Page 28 - Revista da Armada
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“Via Sibéria”
Exposição de postais de Wenceslau de Moraes no Museu de Marinha
Com a presença do Embaixador cidam sobre os conteúdos. Abaixo da reram desde que Moraes os depositava
do Japão, foi inaugurada no Pavi- altura útil para a cómoda visualização na estação do correio, até chegar ao
lhão das Galeotas do Museu de das ilustrações e da escrita, em rodapé seu destino.
Marinha, no dia 17 de Abril, a exposi- de cor cinza e em corpo de letra maior,
ção “Via Sibéria”. Trata-se de uma mos- frases retiradas dos diferentes livros do Esta alternativa à tricentenária via
tra de 140 postais enviados por Wen- autor, referenciados pelas suas mara- marítima só foi possível após a inaugu-
ceslau de Moraes entre 1905 e 1917 do vilhosas capas que ajudam a melhor ração da linha de comboio transiberia-
Japão para Lisboa, a maioria dirigidos a compreender as pequenas mensagens na, que ligava São Petersburgo a Vladi-
sua irmã Francisca. A colecção é pro- contidas em cada envio. vostok, encurtando de mais de um mês
priedade da senhora embaixatriz Ingrid a viagem para o extremo oriente. Aque-
Bloser Martins, viúva de Armando Mar- A leitura destas pequenas missivas le porto de mar ficava, por sua vez, a
tins Janeira, o grande divulgador da fi- do Japão ajuda-nos a entrar melhor menos de um dia de barco de Fushiki,
gura e da obra de Wenceslau, quer no na emotividade diária de Wenceslau na costa oeste do Japão.
Japão quer em Portugal. de Moraes, afastando-o do indivíduo
isolado, deprimido, revoltado, viven- Esta ligação custou à Rússia 1,455
O desafio de expor os pequenos rec- do a cada momento a angústia de um mil milhões de rublos, despesa só ultra-
tângulos de cartolina num espaço com exílio forçado. Vemos um Wenceslau passada quase duas décadas mais tarde
aquela dimensão e ao lado de peças de encantado com a terra e o povo que pela primeira guerra mundial. Embora
grande volumetria foi vencido pelo pro- escolheu e que o rodeia, a sua arte, os marinheiro durante mais de vinte anos
jecto da museóloga Margarida Jardim seus costumes, a sua educação, as suas e apaixonado pelo mar e pela arte de
que, usando painéis de grande tama- paisagens que quer, com o máximo de o navegar, Wenceslau de Moraes foi
nho e com cores quentes “reflectindo” abundância, mostrar e explicar a cada um extraordinário utilizador desta via
os cascos das galeotas, faz ver desde a pessoa a quem manda os postais. Nos terrestre de comunicação que encurta-
entrada no pavilhão que ali ao fundo há textos seleccionados ressuma também va, mais que a marítima, o tempo e a
algo de diferente para ser visto. Depois, o humor do seu autor, contrariando distância entre o seu Portugal e o seu
começa a aparecer o título “Via Sibé- com o azedo e sofredor temperamento Japão.
ria” no cursivo manuscrito de Moraes, sempre propagand eado e o seu sentido
reproduzido do verso dos postais e la- prático de fazer negócios em parceria Num dos seus postais expostos, po-
deado de carimbos e selos japoneses. com a sua irmã Francisca, a quem por demos ler:
Aproximando-nos mais, vão-se recor- vezes chamava preguiçosa por passar
tando dos fundos, que variam do car- demasiado tempo a admirar e não pas- “…tenho recebido 2 postais teus am-
mim ao chocolate, os rectângulos dos sar logo à fase de costurar as peças de bos não vindo por via Sibéria e levan-
postais agrupados por temas, com os seda que lhe enviava para as tornar co- do mais do dobro do que levariam se
versos reproduzidos ao lado das fren- merciáveis. seguissem por aquela via!...coisas dos
tes e a grande maioria com a versão Correios! Paciência.”
dactilografada dos textos do remetente “Via Sibéria” foi o nome escolhido
acrescidos de algumas notas que elu- para esta exposição de postais por mos-
28 JUNHO 2012 • REVISTA DA ARMADA trar o longo caminho que eles percor- Dr. Pedro Barreiros
Membro da Associação Wenceslau de Moraes
N.R.
O autor não adota o novo acordo ortográfico.