neste contexto, Mahan afirma que                                                       te a consagração como o grande estrategista
o Estado deve dispor de uma armada capaz                                                         naval do século XX.
de garantir o uso do mar. Isso significa anular
ou condicionar as forças navais que amea-                                                                                                           
cem o comércio marítimo, e que, por essa                                                                                  António Silva Ribeiro
via, possam prejudicar o aumento da pros-
peridade e a afirmação internacional do Esta-                                                                                                           CALM

                                                                                                 N.R.
                                                                                                 O autor não adota o novo acordo ortográfico.

                                                                                                 REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2012 11
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