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A RESILIÊNCIA NO SERVIR
CLASSE CACINE
Ao sexto dia do mês de Maio do corrente as de salvaguarda da vida humana no mar, pro- É essa família, composta por quem acredita
ano, o navio mais antigo da esquadra “cin- tecção dos recursos marinhos, protecção dos que os navios fazem-se e vivem dessa alma,
zenta” ainda no ativo, celebrou o 44º ani- espaços marítimos sob soberania e jurisdição que alimentada pelas guarnições, continua a
nacional, proteção da riqueza do património fazer com que seja possível a estes navios na-
Nversário ao serviço da Marinha. subaquático e o estreitamento dos laços entre a vegar orgulhosa e persistentemente.
a esteira do NRP Sagres e do população e o mar, entre muitas outras, sendo
NTM/UAM Creoula, com ex- desta forma um exemplo da política naval Apesar da longevidade, continuam atuais e a
periência acumulada e provas assente no “duplo uso”. descrever o sentimento de todos os que um dia
dadas ao longo de mais de 4 décadas, respiraram dessa alma, estas sábias palavras…
as unidades navais da classe Cacine têm Aguardando a chegada de novos meios, esta
o reconhecimento geral das populações continua a ser a classe de navios que se faz re- “Cada um de nós não pode em parte algu-
piscatórias, costeiras e, pelos marinheiros presentar no mar há mais tempo e com maiores ma cumprir melhor o seu dever e servir com
e Homens do mar, que um dia foram índices de empenhamento, tendo até à data mais honra o seu país. Aqueles que em mo-
salvos, apoiados, ou que na presença de demonstrado uma resiliência no servir sem par,
um navio “PATRULHA” sempre se senti- num esforço admirável de conciliação de von- mentos trágicos e difíceis, têm sabido
ram seguros no mar. tades e das estruturas da Marinha, no âmbito mostrar o que valem como homens do
da logística, manutenção e órgãos de decisão mar, não podem deixar de estar extre-
Construído no Arsenal do Alfeite, o superior, assegurando que nunca falte o auxílio mamente agradecidos a um navio que
NRP Cacine efetuou as suas primeiras real e em tempo útil, a todos aqueles que dele lhes deu tamanhas oportunidades.”…
provas de mar em abril de 1969, sendo entre- necessitam no mar.
gue à Marinha em maio do mesmo ano, sob o Por isso, a todos saudamos fraternal-
comando do primeiro-tenente Ernesto Correia Não sendo navios deste século, nem se po- mente. Àqueles que como nós, usam
dos Santos. dendo equiparar às novas plataformas, extra- o botão de âncora, aos que como nós
ordinariamente mais avançadas, quer tecno- andam nos seus queridos navios.
Tendo sido estes navios inicialmente construí- logicamente quer em termos de ergonomia,
dos para operar em África, conforme denuncia esta classe de navios persiste indubitavelmente A todos que como nós, sentem
a sua silhueta esguia, com calados e proas relati- também pelo empenhamento e vontade das um bater no coração, um tremor
vamente baixos, muitas vezes são erradamente muitas guarnições e dos muitos Comandos que no estômago e um fulgor nos olhos
tidos como unidades navais para operar por ela passaram, almejando o Servir Bem, o quando pisam o convés tabuado ou
apenas em rio. Regressado do continente Servir Sempre! couraçado de um navio – um navio
africano em janeiro de 1975, tem sido no da Nossa Marinha.
oceano, ao longo de mais de 3 décadas, São navios com a alma forjada no mar revol- E particularmente nos lembramos, com
que estes navios têm desempenhado to, com a particularidade histórica de saberem saudade e admiração, dos que outrora tri-
com grande eficácia e relativo baixo o que é navegar em rio. Tornaram-se, ao longo pularam este navio, enchendo-se de lustre,
custo, as missões tipificadas que lhes são de diversas gerações, uma escola de vida, uma cobrindo-o de renome.
atribuídas. Das ex-colónias em África, segunda casa e família, para muitos dos mari- Antigos e ilustres comandantes que tão
Angola, São Tomé, Cabo Verde, aos Ar- nheiros que se iniciaram no mar. bem o conduziram em difíceis, delicadas e
quipélagos dos Açores e da Madeira, às importantes missões; briosos oficiais, dedi-
Zonas Marítimas do Sul, Centro e Norte, cados sargentos, galhardos marinhei-
de Portugal Continental, os navios da ros - novos e velhos, antigos e mo-
classe Cacine cingiram-se, por opções dernos. Comandantes e marinheiros,
estratégicas nos últimos anos, às Zonas por todos nós corre o mesmo afeto a
Marítimas do Norte e da Madeira. um corpo de aço e alma de fogo, a
um ser vivo e vibrante que se chama
Dos dez navios patrulhas inicialmente cons- o “NOSSO NAVIO”.”
truídos apenas 3 se encontram operacionais.
Segue nas águas do navio mais antigo da sua Cap. Ten. Sarmento Rodrigues, no tex-
classe, que quase ininterruptamente vai pres- to extraído do livro “Rio Lima” de 1944
tando serviço na nossa Zona Económica Ex-
clusiva, o NRP Cuanza, cujo fim da fase de Em reconhecimento dos 44 anos em
reparação irá permitir integrar novamente o missão no mar, e a todos os Comandos
dispositivo naval, fazendo jus ao seu lema de e guarnições dos dez navios patrulhas
bordo AD MAREM SUNT – “São pelo Mar”. da classe Cacine construídos para servir a Mari-
Expectante para se juntar no mar aos restan- nha, Portugal e os Homens do mar desde 1969,
tes, o NRP Zaire, que aguarda o início de uma assinalou a data comemorando o aniversário a
grande reparação, prevista até ao final do ano. bordo do navio “cinzento” mais antigo da es-
quadra, o VALM José Alfredo Monteiro Mon-
De um vasto leque de missões, destacam-se tenegro, Comandante Naval, acompanhado
do comandante da Esquadrilha de Navios Pa-
trulhas, o CMG Rui Manuel Figueiredo Pereira
da Silva.
Colaboração do COMANDO DO
NRP CACINE
REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013 25