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Contudo, a versão final do mesmo Regulamento ser substituída por “material semelhante”. características da guerra contemporânea no mar
publicada em Outubro de 1911, não refere a De 1910 até à década de 1980, as espadas retiraram, por assim dizer, todo o protagonismo
"estrela" e o seu anexo restringe-se a dar informa- regulamentares da Marinha Portuguesa conti- bélico à espada do Oficial de Marinha. No en-
ções visuais sobre as bainhas (forma e motivos nuaram a ter origens diversas, sendo geralmente tanto, a espada naval não se tornou um simples
do bocal, da braçadeira central e do guarda- de fabrico alemão de Solingen (eg. Casa Karl ornato. Mais do que um meio de combate ou
-lamas) e os fiadores.
de defesa, o modelo corrente em uso pelo
Perante estas novas normas, muitos Ofi- Oficial da Marinha Portuguesa constitui um
ciais da Armada, por razões economicis- importante símbolo representativo do co-
tas, conservaram as suas armas antigas, mando e valores militares. Durante o Esta-
mandando simplesmente afagar a Coroa do Novo, era entregue após a Cerimónia de
Real (ver Espada nº 4) omitindo-a do copo Juramento de Bandeira, pelo Presidente da
da espada, guardando porventura as lâ- República, aos novos Oficiais da Armada.
minas decoradas ou gravadas com inscri- Actualmente é individualmente entregue
ções do período da Monarquia, por estas pelo Chefe do Estado-Maior da Armada aos
não se encontrarem visíveis com a espada Aspirantes, em Cerimónia de Juramento de
embainhada. Outros oficiais, em gesto Bandeira e Entrega de Espadas, no final do
de adesão à República, mandaram cra- Curso da Escola Naval (ver Imagem nº 2).
var uma estrela de metal de cinco pontas Marca assim a passagem à carreira de Ofi-
no copo da espada, por cima da âncora, cial de Marinha. A espada irá acompanhar
substituindo a Coroa Real, por forma a aca- Imagem nº 2 o Oficial ao longo de toda a sua vida Militar
tar os novos Regulamentos (ver Espada nº 5). Eickhorn ou Casa WKC-Weyersberg Kirsch- (ver Imagem nº 3).
O fiador da espada de Oficial General é, na Re- baum & Co.), espanhol (Fabrica de Armas de Refere-se por razões de uniformização e ins-
pública, constituído por cordão de fio de ouro de Toledo) e também algumas de fabrico português titucionais que, a partir de 1958, as espadas
400 mm com borla de canotilho de ouro fosco (Casa PC, Casa Jorge e Santos de Lisboa, até aos dos Cadetes são fornecidas pela Armada. Ao
liso. O fiador para Oficial Subalterno é de fio de primeiros anos da República). Ao contrário do longo destes últimos 20 anos, a espada dos
ouro entrançado de seda azul, terminando com estipulado pelo Projecto de Regulamento de Oficiais da Marinha Portuguesa, tem sido en-
uma pera encanastrada de fio de ouro e tem comendada em Toledo ou em Solingen.
pinha de correr. O actual modelo provém da Casa Alemã
WKC Stahl - und Metallwarenfabrik, um
Após 1911, no que respeita às espadas dos tradicionais fornecedores da Armada.
navais portuguesas, há a referir somente pe- As guardas dessas armas continuam a ser
quenas modificações introduzidas nos Pla- cinzelas, douradas a ouro de 24 quilates e
nos de Uniformes para os Oficiais da Mari- polidas à mão. As lâminas são gravadas a
nha, respectivamente em 1930, em 1960 e, ácido, segundo as técnicas tradicionais.
ultimamente, em 1995. Curiosamente, no
que concerne às espadas do início da Re- A nossa espada naval Regulamentar,
pública até 1995, as estampas anexas aos “Espada do Padrão da Marinha”, modelo
Regulamentos da nossa Marinha continua- único para todos os Oficiais da Armada (in-
vam unicamente a propor os pormenores cluindo os Oficiais Fuzileiros), é usada em
dos desenhos das bainhas (guarnições su- numerosas ocasiões e actos protocolares e
periores, médias e inferiores). Contudo, o cerimoniais da Marinha, nomeadamente
Artigo 41º do Regulamento de Uniformes com os Uniformes nº 1-A, nº 3-A e nº 4-A
de 1960 procede a uma descrição detalha- Imagem nº 3 (Entregas de Comando, Tomadas de Posse,
da do modelo de espada para Oficial, Aspirante 1911, o texto legal de 1960 já não faz referên- Desfiles Militares, Actos de representação e pro-
a Oficial e Cadete da Marinha: “Lâmina de aço cia a copos decorados com “estrela” e a lâminas tocolares, entre outros) (ver espada nº 6). Símbo-
polido, ligeiramente curva, com meia cana e “sem efeitos”. Deveras, alguns Oficiais da Arma- lo do poder e de autoridade conferida, a espada
comprimento entre 750 mm e 800 mm, e copos da continuaram a usar, nesse período, espadas naval perpetua e congrega assim uma gloriosa e
de metal dourado”. Determina igualmente a di- com lâminas gravadas, algumas com a legenda ancestral tradição de séculos, na continuação do
mensão da âncora que ornamenta o copo modelo de espada escolhida em 1827 pela
e sua colocação dentro duma elipse, o pu- “Royal Navy” para os seus Oficiais, e adop-
nho necessariamente encimado de cabeça tada pela mais antiga Marinha do Mundo, a
de leão, forrado no seu interior de marfim Armada de Portugal.
ou osso branco”. Finalmente, estabelece
que a bainha de couro deverá possuir três Bibliografia
guarnições de metal dourado, conforme – Annis, P.G.W: «Naval Swords», StackPole
estampas que anexa, idênticas às do Regu- Books, Cameron and Kelker Streets, Harrisburg,
lamento de 1911. Pa., 1970.
– Cutileiro, Alberto: “O Uniforme Militar na Ar-
O RUMM (Regulamento de Uniformes mada, Três Séculos de História”, Vol. I, II e III,
dos Militares da Marinha) de 1995, actual- Amigo do Livro Editores, 1983, Lisboa.
mente em vigor, descreve de forma porme- – Diniz, Carlos L.S: “Repertório da Legislação
norizada, no seu Artigo 30, a espada do Permanente da Armada”, referida a 30 de Ju-
Oficial da Marinha, incluindo finalmente e nho de 1891, Volume I e II, Lisboa, Imprensa
pela primeira vez, nos seus anexos, uma es- Nacional, 1891.
tampa em perspectiva, com desenhos com- Imagem nº 4 – Kennard, A.N; May W.F: “Naval Swords and Firearms”,
pletos da arma Regulamentar (punho, copos e “Portugal”, outras com o lema da Marinha de Her Majesty´s Stationery´s Office, London, 1962.
conjunto da espada e da bainha) (ver Imagem Guerra Portuguesa “APátria Honrai, que a Pátria – May, W.E and Annis, P.G.W: “Swords for Sea Servi-
nº 1). Conforme o texto do novo Regulamento, Vos Contempla”, provavelmente por gosto e por ce, Volumes I and II”, Her Majesty´s Stationery Office,
é aceite que certos materiais sofram hoje uma proposta das casas fabricantes de espadas. London, 1970.
adaptação, como por exemplo a forra de mar- De resto, a evolução do armamento, nomea-
fim ou de osso branco que pode eventualmente damente a supremacia das armas de fogo, e as
26 DEZEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA