Page 24 - Revista da Armada
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ESPADAS DA MARINHA PORTUGUESA
As espadas navais em uso Portanto, por volta de 1850 cabia ao Oficial compostas por bandeiras cruzadas,
na Armada Portuguesa da Armada Portuguesa o uso de espada do tipo por instrumentos náuticos (esfera ar-
entre 1835 e 1910 inglês. Atesta essa prática, um modelo precoce milar, réguas e esquadros náuticos) e
dessa arma, hoje da colecção do Palácio Nacio- por uma sereia soprando num búzio.
Em meados do século XIX em Portu- nal da Ajuda, de fabrico português, marcada "Ar- À esquerda das bandeiras cruzadas,
gal, já era generalizado o porte pelos senal do Exército", a ácido na lâmina que perten- observa-se uma peculiar cábrea4.
Oficiais da Armada Real, duma espada ceu ao Infante Dom Luís de Bragança, enquanto O conjunto do pequeno copo, com
de Marinha de modelo Regulamentar jovem Aspirante3 da Marinha Real Portuguesa . 90 mm, é também orlado por folhas
Inglês de 1827. Como todas as primei- Fora uma lâmina com dimensões pouco usuais de louro, cinzeladas. Estamos peran-
ras versões da espada naval Inglesa de de 460 mm, por se tratar de uma espada enco- te um fabrico de grande qualidade e
1827, essas armas tinham um copo mendada para um Príncipe ainda adolescente, a muito personalizado que atesta segu-
cheio de metal dourado, fechado em arma tem todas as características Regulamenta- ramente uma pertença Real. As iniciais
forma de vela, decorado por uma ân- res Inglesas: um punho em forma de cabeça de IDLF (Infante Dom Luís Filipe) figuram,
cora encimada por uma Coroa em re- leão preso por botão e forrado de marfim, um aliás, finamente cinzeladas no painel
levo (por vezes uma Coroa Portuguesa copo de metal dourado, etc. No entanto, o exte- exterior do bocal da bainha da espada,
ou, eventualmente, uma Coroa Inglesa Saint rior da guarda termina por uma invulgar cabeça cercadas por louros e encimando uma
Edward1), um punho de metal dourado, decora- de ave marítima e o exterior do copo é profusa- pequena âncora cruzada sobre uma madre de
do com uma juba e cabeça de leão mordendo mente decorado por uma belíssima reserva oval leme. Lê-se, gravado a ácido num dos lados da
a guarda da espada (motivo tradicional já usa- que encerra uma âncora e um cabo encimados lâmina, a inscrição "Sereníssimo S. Infante" (ver
do em finais do Século XVIII, pelos Oficiais da pela Coroa Real Portuguesa e cercada de louros. espada nº 1 ).
"Royal Navy"). O punho era forrado por uma lixa Esse conjunto é excepcionalmente acompanha- O Palácio da Ajuda possui outra espada de Mari-
e preso por um botão de pomo. do por três outras reservas orladas de louros e nha de Oficial, de meados do século XIX, que perten-
ceu ao Infante Dom Luís. Esta é também uma arma
Para tal evolução do armamento da Marinha muito provavelmente fabricada em Portugal, segun-
Portuguesa, tinha
sido determinante do o modelo Inglês,
a escolha feita em por volta de 1850. Foi
1827, pelo Almi- usada pelo Infante,
rantado da “Royal ainda no posto de Ca-
Navy” dum novo pitão-de-Fragata, en-
tipo de arma espa- quanto Comandan-
da Regulamentar, te da Corveta Mista
única, ora para a vapor Bartolomeu
uso protocolar ora Dias 5. Tem lâmina
para combate, ligeiramente curva,
portanto para porte lisa e relativamente
com vários tipos de curta de 525 mm;
Uniformes. Por in- punho de marfim
fluência inglesa, o uso desta espada naval foi-se torneado, com fio de
tornando corrente na nossa Armada, substituindo arame de metal amarelo nas caneluras e empunha-
progressivamente os dois tipos de espadas (flore- dura com cabeça de leão de grandes dimensões.
te e sabre) usados anteriormente pelos Oficiais e O copo da espada, dourado a ouro fino e primo-
acabando, quiçá, por marcar um regresso a uma rosamente cinzelado, comporta uma reserva oval
arma com copo bastante semelhante a algumas delimitada na qual figura uma âncora encimada
variantes da típica por uma Coroa. O seu interior é invulgarmente
espada Portugue- decorado com mo-
sa de “Guarda de tivos vegetalistas.
Vela”, do Século O painel da ferra-
XVIII. Outra ino- gem superior da
vação, essas novas bainha ostenta um
espadas incorpora- monograma co-
vam um mecanis- roado DLF (Dom
mo de segurança Luís Filipe). Cinze-
que consistia numa lada na braçadeira
patilha articulada central, figura uma
situada no prolon- âncora. A ferragem
gamento lateral da inferior da bainha
guarda. Esta patilha, termina em forma
quando dobrada, fixava-se ao bocal da bainha. de guarda lama.
No Museu de Marinha de Lisboa, encontramos
É esse modelo de espada regulamentar de 1827 variadíssimos modelos regulamentares de “Espa-
da “Royal Navy” que, salvo algumas pequenas das do Padrão da Marinha” usados por Oficiais
modificações (nomeadamente as características da Marinha Real Portuguesa, durante a segunda
e dimensões das lâminas), se encontra ainda hoje metade do século XIX até 1910, idênticas ou de-
em serviço na Marinha Portuguesa, sendo o seu rivadas do modelo “Royal Navy” de 1827. Um
porte generalizado em muitas outras Marinhas2. retrato pintado a óleo do Vice-Almirante Viscon-
24 DEZEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA