Page 6 - Revista da Armada
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A forma como Almada e a Marinha sou-         tensões portuguesas à extensão dos limi-     dos por todo o continente e regiões autóno-
beram encontrar uma solução para, com a        tes da Plataforma Continental. Este projeto  mas, traduz-se numa média anual que ex-
devida dignidade, acolher um ex-libris da      envolveu os navios hidrográficos da Ma-      cede as mil e quinhentas vidas salvas. Estes
história de Portugal, a Fragata Dom Fer-       rinha, que conduziram, ao longo de seis      resultados são, para nós, motivo de grande
nando II e Glória, é público testemunho        anos, uma campanha com mais de mil dias      orgulho e uma evidência da importância de
de fortes lembranças e partilhas. Também       de missão para cobrir uma área de um mi-     assegurar a salvaguarda da vida de todos
a integração do submarino Barracuda no         lhão e setecentos mil quilómetros quadra-    aqueles que trabalham e usam o mar.
núcleo museológico do Museu de Marinha         dos, mais de dezoito vezes a área do terri-
em Almada é reveladora do forte acolhi-        tório nacional. Envolveu, ainda, peritos e     Ainda como contributo para o fomento
mento que esta cidade dispensa à Marinha.      técnicos da Marinha, cujas qualificações e   da economia do mar, realço que a Marinha
                                               saber se encontram ao nível mais alto da     é um cliente permanente das indústrias de
  Bem-haja, pois, senhora Presidente da Câ-    comunidade científica.                       construção e de reparação naval, e uma
mara Municipal deAlmada, e aceite os meus                                                   montra para o exterior das indústrias de
sinceros agradecimentos por todo o apoio         Retomando o objetivo de tornar o mar       defesa portuguesas, que desenvolvem tec-
que a edilidade tem prestado à Marinha.        num desígnio de Portugal, desejo salien-     nologia e produzem sistemas de material
                                               tar que isso requer, em primeiro lugar, um   naval. No passado recente, a qualidade
  Fala-se, hoje, muito do mar como de-         exercício eficaz da autoridade do Estado     dos produtos tecnológicos desenvolvidos
sígnio nacional. Mas Portugal é, e sempre      no mar. A Marinha assume, neste contex-      em Portugal e utilizados nos nossos navios
foi, um país marítimo, pela sua geografia      to, um papel muito relevante, quer no âm-    permitiu a sua exportação para diversos
e história, e pelos hábitos, valores, cultura  bito da vigilância e serviço da soberania    paí­ses. Estamos certos que tal poderá ser in-
e caráter do nosso povo.                       nos espaços marítimos nacionais, quer na     crementado no futuro se a construção naval
                                               prevenção e contenção da poluição marí-      nacional, necessária à modernização da es-
  Tornar o mar num desígnio nacional não       tima. Recordo, a este propósito, que a Ma-
consiste, pois, na descoberta de uma nova      rinha executa em média, por ano, cerca de                       quadra, for impulsionada.
realidade. Consiste, antes,                    dezoito mil vistorias a embarcações e cer-                         Relativamente ao con-
em dar expressão e subs-                       ca de trinta ações de combate à poluição.
tância a um importante                                                                                         tributo da Marinha para
objetivo estratégico que,                        Como contributo para o fomento da eco-                        a promoção da segurança
embora largamente reco-                        nomia do mar, a Marinha deve ser vista,                         internacional, destaco a
nhecido, tem vindo a ser                       primariamente, como um “produtor de                             nossa capacidade de par-
reiteradamente adiado.                         segurança”, pois sem segurança não há de-                       ticipar, de forma ativa, na
Refiro-me à necessidade                        senvolvimento. Porém, apostar no desen-                         manutenção da paz mun-
de tornar o mar um vetor                       volvimento da economia do mar obriga a                          dial. Como é sabido, a Ma-
essencial do desenvolvi-                       ter pessoas e meios empenhados nas ativi-                       rinha tem estado presente,
mento de Portugal.                             dades marítimas. Mas como o mar é, mui-                         quer no Afeganistão, inte-
                                               tas vezes, um espaço adverso, importa ga-                       grando a Força Internacio-
   Este objetivo é essencial                   rantir-lhes a segurança necessária para que                     nal de Assistência à Segu-
e possível. No entanto, não                    não tenham que se questionar permanen-                          rança daquele país, quer
devemos esquecer que o                         temente sobre a sua própria sobrevivência.                      no mar da Somália, inte-
nosso mar é bastante vas-                                                                                      grando missões de com-
to. No global, atinge uma                        Neste particular, a prontidão de resposta                     bate à pirataria.
dimensão que equivale a                        do Serviço de Busca e Salvamento Maríti-
sessenta e três vezes a área                   mo, que funciona no âmbito da Marinha e é                          Estes empenhamentos
do território nacional. Para                   por mim dirigido, com as competências de                        dos meios da Marinha, na
além disso, o nosso mar e o                    Chefe do Estado-Maior da Armada e as de,                        sequência de muitas outras
seu subsolo possuem uma                        por inerência, Autoridade Marítima Nacio-                       realizações semelhantes,
grande riqueza, como os estudos relaciona-     nal, tem-nos guindado para níveis de exce-   realizadas na última década, permitiram-
dos com a extensão dos limites da Platafor-    lência que nos colocam entre os melhores.    -nos granjear um elevado prestígio externo,
ma Continental estão a evidenciar.             Este serviço, que é assegurado diariamente   fundado na credibilidade das nossas ações,
                                               pelas unidades do Comando Naval e pelos      na capacidade dos nossos meios e na com-
  Por isso, agora, mais do que nunca, é le-    meios das 28 Capitanias dos Portos espalha-  petência do nosso pessoal.
gítimo interrogarmo-nos sobre se a Mari-                                                      Não obstante o envolvimento da Mari-
nha está preparada para responder ao ob-                                                    nha em compromissos internacionais, de-
jetivo de tornar o mar um vetor essencial                                                   monstrámos, recentemente, uma notável
do desenvolvimento de Portugal?                                                             capacidade de resposta à decisão política
                                                                                            de conduzir uma missão destinada a eva-
  A resposta a esta questão encontra fun-                                                   cuar os nossos concidadãos residentes na
damento nas capacidades que a Marinha                                                       República da Guiné-Bissau, caso a situação
possui, traduzidas no saber acumulado,                                                      de insegurança o justificasse. Empenhámos,
na experiência adquirida e nos meios dis-                                                   nesta ação, quatro navios no mar e mobili-
poníveis para pensar e atuar no mar. To-                                                    zámos muitas dezenas de efetivos em ter-
dos sabem as dificuldades que o país atra-                                                  ra. A imprevisibilidade dos problemas po-
vessa e todos estamos empenhados para                                                       líticos internacionais demonstra, por si só e
que a Marinha continue a desenvolver as                                                     de forma clara, a importância de um Estado
ações que o país necessita e reclama. As-                                                   dispor, permanentemente, de uma capaci-
sim continuará a ser porque todos temos                                                     dade de intervenção autónoma em teatros
consciência que o saber, a experiência e os                                                 de operações internacionais, sempre que o
meios da Marinha são determinantes para                                                     interesse nacional assim o exija.
o sucesso das iniciativas ligadas ao mar,                                                     Esta capacidade de atuação da Marinha,
incluindo as de outras entidades públicas                                                   para afirmar os interesses nacionais, assu-
e da sociedade civil.                                                                       mir compromissos internacionais e fazer
                                                                                            cumprir a lei nos espaços marítimos onde
  Neste âmbito, importa realçar que a Ma-                                                   Portugal exerce soberania ou jurisdição, é
rinha tem contribuído sustentadamente
para a realização dos trabalhos necessários
à apresentação nas Nações Unidas das pre-
6 JUNHO 2012 • REVISTA DA ARMADA
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