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marias separadas atribuídas a doentes destas “Curso de Cirurgia” para funcionar no Hos- de Lisboa e do Jornal da Sociedade de Ciên-
três nacionalidades. pital Real da Marinha, que veio a servir de cias Médicas de Lisboa. Participou em 1876
matriz para as Escolas Médico-Cirúrgicas de na Farmacopeia Portuguesa.
Em 1821, ao regresso da Corte do Rio de Lisboa e Porto.
Janeiro com o novo Rei D. João VI. Promoveu uma profunda reforma da saúde
Bernardino António Gomes, Pai, médico naval através de medidas algumas com pro-
À guerra civil 1828-1834 tendo no governo do primeiro corpo clinico do Hospital da Ma- jecção que perdurou até aos nossos dias e de
de D. Miguel, servido de hospital-presídio e rinha, é considerado o fundador da derma- que se destacam:
nesse contexto tendo-lhe sido colocadas gra- tologia portuguesa. Botânico e químico com
des nas janelas. prestígio europeu, autor de estudos científi- – Criação dum quadro único de médicos
cos de relevo foi referido como um dos mais e cirurgiões;
Na segunda metade do século XIX, teve importantes cientistas mundiais, ao nível de
lugar na Europa e na América do Norte Pasteur, Koch e Roux. Foi também um pro- – Criação do lugar de “médico de dia”,
uma série de inovações na concep- motor da vacinação anti-varíola em Portugal, com permanência de 24 horas segui-
ção hospitalar decorrentes entre ou- ao fundar, junto com outros médicos, a Insti- das no Hospital e obrigatoriedade da
tras das obras de Casimir Tollet e de tuição Vacínica em 1812, da qual foi director. presença dos farmacêuticos no Hos-
Henry C. Burdette “Hospitals and pital;
asylums of the world” inspiradas pe- Bernardino António Gomes, filho, formado – Reavaliação curricular de todos
los trabalhos de Pasteur sobre o papel em Paris, nomeado director em 1834 pelo os cirurgiões e boticários (farmacêu-
das bactérias como agente de doen- duque de Bragança após o término da guer- ticos);
ças e de Kock sobre os perigos do ra civil, foi o primeiro médico a utilizar o – Obrigatoriedade dos médicos do
contágio. Foi nesse período idealiza- clorofórmio em Portugal e um aparelho de quadro nos navios de prestarem ser-
da uma ampla revisão da arquitectura inalação de éter, como forma de anestesia. viço no Hospital;
e logística hospitalar à luz de novos Estudou a fundo as epidemias motivado em – Criação no Hospital da Marinha
conceitos. Procedeu-se a uma repro- grande parte pelo contacto que tivera no do primeiro serviço de Psiquiatria
gramação das características físicas decurso da guerra com a cólera-morbus no com características modernas de
das unidades hospitalares, estudando cerco do Porto e que em seguida se dissemi- acordo com um modelo que depois
de forma sistemática o espaçamento nou por todo o País causando um número foi reproduzido no estabelecimento
das camas, as condições de insola- de mortos superior ao da própria guerra. Foi do Hospital de Rilhafoles, antecessor
ção e ventilação das salas, as insta- o fundador e colaborador da Gazeta Médica do hospital Miguel Bombarda;
lações de calefação, a circulação do – Elaboração duma tabela de dietas
ar. Começaram a ser avaliados com carácter
sistemático custos por paciente e coeficien- com suporte científico;
tes de mortalidade. A esta nova filosofia não – Estabelecimento de concursos públicos
foram alheias as inovações que ocorreram
no Hospital da Marinha. D. Pedro V visita para fornecimento de medicamentos e de
o Hospital, que depois de obras de moder- alimentos;
nização é considerado na imprensa Lisboe-
ta como “gozando de justificado conceito – Proposta de criação, no âmbito da admi-
pelo asseio e rigor com o serviço que nele nistração central da Marinha Real de uma
é desempenhado”. Muitas outras inovações “Repartição de Saúde Naval”, antepassada
do ponto de vista técnico sofreu esta casa da actual Direção de Saúde;
sempre no intuito de acompanhar a moder-
nidade hospitalar. Para além destas houve – Proposta de criação de Escolas Médico-
inegáveis contributos culturais. De inequívo- -Cirúrgicas em todas as capitais das posses-
co valor artístico, faz parte a colocação logo sões portuguesas vindo a ser concretizadas
em 1814 da estátua do Príncipe Regente D. em Goa e no Funchal.
João, no local onde ainda está e que por isso
foi designado por sala do Príncipe. Expoen- Manuel Maria Rodrigues Bastos, diretor em
te máximo do neoclassicismo português é 1856, promove um novo impulso renovador
uma obra prima do escultor João José Aguiar ao Hospital. Para além duma remodelação do
discípulo de Canova. Por meados do século edifício com deslocação da capela e gabine-
passado foram colocados azulejos na referi- tes da Direcção para o local onde até agora
da sala e no andar superior no piso da capela permaneceram, tomou as seguintes medidas:
e da biblioteca. Hoje são também considera-
dos uma referência artística. – Criação em 1860 do corpo de enfermei-
ros da Armada e unificação do quadro de
É este edifício um importante documento Enfermagem contemplando o Hospital, os
histórico, testemunho cultural da Marinha navios e o quadro do Ultramar;
merecedor como tal de respeito, preserva-
ção e protecção. Em França o antigo hospital – Criação do corpo de Aspirantes a Faculta-
de Marinha de Rochefort ficou inscrito em tivos Navais na Escola Naval, que funcionou
1964 nos monumentos históricos, o que lhe até ao advento da República. Recentemente
proporcionou recursos suficientes para a sua foi aí recriado em 1999 com a colaboração
preservação. da Faculdade de Medicina;
Teve o Hospital da Marinha uma interven- – Imposição de regras obrigatórias de higie-
ção marcante na história da Medicina Por- ne nos navios com inspecções médicas regu-
tuguesa através de figuras célebres que nele lares para avaliar o estado das guarnições e
serviram. efectivos. Antes da partida para as estações
ultramarinas, todos os navios, guarnição e
Inácio Xavier da Silva é o seu primeiro Di- passageiros passaram a ser inspecionados.
rector até 1824 durante 27 anos.
O ensino da enfermagem no Hospital da
Teodoro Ferreira de Aguiar foi cirurgião- Marinha começa em 1892 prolongando-se
-Mor da Armada. Elaborou um plano de até 1979 data em que a Escola de Enfer-
magem da Armada com quase um século
de existência é incorporada na Escola do
Serviço de Saúde Militar.
Em 1887 inicia-se pela primeira vez em
Portugal o ensino de “Higiene e Doenças
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