Page 16 - Revista da Armada
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anteriores e prometiam continuar a estar em CIDADE DOS NORMANDOS UM LONGO PASSEIO NO SENA
edições futuras, elementos de ranchos folclóri- E DE JOANA DE ARC
cos locais e populares anónimos que, em vez Ao amanhecer do dia 16 já a ponte levadiça
das costumeiras T-shirts da selecção, como elo Rouen reinvindica para si o epíteto «capital Flaubert – tecnologia de ponta cuidadosamente
identificador da portugalidade, muniram-se da luz», e recorre a metáforas pouco comuns, guardada pela polícia – estava levantada. Havia
da concertina e da pandeireta, transformando como «a pedra cor de manteiga fresca», que acautelar o início do tão aguardado desfi-
assim a visita numa festa com sabor popular. quando se refere à Notre Dame local, que por le naútico no Sena, que fecharia o evento com
esses dias tinha espectáculos diários de som chave de ouro. Um percurso de 120 quilóme-
Do programa oficial constou também um e luz, que transfiguravam por completo a sua tros, cronometrado ao minuto, pelas diversas co-
jogo de futebol amigável, entre as equipas da fachada. Considerada o mais importante pa- munas ribeirinhas da Alta e Baixa Normandia. O
guarnição e da comunidade portuguesa de trimónio arquitectónico da cidade, a catedral primeiro navio saiu de Rouen às sete da manhã
uma das freguesias de Roeun, uma corri-
da matinal com atletas de todos os navios, foi, ao longo da história, por diversas vezes ar- e, segundo o previsto, chegaria ao estuário de
e, por fim, o desfile-parada a preceito das rasada, primeiro pelos vikings e, mais recen- Le Havre às 4 e meia da tarde, sendo que o
guarnições pelo centro histórico da cidade, temente, pelos bombardeamentos dos aliados último dos participantes atingiria essa posição
que contou com a presença de grupos de durante a Segunda Grande Guerra. quatro horas depois. Enfim, espectáculo ga-
percussão locais, diversas confrarias e 130 rantido para uma tarde de domingo passada
crianças em idade escolar. Do porto de Rouen, capital da Normandia, com a família. E foi isso que aconteceu.
partiu para as Américas, nos primórdios do
UM PROGRAMA século XVI, o pouco conhecido navegador De um lado e do outro do Sena, eram aos
RECHEADO E FARTO milhares as pessoas sentadas em cadeiras,
Jean de Verrazzane; e, numa das suas praças, nos relvados e varandas de suas casas, a ace-
O navio-escola português encontrava-se seria supliciada a celebérrima Joana de Arc, narem, a agitarem bandeirolas e a apitarem
bastante bem situado, a poucos metros do facto assinalado na Armada 2013 com a inau- cornetas, vuvuzelas e sirenes. Havia quem
recinto dos concertos, na margem direita guração de um monumento a ela dedicado, aproveitasse a ocasião para o churrasco de
do Sena, e em frente ao local onde era lan- e que contaria com a presença de alguns ofi- ocasião e não faltaram orquestras com tubas,
çado o fogo de artifício que diariamente, ciais portugueses. trompetes, tambores, caixas de rufar e respec-
pelas 23.30, logo após os espectáculos, era tivos olés!, e as bandeiras portuguesas, que
exibido no negro firmamento, sempre com regularmente apareciam quando e onde me-
temática diferente. A Sagres passava então nos se esperava. Assinalavam, por exemplo, o
a ser, nessa altura, a plateia de eleição de centro de povoações que surgiam a bombor-
todo o festival. do e a estibordo, com a multidão a aplaudir e
aos gritos, chamando a atenção da guarnição
Ao longo do dia, entre as pontes Guillau- que ia correspondendo com acenos de mão e
me Le Conquerant e Flaubert, era um ver- de bonés. É da tradição.
dadeiro mar de gente, que, de forma ordei-
ra, se passeava ao longo dos cais, tirando A Sagres optou por fazer soar a sua sereia à
fotografias e aguardando pacientemente a aproximação de qualquer aglomerado con-
sua vez nas longas filas para visitar os na- siderável, sobretudo se ali se vislumbrassem
vios, ou então para adquirir recordações bandeiras verde-rubras. E o toque da sereia
nas dezenas de barracas e tendas, rechea- foi, naturalmente, bastante mais prolongado e
das de produtos alusivos ao mar, ou não, e mais potente quando a barca passou junto a
para degustar as bebidas, petiscos e pratos à La Mailleraye-Sur-Seine, a cidade madrinha do
disposição nos abundantes restaurantes e ba- veleiro português, que dias antes recebera com
res montados para o efeito, sendo que muitos pompa e circunstância uma delegação da Sagres
deles funcionavam no interior de alguns dos que para o efeito ali se dirigiu.
navios que desse modo cobriam os custos da Uma palavra de apreço para os oficiais de liga-
sua participação no evento. ção da Marinha Nacional Francesa, a antilhesa
Magali e o luso-francês Dominique Gonçalves,
Falou-se numa previsão de um
total de cinco milhões de visitan- sempre prestáveis, simpáticos e mui-
tes, um número que não deixa de to profissionais.
ser bastante impressionante.
Daqui a cinco anos há mais. Ou
De salientar a presença na Ar- melhor dizendo, talvez haja mais,
mada 2013 de inúmeras crianças, pois os opositores da iniciativa ar-
idosos e até deficientes motores, gumentam que não estão para arcar
esses, infelizmente, impedidos de com os impostos suplementares que
subir a bordo dos navios, por mo- a organização da Armada acarre-
tivos óbvios. Honrosa excepção ta… E foi com essa incerteza no fu-
feita ao navio inglês Tenacious, turo que os belos e grandes veleiros
equipado para os poder receber. desfilaram em direcção ao grande
oceano, com as agulhas apontadas
Pelo palco expressamente a norte, rumo ao porto holandês
montado para os Concerts de la de Den Helder, onde os aguardava
Region (assim se chamavam os nova concentração festiva.
espectáculos musicais) passaram
nomes sonantes como o libanês Joaquim Magalhães de Castro
Mika, os parisienses BB Brunes, os «dinos-
sáuricos» Madness e a bela bretã Nolween Investigador da História da Expansão Portuguesa
Leroy, sem esquecer o casal de músicos ce-
gos malianos, Amadou e Mariam, que a Rou- Fotos
en trouxeram o mais significativo e mágico Joaquim Magalhães de Castro
momento musical. N.R.
O autor não adota o novo acordo ortográfico.
REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2013 15