Page 23 - Revista da Armada
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Regressado a Portugal, desempenha vários pelo 7º Marquês de Nisa, e contemplam o pe- desta armada mas logrou salvar-se.
cargos e prossegue as suas investigações. Após ríodo de 29 de Julho de 1798 a 12 de Outubro A terceira, a Amorosa, relata em forma de
a morte de D. João VI, o Visconde de Santa- de 1799.
rém, não escondendo a simpatia pela causa O Almirante Marquês de Nisa, personagem lenda o descobrimento da Ilha da Madeira.
miguelista, atrai sobre si a hostilidade da fac- de grande destaque na segunda metade do A quarta, a Bélica, ocupa-se do conflito en-
ção liberal. É, no entanto, um intelectual mo- século XVIII, foi um prestigiado oficial da ma-
derado que, apesar da lealdade que sempre rinha portuguesa. Em 1797, aos 31 anos de tre as Armadas Espanhola e Holandesa que
devotou a D. Miguel, expressa as suas opini- idade, é promovido a chefe de esquadra, a que teve lugar no canal de Inglaterra em 1639.
ões sobre as vantagens da capitulação dos mi- corresponde actualmente o posto de contra-
guelistas perante as tropas de D. Pedro IV. Por -almirante. Em 1798 comanda a esquadra por- A última epanáfora, a Triunfante, conta-nos
essa razão é destituído de todos os seus cargos tuguesa enviada para o Mediterrâneo para, em a insurreição de Pernambuco que conduzirá
em 1833. Após a vitória da causa liberal exila- conjunto com a inglesa, combater as forças de ao fim da dominação holandesa no nordeste
-se voluntariamente em Paris até à sua morte Napoleão. Nomeado pelo almirante Nelson brasileiro.
em 1856. para levar a cabo o bloqueio do porto de Malta
Várias das suas obras são editadas em Fran- (1798/1799), tem papel preponderante e deci- As Epanáforas de D. Francisco Manuel de
ça, incluindo o seu famoso Atlas. A primeira sivo na condução desta operação militar. Melo são, segundo alguns estudiosos, uma das
compilação dos documentos que compõem Os cadernos do Marquês de Nisa, para além obras mais significativas da literatura barroca
esta obra data de 1841. do seu valor intrínseco, constituem testemu- em Portugal, tendo a edição de 1931 sido ob-
Posteriormente continuou a publicar mais nho inestimável de uma das épocas mais con- jecto de análise do prestigiado intelectual bri-
documentos cartográficos, considerando- turbadas do século XVIII na Europa. tânico Edgar Prestage.
-se geralmente a existência de mais
duas edições, as de 1842 e 1849. Ainda no século XVII, cumpre-nos destacar
No entanto, mesmo após a edição a obra Descrição dos Portos Marítimos do
de 1849, o visconde continuou a Reino de Portugal.
divulgar novas cartas. Além disso, a
maioria delas foi publicada em di- Esta obra, também conhecida por Atlas de
ferentes versões. Estes factos tornam João Teixeira, é datada de 1648, sen-
bastante complexa a classificação do do o autor, João Teixeira Albernaz,
conteúdo de cada uma das edições. um eminente cartógrafo português.
O C.D. do Museu de Marinha possui São dezassete cartas legendadas,
exemplares do Atlas do Visconde de uma geral e dezasseis de pormenor
Santarém que incluem pelo menos que representam a costa portuguesa
um exemplar de todas as cartas que do Minho ao Algarve.
se sabe terem integrado esta obra. A nível mundial conhece-se a
Em seguida, abordaremos documen- existência de, apenas, 7 exempla-
tos reservados datados do século XVIII. res originais e 1 cópia. 2 dos origi-
Existe no C.D. mais de meia centena nais encontram-se no Reino Unido,
de exemplares, impressos uns, manus- Atlas de João Teixeira. outros 2 na Áustria, 1 em Itália e 1
critos outros, cujas datações variam entre 1701 Do século XVII, entre mais de uma dezena cópia em França. Dos 2 exemplares
e 1799. de espécimes, elegemos os seguintes: originais existentes em Portugal, um
À antiguidade destes espécimes, soma-se a Epanaphoras… da autoria de D. Francisco pertence à Sociedade de Geografia
diversidade dos temas, a raridade ou a beleza Manuel de Melo. de Lisboa e o outro ao Museu de
de algumas ilustrações ou mesmo, em certos O exemplar impresso que possuímos data Marinha. Trata-se de um espécime
exemplares, o modelo de encadernação que de 1676. raro e iconograficamente muito belo.
pode constituir, por si só, objecto de estudo D. Francisco Manuel de Melo (1608/1666)
sobre o livro antigo. foi fidalgo da alta nobreza, militar e homem de Mas, voltemos ao ponto de partida, a obra
Escolhemos, de entre os muitos que mere- letras cuja idade adulta decorre durante o perí- EPHEMERIDES IO. BAPTISTAE Carelli
cem ser evidenciados, uma obra impressa e odo de reinado de Filipe IV de Espanha, III de Placentini….
um conjunto de manuscritos. Portugal. A sua vida aventurosa, a par da apa-
A obra impressa, de 1796, Descripção do rente indefinição política, quer face ao poder Obra em latim impressa em Veneza, no ano
Novo Planetario Universal,… é um opúscu- filipino quer à causa de D. João IV, criam-lhe de 1557, contém efemérides astronómicas re-
lo de 16 páginas que acompanha a litografia inimizades e propiciam intrigas que o levam a lativas aos anos de 1557 a 1575. Na página
do referido planetário. A litografia contém as passar longos anos no cárcere. de rosto apresenta a marca de posse de Pedro
seguintes lengendas: «Planetario, inventado Datam do tempo de prisão na Torre de Belém, Nunes, tendo sido acrescentadas ao exemplar
em França pelo Pe Theodoro d’Almeida, e pelo e mais tarde na Torre Velha em Porto Brandão, impresso algumas folhas manuscritas e notas à
mesmo augmentado em Lisboa, e se mostra na algumas das obras mais conhecidas do autor: margem do texto. Embora não se tenha podi-
Caza do Espirito Santo da Cong do Orat.». O Fidalgo Aprendiz, a Carta de Guia de do, em rigor, atribuir autoria às referidas notas
O Padre Teodoro de Almeida, sacerdote Casados e a primeira das Epanáforas. e folhas manuscritas, tudo indica terem sido
da Congregação Oratoriana, foi alvo de per- A obra referida consta de cinco capítulos em escritas pelo famoso cosmógrafo português.
seguição pelo Marquês de Pombal, tendo-se que se repetem as dedicatórias ou os prólogos
refugiado em França em 1768. Aí leccionou e e constituem, com a excepção da terceira, E chegamos ao fim do nosso périplo.
prosseguiu os estudos filosóficos e científicos. narrativas de acontecimentos contemporâne- Os documentos aqui referidos são apenas al-
Regressado a Lisboa, em 1778, colaborou na os do autor. guns dos existentes no acervo reservado do
fundação da Academia das Ciências e nesta Na primeira das epanáforas, a Política, D. Centro Documental do Museu de Marinha.
cidade finalizou o esquisso de um dos mais Francisco Manuel narra e analisa os aconte- Destacámo-los por algumas das suas especi-
antigos planetários que se conhecem. cimentos das “Alterações de Évora” em 1637. ficidades; cientes, no entanto, que a matéria
Ainda no século XVIII, destacamos o conjun- Na segunda, a Trágica, descreve o naufrá- não se esgota aqui, que muito mais haveria a
to de manuscritos que se designa por diários gio da armada de D. Manuel de Meneses, no dizer sobre eles e que muitos mais espécimes
do Marquês de Nisa. São 4 cadernos, escritos Golfo da Biscaia, em 1627. O autor fazia parte deste conjunto de reservados são de um enor-
me interesse.
Como nota final, acrescentaremos que todas
as obras referidas se encontram catalogadas
em base de dados própria, o mesmo aconte-
cendo com o restante acervo documental.
Elvira Henriques da Silva
TEC SUP 1CL
REVISTA DA ARMADA • MARÇO 2013 23