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EVOCAÇÃO DO HOSPITAL DA MARINHA
C om a entrada em vigor do decreto-lei que cria Saldanha Lopes, e por fim uma palestra subordinada
o Hospital das Forças Armadas deixou de exis- ao tema “Contributo histórico do Hospital da Marinha
tir o Hospital da Marinha e para assinalar este para a Saúde Naval e Hospitalar” proferida pelo CALM
facto o Almirante CEMA deslocou-se ao velho edifício Menezes Cordeiro, Diretor de Saúde, que a seguir se
do Campo de Santa Clara onde se reuniu com cerca transcreve.
de oitenta convidados entre oficiais, sargentos, praças e
civis maioritariamente ligados ao Hospital. Teve lugar em seguida uma sessão de fotografias de
A sessão começou com uma breve alocução do atual que se destacou uma fotografia do Almirante CEMA
diretor do polo de Lisboa do Hospital das Forças Arma- com todos os antigos diretores e também com todos os
das, Major-General Silva Graça, seguindo-se uma alo- antigos membros da guarnição presentes.
cução do Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante
Por fim realizou-se um almoço na antiga farmácia do
Hospital da Marinha.
CONTRIBUTO HISTÓRICO DO HOSPITAL DA
MARINHA PARA A SAÚDE NAVAL E HOSPITALAR
1797-2012 Duas datas que bali- No final do século XVIII em que esta ini- a função de Ministro da Secretaria
zam o funcionamento do Hospital ciativa teve lugar em Portugal, o conceito da Marinha e Domínios Ultrama-
da Marinha. de Hospital como interveniente terapêutico rinos, D. Rodrigo de Sousa Cou-
aparece como uma novidade. A consciência tinho obtém um alvará régio em
Em termos históricos dez gera- de dever ser um estabelecimento destinado 16 de Outubro de 1796, pelo qual
ções abrangendo toda a idade a curar e não um asilo, é materializada por é criado o Hospital da Marinha e
contemporânea desde os finais do uma nova prática de que fazem parte a visi- um outro alvará em Setembro do
século XVIII até à segunda década ta e a observação sistemática e comparada. ano seguinte que determinava a
do século XXI. Surge nesta altura a noção da necessidade da construção dum edifício próprio
presença e da participação contínua do mé- de raiz. Foi como tal único em Lis-
Em termos de contributo, para dico no hospital o que se designou por “me- boa até à construção do hospital
além do extenso período de as- dicalização hospitalar”. Tendo apadrinhado de D. Estefânia 70 anos mais tar-
sistência prestada aos recursos esta filosofia, pouco depois de ter assumido de. As obras foram dirigidas pelo
humanos da Marinha, diversas arquitecto italiano Francisco Xa-
inovações pioneiras com inegável vier Fabri e foi inaugurado a 1 de
impacto na assistência hospitalar Novembro de 1806. Para a época
em Portugal. era uma construção de vanguarda
que procurava seguir os princí-
O mentor da sua edificação foi pios mais inovadores de concep-
D. Rodrigo de Sousa Coutinho. ção hospitalar. Tinha três corpos
Os modelos que o inspiraram, em e um horto botânico. Dispunha
voga na época iluminista em que de tubagens para águas quentes e
viveu, foram a razão, a abertu- frias, com aquecimento das águas
ra à inovação e a valorização da do Balneário e uma concepção
pessoa humana. Estes princípios racional das cozinhas, conjunto
orientadores integraram de modo de inovações que o colocaram
indelével a cultura desta casa e num patamar de modernidade
múltiplas vezes ao longo destes único na capital. De notar que
mais de 200 anos emergiram pro- nessa data a distribuição de água
porcionando contributos valiosos ao domicílio na cidade ainda não
para o progresso da saúde hospita- existia.
lar e extra hospitalar e não apenas Presenciou este hospital desde a sua inau-
no âmbito da Marinha. Político e guração, e quase de imediato, diversos even-
diplomata bem informado sobre a tos marcantes na história de Portugal:
actualidade europeia da época, preocupou- No ano seguinte à sua inauguração assistiu
-se com o desenvolvimento de um vasto à partida da Rainha e da Corte para o Brasil
programa de reformas para Portugal. Ciente e logo a seguir à ocupação de Lisboa pelo
da importância do poder naval num país de exército de Junot e do hospital por cirurgiões
vocação marítima atlântica, desenvolveu e médicos franceses.
toda uma actividade com vista a reforçar a No ano seguinte em 1808, após a retirada
Marinha. Nesse contexto identificou como da primeira invasão francesa e no cumpri-
fundamental a criação dum hospital próprio mento do estipulado na convenção de Sin-
para controlo mais eficaz dos recursos hu- tra, à presença e colaboração de médicos
manos navais e ainda para abastecimento portugueses, ingleses e franceses, com enfer-
de medicamentos e material sanitário para
os navios e instalações hospitalares fora do
continente europeu.
26 AGOSTO 2013 • REVISTA DA ARMADA