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SAGRES NA "ARMADA DE ROUEN"
Éo que se designa de sentido de oportuni- segundo ano da Escola Naval e 14 cadetes e nal I, que dedicou ao assunto umas centrais.
dade. Uma pequena cidade, a 120 quiló- jovens oficiais estrangeiros, de Angola, Argé- Dias depois, a 13 de Junho, seria a vez da
metros do mar, consegue, graças a um rio, lia, Argentina, Brasil, Canadá, China, Espanha,
atrair a si o mais importante evento marítimo da França, Holanda, Marrocos, Polónia, Reino France 3, uma das mais importantes estações
França, a Armada de Rouen. É do Sena que es- Unido e Turquia, número a acrescentar a uma televisivas de França, com estúdio montado
tamos a falar, é certo, mas, pese a sua notorieda- guarnição permamente de 128 militares. no recinto, fazer um directo no seu jornal da
de, não passa de uma simples via fluvial. Por noite, programa com grande audiência. Isto, a
sinal, bastante frequentada, e durante todo O navio chegou a Rouen na tarde de 9 de Ju-
o ano. Lisboa, com um Tejo espraiado à nho, após um par de dias bastante atribulados no propósito da cerimónia da oficialização da
sua disposição, bem poderia aprender com Canal da Inglaterra, registando-se, desde então, Academia do Bacalhau de Rouen, que foi,
exemplos destes. uma temperatura verdadeiramente invernal. sem dúvida, a par com a habitual recepção
do 10 de Junho, com 250 convidados, a
Com uma periodicidade de cinco anos, a Logo no dia da chegada, o comandante da mais relevante actividade da Sagres nesse
Armada de Rouen completou, a 16 de Ju- Sagres, Nuno Sardinha Monteiro, teve que se porto francês. O testemunho seria passado
nho, um quarto de século, sendo esta sexta desdobrar em entrevistas, fosse para a Rádio pelo presidente da Academia de Bacalhau
edição a derradeira a cargo de Patrick Herr, Figo, emissora local, a prestigiada Radio Alfa, de Joanesburgo, Mani Sampaio, e contou
o responsável pela iniciativa desde a primei- de Paris, ou ainda a Radio France Internatio- com a presença do embaixador português
ra hora, desenhando-se agora no horizonte nal, só para mencionar algumas; tendo a via- em Paris e de centenas de pessoas dos mais
a ameaça de um possível fim do evento. Há gem deste ano suscitado também o interesse diversos sectores da sociedade que pude-
até quem fale em passagem de testemunho dos media nacionais, no caso, o programa ram assim matar saudades de Portugal.
para as longínquas e áridas terras do Dubai, matinal de José Candeias, na Antena 1, e o jor-
hipótese que a muitos, compreensivelmen- ACADEMIA DO BACALHAU E
te, parece descabida de todo. FESTA A BORDO
Sob a designação As velas da liberdade, a Na tarde e noite de Santo António não
primeira edição da Armada teve lugar em houve sardinhas, mas houve fiel amigo,
1989, assinalando-se então o bicentenário em forma de bolinhos e num «à Brás» de
da Revolução Francesa e da Declaração comer e chorar por mais, e ainda o ine-
dos Direitos do Homem e do Cidadão. O vitável pastel de nata, que, desde logo,
tema liberdade seria ainda o mote para a espicaçou a curiosidade gastronómica
segunda edição, em 1994, que, cinco anos de muitos dos presentes reunidos em
depois, com o virar do século, passaria a ser convívio no tombadilho e no poço sob
designada Armada do Século, e, em edições um toldo providencial. Um total de 400
subsequentes, Armada de Rouen, muito pessoas, franceses e portugueses, naquela
simplesmente. Recorde-se, a título de curio- que terá sido, porventura, uma das maio-
sidade, que o navio-escola luso marcou pre- res recepções a bordo do navio, e que
sença em quatro das edições anteriores desta seria abrilhantada pelo cantor português
importante iniciativa. radicado em Paris, Toni do Porto, senhor de
uma excelente voz e notável versatilidade na
UM EVENTO COM PESO E MEDIDA interpretação. A festa acabaria com bailarico
na mais fiel tradição lusitana. Pode-se dizer
Durante semana e meia, estiveram atracados que a quinta presença da Sagres em Rouen
ao longo do Sena, nos vários quilómetros de foi o concretizar de um sonho antigo de José
cais de Rouen, 38 grandes velei-
ros e oito navios de guerra de di- Stuart, o sempre prestável cônsul
ferentes nacionalidades, havendo honorário português nessa cidade.
a salientar a presença massiva de
veleiros holandeses (todos alugá- Aberto a visitas, diariamente
veis e auto-sustentados), e, claro, das dez da manhã à meia noite, à
navios com bandeira francesa. excepção de 10 e 13 de Junho, a
Também os russos se impuseram, Sagres foi um dos navios que mais
com o Kruzenshtern, o segundo oportunidades deu a quem o dese-
maior veleiro do mundo, o Shtan- jasse visitar. E a afluência acabaria
dart, réplica de uma fragata dos por ser, como se esperava, bastan-
czares setecentista, e o bem co- te grande, tendo sido atingida no
nhecido Mir. Tão pouco faltaram à último dia a marca histórica de 19
chamada navios ingleses, polacos, mil visitas num só dia.
suecos e o veleiro escola do sulta-
nato de Omã, o luxuoso e elegante Ao longo da semana, foram mui-
Sahbab Oman. Um facto curioso: tas as manifestações de apreço
independentemente da bandeira pela barca (e até de carinho), não
desfraldada, alguns dos navios presentes são só da parte dos imigrantes lusos há
de construção alemã, pré Segunda Grande muito radicados na região, como
Guerra, à semelhança da Sagres, que teve na também dos franceses, que, fre-
Armada 2013 um dos pontos altos da sua via- quentemente, pediam para serem fotografa-
gem anual de instrução, com a duração de um dos junto aos membros da guarnição ou de
mês e a presença a bordo de 38 cadetes do alguns dos símbolos maiores da barca, como
a roda do leme ou o sino. Entre os espontâ-
neos que subiram a bordo, de destacar alguns
entusiastas que ali tinham estado em edições
14 AGOSTO 2013 • REVISTA DA ARMADA