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JUSTIFICAÇÃO DESTE António José Conde Martins sagrou-se, com 13 N.E. SAGRES também venceu. O cadete Pas-
FEITO DESPORTIVO anos, CAMPEÃO NACIONAL em LUSITOS, em coal Rodrigues foi o seu proa nestas provas.
1949, recebendo o troféu “Nobre Guedes”.
Estas «clássicas» e agradáveis recordações de CONCLUINDO: AMBOS, O COMANDAN-
leitura desportiva tiveram eco entre o núcleo dos Mais tarde, durante as viagens de instrução TE ANTÓNIO JOSÉ CONDE MARTINS E O
«clássicos da vela ligeira», que se reúne, habi- de cadetes, venceu torneios em INGLATERRA. ENGENHEIRO FERNANDO LIMA BELLO FO-
tualmente, em Belém. Eco que foi sendo propa- Antes da regata no N.E. Sagres Torbay-Lisboa, RAM EM 1953:
gado, informalmente, entre os clubes do Tejo e em 1955, venceu um torneio em Plymouth na
as diversas gerações de velejadores, pois este pri- classe «Redwing», e outro em Dartmouth, na OS MELHORES ENTRE OS MELHORES
meiro título mundial de campeões portugueses classe «Dinghy». VELEJADORES DO MUNDO!
manteve-se por 28 anos.
Em Brest, venceu o torneio da classe «Vau- Carlos de Menezes Pitta
O elevado número de participantes nesta lou- rien», quando da regata Brest-Canárias, que o
vável iniciativa do CNOCA veio confirmar o
alto grau de desportivismo, companheirismo e PERIPÉCIAS NA DESLOCAÇÃO AO MÓNACO
orgulho que continua a animar e unir as várias AFederação de Vela, com
gerações de velejadores e os diferentes estratos grandes dificuldades fi- financeiras para regressar a Portugal, dado a
das comunidades ainda ligadas, em Portugal, nanceiras à época, não exiguidade de recursos de que dispunhamos».
por profissão ou dedicação, ao MAR. tinha previsto, no seu orçamento, a
deslocação ao Campeonato Mun- Além da honra da vitória mundial, e das ta-
Os meus sinceros agradecimentos aos organi- dial de Snipes no Mónaco. ças conquistadas, a oferta da conta do hotel
zadores, assim como aos que participaram neste Foi João Costa Barata, director também foi um prémio muito festejado...
convívio com os dois pioneiros campeões mun- do Centro de Vela da M.P., com
diais portugueses de Vela. 16 anos de experiência a formar e Na viagem para Lisboa, repetiram-se os pro-
treinar velejadores, o grande impul- blemas do sobreaquecimento do motor do
Foram eles que, vencendo as «magras» con- sionador da participação nacional táxi, não obstante a revisão realizada numa
dições materiais da época, conseguiram hastear nesta prova. Também, graças ao oficina de Monte Carlo, aliás, já usada por
a bandeira de Portugal no mastro de honra, à apoio do pai do proa Antunes Fer- Fernando Lima Bello na sua presença em re-
frente da forte concorrência mundial, em provas nandes, proprietário de uma frota gatas anteriores.
em águas internacionais, na classe mais popular de táxis, foi superado o problema
e numerosa da época. do transporte do snipe. Na passagem pelos Pirinéus, repetiram-se as
De início foi disponibilizado um paragens motivadas pelo excesso de aqueci-
AS CONDECORAÇÕES carro «particular», capaz de aguen- mento.
DOS CAMPEÕES tar a longa viagem de ida e volta. Mas acabou
por se avariar antes do início da viagem. Este Nesta fase, as duas taças foram usadas para
O Presidente da República, General Craveiro imprevisto motivou a substituição por um táxi levar a água e atestar o radiador, até à para-
Lopes, em cerimónia privada, condecorou Morris Oxford, «disfarçado» como reboque. gem forçada seguinte...
ambos com as Medalhas de Mérito Desportivo. Com Antunes Fernandes ao volante, foram
A Câmara Municipal de Lisboa, por sua vez, percorridos cerca de 2000 km em quatro Já na fronteira do Caia foram agradavelmen-
condecorou-os com as medalhas municipais de dias. O proa suplente foi o condutor de ser- te surpreendidos, por um popular felicitando-
Cultura Física, e a Mocidade Portuguesa com as viço, durante toda a viagem, para Fernando -os, com alegria, e exibindo uma reportagem
medalhas de Dedicação e Assiduidade. Lima Bello descansar e chegar mais «fresco» a do jornal ABola, sobre a vitória dos campeões
Mónaco, pois Conde Martins não tinha idade portugueses no Mónaco.
O ENGENHEIRO FERNANDO LIMA BELLO, para conduzir (17 anos).
o «proa campeão do mundo», prosseguiu uma Durante a atribulada viagem dos três jovens Na reta do Cabo ainda se partiu o enga-
brilhante carreira profissional e desportiva, sen- velejadores com o «Garrancho-9294» a re- te do atrelado, obrigando-os a deixarem, ali
do membro honorário do Comité Olímpico In- boque, o «táxi» teve problemas de excesso mesmo, o conjunto snipe/atrelado, seguindo
ternacional, e possui a Medalha Olímpica entre de aquecimento, provocando inesperadas viagem rumo a Lisboa.
muitas outras. paragens para «arrefecer» o motor pouco ha-
bituado a tiradas tão prolongadas em estrada. Mas ao atravessar Vila Franca de Xira, um
O COMANDANTE ANTÓNIO JOSÉ CON- Esta situação motivou o atraso na chegada a agente da Polícia de Viação e Trânsito (PVT)
DE MARTINS, com a especialização em na- Mónaco, para a madrugada da véspera do dia mandou parar o táxi para lhes passar uma
vegação submarina e o tempo passado no mar, do início do campeonato. multa. Porquê? Por não terem tapado o sinal
encurtou a carreira de velejador. Por esse motivo, não conseguiram con- de reboque...
cretizar o plano para treinarem as rotinas da
Uma curiosidade é que todas as suas vitórias equipa nas águas da prova, já que esse dia foi Depois de tantas peripécias, lá conseguiram
foram com proas diferentes, por variados moti- destinado pela organização para a medição chegar, com algum atraso, recompensado,
vos, alguns imprevistos. oficial das embarcações concorrentes. porém, pela apoteótica recepção e desfile
Os futuros campeões mundiais nem sequer até ao Rossio onde no Palácio da Indepen-
Também foi distinguido com a Medalha Olím- tinham feito uma regata juntos. Apenas vele- dência, no decorrer de uma sessão de boas-
pica, por ter sido considerado o melhor atleta jaram uma vez no Tejo. -vindas, foram justamente homenageados por
amador em 1953. No entanto, iniciaram o campeonato alcan- representantes da Mocidade Portuguesa e da
çando um honroso 2º, atrás da favorita equipa Federação Portuguesa de Vela, na entusiástica
O seu nome ficou gravado no Troféu Hub americana de Tom Frost. Mesmo usando as presença de velejadores, familiares e amigos.
Isaacks que imortaliza os respectivos campeões, «tradicionais» velas de algodão do Garran-
recebendo a taça “Prince Souverain de Mona- cho-9294, mais pesadas, do que a grande Valeu a pena!
co” e a “Coupe du Yacht Club de Monaco”. maioria dos outros concorrentes que já usava
velas de «dracon».
Curiosamente, iniciou a carreira de velejador Outra curiosidade digna de registo. Segundo
na classe de “LUSITOS”, no antigo Centro de Conde Martins «... pelo facto de termos ganho
Vela da Mocidade Portuguesa em Algés, onde o Campeonato, foi-nos oferecida a estada no
residia. Hotel Paris (ainda hoje uma referência no Prin-
cipado), sem o que não teríamos possibilidades
O Lusito era, então, a embarcação portuguesa
de instrução para jovens velejadores iniciados.
Totalmente de concepção e construção nacio-
nal. Foi criada por três vultos pioneiros da vela
portuguesa: projectada por Rudolfo Fragoso e
Nuno Calado, e construída por mestre João dos
Santos Brites, que também construiu o snipe
«Garrancho», tal como largas dezenas de outras
embarcações de alta competição internacional.
REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2013 29