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VISITA A UM SUBMARINO EM PARIS

CONTRIBUTOS E BOAS PRÁTICAS DUMA EXPOSIÇÃO
Na altura em que se comemoram em
         Portugal os 100 Anos da Arma Sub-         onde foi depois rebocado pelo Rio Sena e pe-       Em 1998, o núcleo museológico constituído
         marina, é oportuno debruçarmo-            los canais fluviais até Paris. A Torre do Subma-  pelo Submarino Argonaute, recebeu o Troféu
                                                   rino foi desmontada para que pudesse passar       do Organismo Britânico “World Ship Trust”, ga-
-nos sobre algumas ideias museológicas na por debaixo das pontes do Sena. Em Paris, o lardoado pela qualidade do seu projecto.
perspectiva do aproveitamento dos Sub-                                                               Hoje, constitui sem dúvida um pólo muito
marinos Barracuda e Delfim que, como                                                                 atractivo e de grande sucesso. Para memó-
é do conhecimento púbico, foram dispo-                                                               ria, em Junho de 2007, o Argonaute regista-
nibilizados pela Marinha Portuguesa para                                                             va 2 milhões de visitantes, com uma média
eventual exposição estática.                                                                         de 340.000 visitas por ano.
 Encontra-se exposto, a Norte de Paris, na
“Cité des Sciences de la Vilette”, o Submari-                                                        DAOVIASIRTGAOANOAINUTTEERIOR
no Francês Argonaute (S.636), do tipo “Arthé-
tuse”, com características muito semelhantes
às dos Submarinos Portugueses da classe                                                              A visita ao submarino comporta três mo-
Albacora, acima referidos. Este Submarino                                                            mentos principais: uma aproximação do na-
“Parisiense” foi alvo duma interessante inter-                                                       vio, exposto ao ar livre, assente em base de
venção museológica, cheia de ensinamentos                                                            betão e sustentado por pilares de aço (Fig. 1),
para os projectos de musealização que vie-                                                           num espaço que não deixa de fazer sugerir
rem a ser preparados em Portugal.                                                                    uma doca seca; o segundo tempo consiste
A visita e as soluções museológicas en-                                                              num percurso pelo interior do Argonaute da
contradas para o Submarino Argonaute                                                                 ré para vante, seguida por uma visita com-
chamaram a nossa atenção e fundamenta-                                                               plementar ao Edifício de Apoio/Centro de
ram este pequeno artigo.                                                                             Interpretação que flanqueia o navio e pelo
                                                                                                     qual se faz a entrada no pólo museológico.
CCOÊOPSRDAOORJGESCOUTNBOMAMAURTUIENSEOOFLÓRAGNI--                                                     Na entrada, no primeiro piso do Edifício

                                                                                                     de Apoio (Fig. 2), o visitante pode adquirir
                                                                                                     um bilhete em distribuidor automático,
                                                                                                     mediante o pagamento de 3 Euros (essa
O Argonaute foi construído em 1957, nos                                                              entrada é independente do resto da visita
Estaleiros de Cherbourg. Submarino anterior                                                          da “Cité des Sciences” de la Vilette). Após
e de dimensões inferiores aos submarinos                                                             aquisição do bilhete, o visitante desce pelas
franceses da classe Daphnée (e portanto tam-                                                         escadas até ao piso térreo, onde um funcio-
bém aos nossos submarinos da classe Alba-                                                            nário lhe fornece um audiofone que o vai
cora), tem 49 m de comprimento para 543                                                              guiar ao longo da visita individual que vai
toneladas. Esteve ao serviço da Marine Na-                                                           efectuar no interior do Argonaute (explica-
tionale de 1958 até 1982. Durante 24 anos                                                            ções disponíveis em Francês, Inglês, Espa-
totalizou 32.700 horas de imersão (ou seja, o                                                        nhol e Italiano).
equivalente a 10 voltas ao Mundo). Em 1988,                                                          Após passar por baixo do casco do sub-
a AmerAmi, Associação de Utilidade Pública                                                           marino, por um corredor vedado (que ser-
ligada ao Museu da Marinha de Paris, conse-                                                          ve para organizar as filas de espera em dias
guiu que o submarino, depois de abatido ao                                                           de grande afluência), o visitante sobe nova-
serviço, fosse classificado como Património                                                          mente uma escada metálica que dá acesso
Marítimo Francês, salvando dessa forma os                                                            a uma porta recortada no casco do Argo-
restos do navio.                                                                                     naute. Aentrada faz-se a estibordo e na altu-
Em Outubro de 1989, com o apoio do                                                                   ra do compartimento do posto a ré, no caso
Ministério da Defesa Francês, o Parc da Vi-                                                          do Argonaute, o dos motores eléctricos (Fig.
lette, a Cité des Sciences et de l´Industrie e                                                       3). Por razões de segurança, não nos foi per-
o patrocínio de uma dezena de empresas                                                               mitido fotografar ou filmar a bordo do Argo-
ligadas ao sector da Construção Naval, o                                                             naute, sendo a visita monitorada do exterior
Argonaute foi transportado do Arsenal de                                                             por um sistema de video-vigilância.
Toulon até à “Cité des Sciences de la Vilet-                                                         Alguns apectos do arranjo interior são de
te” em Paris, por mar e por via fluvial. Após                                                        salientar: ao longo do corredor central, foi
trabalhos de reparação do casco e de prepa- casco foi levantado do Canal de l´Ourq, assen- colocado um corrimão de metal que resguarda
ração no interior para fins museológicos, o te num trenó com 96 rodas e transportado até e veda a passagem do visitante para outras zo-
submarino Argonaute foi transportado na sua à sua “nova doca”, na Vilette.                           nas que não estejam programadas. Foram utili-
integralidade. Sustentado por 16 flutuadores, Aí, desde então, assume uma nova função: zadas placas de vidro no piso do corredor do
foi rebocado por mar ao longo das costas Es- a de testemunho da história dos submarinos submarino, que permitem observar elementos
panholas e Portuguesas, até ao Porto do Havre e dos submarinistas Franceses.                         e compartimentos inferiores, como por exem-

10 MARÇO 2013 • REVISTA DA ARMADA
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