Page 24 - Revista da Armada
P. 24
RUY DE CARVALHO
Oactor Ruy Alberto Rebelo Pi-
res de Carvalho nasceu a 1 de público, e por várias experiências de Naval. Era o mundo dos cadetes, no fi-
Março de 1927, na cidade de teatro de repertório, interpretando per- nal dos anos quarenta do século XX, não
Lisboa. Filho de um Oficial do Exército sonagens mais elaborados, em textos de muito diferente, na sua componente hu-
e de uma professora de música e pianis- autores consagrados, que foram grandes mana, daquilo que ainda é hoje.
ta, que foi aluna de Viana da Mota, foi desafios profissionais e que hoje recor-
criado num ambiente ligado às artes e da com o prazer próprio de um grande Com uma carreira de cerca de 66 anos,
ao espectáculo, observando a carreira de actor que analisa a riqueza do seu per- o actor Ruy de Carvalho construiu uma
dois irmãos mais velhos no mundo do te- curso artístico. Não podemos enumerar reputação artística ímpar, que mereceu
atro. Pisou pela primeira vez o palco com aqui todos os seus êxitos, nem é possível relevo além-fronteiras e a todos nos or-
sete anos de idade, na cidade da Covilhã, fazer deles um resumo abreviado sem gulha, enquanto seus compatriotas e
numa representação infantil, de conspurcar a sua grandeza. Digamos admiradores. Em Portugal recebeu múl-
cuja memória guarda apenas a que foram muitas centenas de produ- tiplas distinções e galardões, de que
ansiedade de entrar em cena e ções teatrais a que se juntam os filmes,
de querer fazer tudo bem fei- as telenovelas, séries televisivas e muitas destacamos as condecorações
to. Com 15 anos integrou um outras realizações artísticas. Dos diver- com a “Medalha de Mérito
grupo de teatro amador e par- sos filmes em que participou, realçamos Cultural do Governo Portu-
ticipou na primeira produção a produção “Eram Duzentos Irmãos”, guês”, o grau de comendador
teatral, dirigido por Francisco realizado por Armando Vieira Pinto, em e a Grã-Cruz da “Ordem do
Ribeiro (o conhecido Ribeiri- 1948. Faz agora 65 anos. O enredo da Infante D. Henrique” e o grau
nho), seguindo-se a frequência película desenrola-se na Escola Naval de comendador da “Ordem de
do curso de Teatro no Conser- e na “Sagres”, tendo como personagens Sant’Iago da Espada”. Esta últi-
vatório Nacional, que concluiu principais um grupo de cadetes da “ca- ma atribuída em 1998, quan-
com a classificação de 18 va- marata 21”: jovens de diversas origens, do fazia a peça “O Rei Lear”,
lores, e o abraçar de uma car- divididos nas encruzilhadas da vida, en- de William Shakespeare, no
reira profissional que começou tre paixões e contingências, unidos no Teatro Nacional D. Maria II, e
no Teatro Nacional D. Maria II, espírito de corpo e na fraternidade dos imposta pelo Presidente Jorge
dirigido então pela batuta de 200 irmãos que são os alunos da Escola Sampaio, em acto público que
Amélia Rey Colaço. teve lugar no final de um es-
pectáculo. Em 2010, receberia
Desde então, a sua voz e ainda o grau de oficial desta
presença foi uma constante na vida dos mesma ordem, que se destina
portugueses que cedo se habituaram a a premiar o mérito científico
admirá-lo nas salas de espectáculo, no literário e artístico.
teatro radiofónico, no cinema e, mais Esta Escola viu-o há 65 anos como o
tarde, também na televisão, onde ainda cadete António Jacinto, de “Eram Du-
hoje é uma presença constante e uma zentos Irmãos”, mas essa memória foi
referência de excelente artista. constantemente avivada pelos êxitos
que foi acumulando. A homenagem
Da companhia de Amélia Rey que hoje lhe prestamos é um tributo de
Colaço e Robles Monteiro, no reconhecimento do valor ar-
Teatro Nacional, passou para tístico de um grande actor, a
o Teatro Nacional Popular, que é preciso juntar e realçar
dirigido por Ribeirinho e, cin- a militância cívica exemplar,
co anos depois, para o Teatro sobretudo virada para a cultu-
Monumental, do empresário ra e para as grandes questões
Vasco Morgado. Naquelas dé- sociais do nosso tempo, não
cadas de cinquenta e sessenta, hesitando em colocar o seu
do passado século, o teatro prestígio, enquanto figura pú-
era, provavelmente, a forma de blica, ao lado das mais nobres
expressão artística preferida do causas. É a grandeza de quem,
público português, permitindo apesar de tudo, se define como
a existência de várias com- um homem simples. Tão sim-
panhias de teatro comercial, ples como só o conseguem ser
que ocupavam muitas salas as figuras de carácter singular
de espectáculo na capital e na e enorme generosidade. Um
cidade do Porto, realizando di- grande artista, um grande ho-
gressões por todo o país, com mem de cultura e um exem-
grande êxito. Sem a omnipresença da te- plo de vida guiada pelo talant
levisão, que hoje temos, a atracção pelo de bien faire, que foi lema do Infante
espectáculo cénico, enquanto lugar pri- D. Henrique e nos inspira a todos nós.
vilegiado de sonho e fantasia, era muito Bem-haja senhor Ruy de Carvalho.
intensa num público que distinguia bem
os espaços do teatro e do cinema. J. Semedo de Matos
CFR FZ
Ruy de Carvalho conseguiu assim
construir uma carreira que passou pelo N.R.
teatro comercial, destinado ao grande O autor não adota o novo acordo ortográfico.
REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2013 23