Page 31 - Revista da Armada

SAÚDE PARA TODOS
ORessonar - Roncopatia - é o barulho
mais ou menos intenso produzido
pelas vias aéreas superiores durante o
sono. Esta perturbação do sono, apesar de mui-
to frequente, deve ser considerada um sinal de
alarme e não um acontecimento normal na vida
de uma pessoa. Quando presente, não deve ser
ignorado, mas sim avaliado e tratado.
A roncopatia é frequente na sociedade atual.
Cerca de 45% dos homens, 25% das mulheres e
17% das crianças ressonam diariamente.
O ressonar não é mais do que o ruído provoca-
do pela passagem do ar através das vias respira-
tórias que, por diversas razões, apresentam uma
obstrução anormal ao fluxo de ar.
O ressonar ocorre durante o sono pois é nessa
altura que existe um relaxamento dos músculos
que mantêm as vias respiratórias superiores aber-
tas. Se as vias aéreas apresentarem já de si um
calibre reduzido, por exemplo devido a um des-
vio do septo nasal, hipertrofia dos cornetos, au-
mento da língua, úvula, amígdalas ou adenóides,
neoplasias das vias aéreas, ou desenvolvimento
anómalo da face, nomeadamente do maxilar su-
perior e da mandíbula, vai existir um aumento na
resistência à passagem do ar, causando vibração
das paredes. Por outras palavras, um indivíduo
ressona porque existe vibração dos tecidos mo-
les aquando da passagem do ar por uma zona
estreita. Quanto maior for a obstrução, maior é a
vibração e o consequente ronco.
O ressonar agrava-se com a idade, obesidade,
tabagismo, consumo de álcool ou determinados
medicamentos, especialmente os que induzem
o sono.
O ressonar não constitui apenas um incómodo
do ponto de vista conjugal, familiar e social, mas
em 5% dos casos pode também ser a fase inicial
da síndrome de apneia obstrutiva do sono (SAOS).
A SAOS é uma perturbação de agravamento pro-
gressivo caracterizada por um ressonar intenso,
incomodativo e com paragens respiratórias com
duração superior a 10 segundos que se repetem
durante a noite, mais de cinco vezes por hora. Ini-
cialmente, os mecanismos fisiológicos de defesa
do organismo detetam a falta de oxigenação e
atuam a nível cerebral após estas paragens respi-
ratórias, promovendo um despertar momentâneo,
o qual repõe o tónus muscular das vias aéreas e
restaura transitoriamente a corrente aérea. Desta
forma, a apneia é interrompida por um breve e
benéfico despertar inspiratório, tão breve que nor-
malmente é imperceptível para o roncador. Em
seguida a respiração normaliza-se até que o sono
se volte a aprofundar e a obstrução reapareça. Este
ciclo pode repetir-se centenas de vezes durante
uma noite. É a quantidade de segundos por hora
sem ventilação e o somatório destas paragens que
ditam a gravidade desta situação.
A reter: apesar de muito frequente, ressonar não é normal. Além de sonolência diurna que leva a acidentes rodoviários e mau rendimento no
trabalho, é também a causa de muitos divórcios pelo mau estar que se cria entre o casal, motivado pela irritabilidade e mau humor do doente,
bem como pela saturação do cônjuge das noites mal dormidas. Se não tratada pode ser mortal pelas alterações cardiovasculares que provoca.
É uma doença que afeta homens e mulheres. Agrava com a idade, aumento de peso, consumo de álcool, tabaco e “medicamentos para dormir”.
30 AGOSTO 2013 • REVISTA DA ARMADA
RESSONAR
Esta fragmentação do sono durante a noite,
leva a uma alteração da sua qualidade, com
consequente cansaço físico. O cansaço pode
ter como consequência a sonolência durante o
dia (com facilidade em adormecer em circuns-
tâncias impróprias tais como a ver televisão, a
trabalhar, a conversar e a conduzir), bem como
a dificuldade de concentração, irritabilidade,
mau-humor, ansiedade ou depressão, dores de
cabeça, perda de interesse sexual e, por vezes,
dificuldades na ereção. A mortalidade está asso-
ciada, sobretudo, a doenças cardiovasculares,
pois cada vez que a respiração para, o nível de
oxigénio no sangue baixa e o coração tem de
trabalhar mais intensamente, levando a um au-
mento da tensão arterial e, por vezes, a acidentes
vasculares cerebrais, enfartes cardíacos ou arrit-
mias durante o sono.
Em caso de roncopatia intensa ou suspeita de
SAOS, o doente deve ser encaminhado para uma
consulta especializada, onde, se o diagnóstico for
confirmado, é planeado o tratamento. Mesmo
sem queixas, quem ressona precisa de ajuda mé-
dica. Ressonar não é normal!
A investigação médica desta patologia pode
seguir diferentes protocolos, contudo é absoluta-
mente indispensável:
1) Uma consulta por um médico Otorrinolarin-
gologista ou Pneumologista que pedirá colabora-
ção a outras especialidades - Endocrinologia, Ci-
rurgia Maxilofacial, Medicina Interna, Alergologia, cerca de 20cm.
entre outras. Já existem centros hospitalares com
consulta multidisciplinar de Patologia do Sono. É
importante que na primeira consulta o doente vá
acompanhado do seu/sua parceiro(a), já que as
principais manifestações ocorrem durante o sono,
sem que o doente se aperceba delas;
6
Polissonografia
Exame feito durante o sono, em clínica
especializada, no qual o paciente está li-
gado a vários monitores, permitindo re-
gistar-se simultaneamente, ao longo de
uma noite inteira, uma série de funções
tais como o electroencefalograma, o
electromiograma da musculatura facial,
o electrocardiograma, os movimentos
respiratórios do nariz e boca, movimen-
tos respiratórios torácicos e abdominais,
nível de saturação sanguínea de oxigé-
nio, a tensão arterial e outros parâmetros
que se julguem necessários.
2) Realização de uma Polissonografia para estu-
do do sono;
3) Realização de uma cefalometria (rx), tomogra-
fia computorizada (TC) e de uma nasofaringolarin-
goendoscopia, para uma visualização indireta e
direta das vias aéreas superiores.
Entre os vários métodos utilizados no tratamen-
to da roncopatia e da apneia do sono, as medidas
comportamentais são consideradas de primeira
linha e consistem na perda de peso, abstenção
do álcool (pelo menos quatro horas antes de ir
para a cama), bem como dos medicamentos para
dormir, pois a grande maioria agrava a apneia do
sono. Tentar dormir de lado, uma vez que muitos
indivíduos sofrem de apneia apenas quando estão
deitados de costas (determinados truques simples
podem ser úteis tais como a bola de ténis presa nas
costas do pijama, que obrigará a uma posição late-
ral durante o sono), ou com a cabeceira levantada
O CPAP (continuous positive air pressure) é atu-
almente a terapêutica mais eficaz. Consiste na apli-
cação de uma máscara no nariz durante a noite.
Este aparelho exerce uma pressão de ar contínua
forçando o ar a passar através das vias respiratórias,
não deixando que a apneia ocorra e permitindo
que o indivíduo respire normalmente sem que o
sono seja perturbado.
Existem dispositivos intraorais que poderão aju-
dar nalguns casos, permitindo uma melhor abertu-
ra das vias aéreas superiores com projeção anterior
da mandíbula, língua e palato mole. Estes apare-
lhos são individuais e confecionados por dentistas
com conhecimento na área.
Os tratamentos cirúrgicos poderão corrigir altera-
ções físicas que prejudiquem a respiração durante
a noite. Estes incluem a rinoplastia, amigdalecto-
mia, adenoidectomia, uvulopalatofaringoplastia,
mentoplastia e o avanço maxilomandibular.
Ana Cristina Pratas
1TEN MN