Page 7 - Revista da Armada
P. 7
um ativo essencial para um país de recur- vo envelhecimento da esquadra, e a redu- Todavia, mudança afeta sobretudo as
sos escassos e responsabilidades marítimas ção das ações de manutenção dos navios, pessoas. Não é possível garantir a moti-
consideráveis, como é Portugal. estamos perante um problema que pode vação e um desempenho adequado se não
vir a assumir proporções muito graves no existirem mecanismos que apoiem quem
Por isso, a Marinha, tendo presente as futuro, com consequências imprevisíveis. está longe ou afastado da sua família du-
suas competências, está permanentemen- rante prolongados períodos de tempo.
te empenhada no apoio a diversas enti- Embora a Marinha continue a garantir a
dades públicas com responsabilidades no vigilância e o exercício da Autoridade do A preocupação com o apoio aos militares
mar, assumindo uma atitude cooperativa Estado no Mar das áreas marítimas sob e aos seus familiares constitui, assim, um de-
e, também, solidária com a atual conjun- soberania ou jurisdição nacional, a idade ver indeclinável de quem comanda a Mari-
tura financeira restritiva. avançada dos navios, que constituem o nha. Por isso, as mudanças na área da saúde
dispositivo diário, leva a que essa garan- militar e no apoio social estão a ser conside-
É por isso que a Marinha está disponível, tia não possa ser totalmente assegurada radas com a maior atenção, pesando cuida-
e acredito ter a capacidade, para assumir num futuro que se adivinha relativamente dosamente todas as consequências. Trata-se
as parcerias e as responsabilidades acres- próximo. Por isso, urge que o necessário de assuntos em que a gestão da mudança,
cidas que lhe sejam solicitadas, na promo- investimento em novos meios seja feito no mantendo o enfoque nas pessoas, é essencial.
ção da segurança e do desenvolvimento de imediato. Refiro-me, naturalmente, à cons-
Portugal no mar. trução de seis Patrulhas Oceânicos e oito Também outras matérias como as promo-
Lanchas de Fiscalização Costeiras, cujo ções, as carreiras e o reconhecimento sobre
Assim, atribuo especial importância à montante total necessário para o efeito é a especificidade da condição de militar, têm
partilha de responsabilidades com outras inferior ao orçamento anual da Marinha. merecido um acompanhamento e pondera-
entidades públicas que dispõem de compe- Sem este investimento Portugal corre o ção muito cuidada. Saúdo, por isso, os re-
tências para atuar no mar, ou, ainda, com risco de ficar sem meios navais, de média centes desenvolvimentos em sede legislati-
entidades privadas que desenvolvem ati- e pequena tonelagem, indispensáveis às
vidades ou têm interesses missões nas zonas oceânicas e sobretudo va, que aguardamos com
no mar. nas zonas marítimas costeiras do continen- expetativa, pois permitirão
te e da Madeira. resolver, ainda que parcial-
Mas os tempos são de mente, um problema de
mudança. E a mudança, Mas o investimento, só por si, não garan- grave disfunção organiza-
sendo uma oportunida- te a operacionalidade dos meios necessários cional numa instituição ba-
de, engloba também ris- ao cumprimento da missão da Marinha. seada na hierarquia.
cos. Gerir o risco, significa Considero, por isso, fundamental a Mari-
pois, gerir a mudança. Para nha dispor de uma capacidade de manu- Estamos, como referi,
o efeito, a Marinha tem tenção e reparação adequada à especifici- em tempos de mudança. E
vindo a desenvolver um dade e características dos meios que opera, a mudança traz oportuni-
processo de transforma- complementada pelas valências técnicas do dades. Oportunidades que
ção, que se sustenta numa Arsenal do Alfeite, pela sua localização e devem ser aproveitadas
conceção doutrinária ino- pela tradição e competência na reparação para que possamos encarar
vadora, na utilização de naval militar, que considero insubstituível. o futuro com esperança. Ul-
modernas metodologias Na verdade, e neste caso muito concreto, a trapassar as dificuldades de
de gestão e no emprego in- decisão sobre que estaleiros navais o país hoje é construir um futuro
tensivo da tecnologia. deverá ter, não pode, nem deve, ser ape- melhor amanhã. Por isso,
nas tomada numa perspetiva economicis- esta é a postura da Marinha
Assim, e no sentido de ta de mercado. e a atitude que se impõe a
gerir os projetos interse- todos os que nela servem.
toriais, que decorrem das Existem valências e capacidades de re-
suas atribuições e compe- paração que importa assegurar continua- Senhor Secretário de Estado Adjunto e
tências, a Marinha decidiu implementar damente, sob o risco de a sua inexistência da Defesa Nacional
uma ferramenta de gestão estratégica ino- tornar os navios inoperantes, ou mesmo
vadora, cujo sucesso permitiu já a sua apli- levar o país a uma situação de dependên- Ilustres autoridades,
cação prática no aprontamento do coman- cia estratégica do exterior. Minhas Senhoras e meus Senhores,
do português da força naval empenhada,
recentemente, na operação de combate à A Marinha, enquanto instituição secular,
pirataria no oceano Índico. sabe, e sempre saberá, reagir às diferentes
situações conjunturais e adaptar-se às ne-
No entanto, a transformação precisa de cessidades e exigências de Portugal. Por
tempo. Tempo, para que determinadas isso, procura sempre as melhores soluções
medidas, especialmente as de natureza para os diferentes desafios que tem no ho-
estrutural, e as que impelem alterações rizonte, sem nunca esquecer os melhores
na cultura da organização, possam fruti- ativos de que dispõe, que são os seus ho-
ficar. São estas medidas que vão permitir mens e mulheres.
reequilibrar os orçamentos, possibilitan-
do uma melhor redistribuição das verbas É por isso que afirmo, sem qualquer hesi-
atribuídas ao pessoal, aos custos fixos de tação, que a Marinha, pela qualidade, dedi-
funcionamento e à atividade operacional. cação e coragem dos seus militares, milita-
rizados e civis, está, e estará sempre, pronta
Nesta vertente, refiro que a Marinha se para continuar a servir Portugal no mar.
defronta com problemas reais, tendo limi-
tado a sua atividade ao mínimo essencial Estando conscientes das dificuldades do
para cumprir a missão. Os níveis de treino presente, trabalhamos diariamente para
tiveram de ser reduzidos aos valores de há uma Marinha moderna e preparada para
vinte anos, situação que me causa grande enfrentar os desafios do futuro.
preocupação, pois afeta não só a profi
ciência das guarnições, mas também os
seus níveis de confiança e de segurança. Se José Carlos Saldanha Lopes
adicionarmos a esta realidade o progressi-
Almirante
Fotos 1SAR FZ Pereira
REVISTA DA ARMADA • JUNHO 2012 7