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NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA (27)
O Velho de Sta. Clara
(…) Sentia-me muito indefeso e muito só. E do antigo Colégio de S. Francisco Xavier medos e esperanças…em tudo semelhantes
sem vontade, agora de chamar por ninguém (também conhecido como Hospício dos Je- aos nossos, só que de outro tempo.
porque (sabia-o) há travessias que só se po- suítas ao Paraíso), prolongando-se as obras
dem efectuar sozinho, sem ajudas, ainda até 1806 (data em que foi inaugurado). Esse tempo fará sempre parte da memória
que correndo riscos de ir a pique numa des- O seu edifício, na altura bastante moder- coletiva do país que somos e particularmen-
sas madrugadas de insónia que nos tornam no, foi Fparborjie1ta. do pelo arquiteto Francisco te deve fazer parte da memória dos mari-
Pedro e Inês em cripta de Alcobaça, jacentes Xavier nheiros da Armada de todas as idades e de
de pedra até ao fim do mundo (…) Senti-me perdido, da mesma forma que o todos os tempos…
excerto acima descreve, jacente dentro de
In Memória de Elefante de António Lobo mim próprio, esquecido de sentimentos. Se quiser acreditar, o ousado leitor, pare-
Esta sensação foi ainda mais agravada, por- ceu-me que uma parte da alma de Portugal,
VAntunes,1979 da nossa alma estava posta à venda. Lem-
i a notícia. Estava na página que, aparentemente, na referida legislação brei-me que noutros países, com histórias
da intranet da Marinha. Tudo se colocam também à venda outras estrutu-
certinho, com o referido des- ras hospitalares, de outros ramos, algumas mais recentes, casas com cerca de uns
pacho…tudo certinho…Fiquei para- também antigas, mas outras muito mais meros 100 anos, são consideradas mo-
do, ali, por momentos, no espaço e recentes…sem demonstrar a devida reve- numentos nacionais e referências cultu-
no tempo. Não parecia real…Dizia rência pela antiguidade secular do nosso rais. Fiquei “jacente na pedra”, quando
a notícia que o Hospital da Marinha velhinho. Este parece tratado como uma me surgiu que um povo sem memória,
estava à venda… vulgar propriedade, uma parcela de terreno, perdeu a parte mais importante do seu
anónima… todo…perdeu a sua identidade…
Não parecia real. O Velho Lobo do
Mar, o Velho de Sta. Clara na minha Ora eu já ao longo de muitos escritos re- Acredito ainda, algumas horas depois
cabeça e (estou certo), na cabeça de velei que as pedras têm alma. A alma dos da notícia, que apesar de todas as “Wall
muitos, pareceria – depois de tantos muitos seres humanos que por lá passaram. Street” do mundo, apesar dos mercados
serviços prestados à nação – destinado ao Muitas vezes, por lá senti as vozes de doen- bolsistas, apesar da crise, parece estra-
Serviço Público. Admitia-se que fosse usa- tes de outros tempos, tratados por Físicos an- nho fazer “time sharing” com a histó-
do no domínio público, como hospital de tigos, de barba e bigode. Lembro as suas do- ria…Afigura-se-me que se há súbita ne-
cuidados paliativos, por qualquer institui- res e os seus padecimentos. Os seus anseios, cessidade de dinheiro, haveriam em Lisboa
ção, que passasse a museu, enfim que per- outras propriedades, admite-se com menos
manecesse nosso – português… carisma do que o Velho de Sta. Clara, alie-
nado assim de forma tão pouco honrada…
Afinal o Velho de Sta. Clara é um dos Certamente hoje vou sonhar com o Velho
mais antigos hospitais de Portugal, que de Sta. Clara. Nesse sonho espero encontrar-
até há alguns meses se mantinha ainda -me um dia junto à Feira da Ladra, com um
em (moderno) funcionamento. Foi criado, dos meus filhos e dizer. Trabalhei aqui. Era
como Hospital Real da Marinha, pelo Al- o Hospital da Marinha, tem muita história.
vará com força de Lei do Príncipe Regente Serve agora o País de outra forma…
D. João de 27 de setembro de1797, sendo
secretário de Estado dos Negócios da Ma- Doc
rinha e Ultramar D. Rodrigo de Sousa Cou-
tinho. O hospital foi construído no local Nota
1 Informação baseada em muitos trabalhos do
Almirante MN Rui Abreu, que dedicou parte da
sua vida à história do Velho do Restelo.
ASSOCIAÇÃO DE FUZILEIROSo passado dia 21 de maio, na sala Discursaram depois aquelas duas individua-
lidades. O Presidente da Direção agradeceu a
da Sede da Associação de Fuzileiros presença dos convidados, especialmente a do
N(AFZ), na cidade do Barreiro, realizou-
-se a cerimónia de inauguração da figura de ALM CEMA, e reiterou o principal objetivo da
“O Fuzileiro” em alto-relevo, da autoria do Associação o apoio, de várias naturezas, aos
escultor Tolentino de Lagos e a entrega de di- sócios e em particular a todos quantos traba-
plomas de sócio honorário e de mérito. lham ou trabalharam em benefício da nossa
Entre os numerosos convidados destaca- Marinha. Por sua vez, o ALM CEMA salientou
vam-se o CEMA, ALM Saldanha Lopes, o que desde os tempos de Guerra de África,
CN, VALM Montenegro, e os Presidentes da embarcado em águas de Moçambique, muito
Câmara Municipal e da Junta de Freguesia do apreciou à meritória ação dos Fuzileiros em
Barreiro, Senhores Carlos de Carvalho e Raul operações e a eles ficou ligado.
Malacão, respetivamente. Seguiu-se um jantar volante que foi acom-
A obra de arte foi descerrada pelo Almirante panhado por música ao vivo e a declamação
CEMA acompanhado pelo Presidente da Dire- de poemas pela sua autora, a Drª. Laurinda
ção da AFZ, CMG Lhano Preto, após o que foi Madeira.
feita a entrega solene dos diplomas.
REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2013 31