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S. ROQUE RESTAURADO
Decorreu, de Janeiro a Abril do corrente “ (…) para a além dos referidos pregos que per- Fotos SCH L Carvalhocontinue a degradar e as segundas pretendem
ano, o tratamento de conservação e de furavam o suporte de tela, a grade tinha fendas devolver-lhe a sua função e leitura original.
restauro do retábulo do altar-mor da Ca- que surgiram com o envelhecimento da madei-
pela de S. Roque do antigo Arsenal da Marinha. ra e ainda algumas imperfeições de construção, As medidas de conservação são sempre
tais como arestas vivas e rugosidade na face das colocadas em primeiro lugar e neste trabalho
O retábulo, alusivo à vida de S. Roque, é tábuas que estava em contacto com a pintura, consistiram resumidamente na fixação da tinta
constituído por uma tela de 3,60X2,20m, que o que lhe causou marcas e orifícios”. em destacamento ao suporte de tela; na recu-
data do último quartel do século XVIII, não se peração dos danos desse suporte e elimina-
encontra assinada e está atribuída a José da Acerca do tratamento efetuado, José Mendes ção do excesso de adesivo que ele continha;
Costa Negreiros. referiu que "este se pode separar em medidas e na extração dos pregos da grade de madeira
de conservação, por um lado, e de restauro, por e aplanamento das suas irregularidades. Ain-
Não é a primeira vez que é restaurado, mas outro. As primeiras visam impedir que a obra se da concernente à grade, destaca-se que se
as condições de luz e humidade em que se vê mantiveram as irregularidades na face que
envolvido, não sendo as melhores, têm contri- não está em contacto com a tela, porque estas
buído para uma sucessiva degradação. revelam informações acerca das ferramentas
usadas na construção desta peça de madeira,
A Unidade de Apoio às Instalações Centrais que parece ser original.
da Marinha achou que era altura para atuar e,
nesse sentido, contratou para executar a obra A preocupação em interferir o menos possí-
um especialista nesta área, José Mendes, con- vel com a originalidade da obra, um dos prin-
servador restaurador de pintura de cavalete, cípios da profissão de conservador restaurador,
com larga experiência desde 1996. foi também uma das constantes nas operações
de restauro, tendo sido por isso removida a tin-
José Mendes é atualmente Doutorando em ta que sobrepunha a pintura original, aplicada
Conservação de Pintura pela Universidade Ca- em anteriores restauros, bem como o verniz
tólica Portuguesa do Porto e para este trabalho, alterado e a sujidade que cobria toda a superfí-
dadas as dimensões da obra, teve a colabora- cie. A reintegração cromática cingiu-se apenas
ção de Dina Reis, Mestre em Conservação e às áreas em que a tinta original se perdeu e o
Restauro de Pintura pela Faculdade de Ciências novo verniz foi escolhido e aplicado de forma
e Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa.
a saturar convenientemente as
Foi acordado que a intervenção seria realiza- cores e a conferir um brilho
da nas instalações da Capela e adequado às características da
da sacristia, permitindo assim obra e à iluminação da capela.
à família naval acompanhar
os trabalhos de recuperação Os materiais utilizados nes-
da pintura e observar em tem- te tratamento de conservação
po real a obra que com estes e de restauro têm característi-
se foi revelando. cas especiais, que os diferem
dos utilizados normalmente
Indagado o Dr. José Mendes em belas artes, que são a
sobre o estado em que a pin- compatibilidade com os ma-
tura se encontrava, afirmou: teriais da obra em que são
aplicados, a durabilidade e a
“Esta pintura apresentava possibilidade de serem facil-
problemas de aderência da mente removidos no futuro."
camada pictórica ao suporte
de tela, o que causou a sua Concluídos os trabalhos de
perda em alguns locais e o conservação e restauro, a tela
risco eminente do seu desta- foi colocada na grade e o con-
camento em outros. O verniz junto posicionado no espaço
de proteção encontrava-se respetivo.
bastante oxidado, escurecido De salientar que o trabalho foi acompanha-
e com sujidade depositada, do por alguns "marinheiros", nomeadamente
o que dificultava a leitura formal da obra os mais antigos, conhecedores da obra há
e falseava a observação correta das cores. muitos anos e que por ela têm um sentimen-
O suporte apresentava pequenos rasgos e to de pertença, e que quase diariamente iam
perfurações, muitos deles resultantes de pre- observando o andamento dos trabalhos.
gos que foram introduzidos posteriormente Face à pouca profundidade da Capela de
na grade (estrutura retangular em madeira S. Roque, ao posicionamento das janelas e à
que sustenta a tela). Rasgos antigos, de maio- grande dimensão da pintura, que dificultam
res dimensões, que foram unidos num ante- a sua perfeita visibilidade, a Marinha colocou
rior restauro, encontravam-se cobertos com um sistema de iluminação para uma melhor
tinta, que sobrepunha não só a área danifi- observação da excelente pintura.
cada como a pintura original periférica. Re-
sultado de um restauro anterior, foi também Luís Roque Martins
a aplicação em toda a tela, pelo verso, de um CALM EMQ
adesivo à base de cera e resina, o qual devi-
do à sua quantidade excessiva, incrementava Nota
bastante peso à pintura, deformando-a e tor-
nando-a quebradiça”. Na página seguinte apresenta-se a pintura após
os trabalhos de conservação e restauro.
Sobre a grade de madeira, disse:
24 AGOSTO 2013 • REVISTA DA ARMADA