Page 25 - Revista da Armada
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de de Soares Franco, da colecção do Museu,                                                             meria Real de Toledo”). Estas últimas tinham
oferece-nos um bom registo visual do exem-                                                             frequentemente gravadas nas suas lâminas o
plar de arma de Oficial General da Armada,                                                             ano de fabrico8. Além da qualidade das fundi-
por volta de 1860. Está exposto em vitrina o                                                           ções inglesas, alemãs ou espanholas, interessa
original dessa espada, de lâmina direita, de                                                           notar que muitas das lâminas eram ligeiramen-
fabrico inglês, do período Vitoriano, (fabrico                                                         te curvas, de tipo "Wilkinson" (algumas com
da Casa Wilson, de Londres) conforme atesta                                                            contra-gume), e ostentavam, por encomenda,
a legenda “Dieu et mon Droit” gravada na lâ-                                                           inscrições patrióticas gravadas (a ácido ou por
mina e a Coroa “Saint Edward” cinzelada no                                                             fundição da lâmina). Na velha tradição mo-
copo (ver Espada nº 2). São espadas de copo                                                            nárquica, “Viva Dom Carlos”, “Viva El Rei de
cheio, de metal dourado, com uma âncora em                                                             Portugal" ou “Viva Portugal” eram as inscrições
relevo encimada por uma Coroa Real coloca-                                                             mais frequentes. Outras lâminas de espadas na-
da numa elipse, capacete de metal dourado,                                                             vais ostentavam, gravados, a origem ou nome
preso por um botão de pomo, figurando uma                                                              do fabricante e ornatos marítimos diversos, des-
cabeça de leão mordendo a extremidade do sas também) vinham dos centros de produção in-                de âncoras encimadas por coroas, naus, troféus
guarda-mão, punho de madeira forrado por gleses, de Birmingham ou de Londres (punções                 de armas, volutas entrelaçadas, navios a vela ou
uma lixa branca e filigrana de latão, e articulação de provas inglesas para fabricos das Casas Henry  a vapor, entre outros.
da patilha de suspensão. Muitas dessas armas Wilkinson de Pall Mall7; Robert Mole and Sons,            As decorações das ferragens das bainhas das
eram fabricadas por encomenda e importadas, e ou outros armeiros ingleses de renome (Batson of        espadas da segunda metade do século XIX apre-
não era de todo raro encontrarem-se nessas                                                              sentavam, também elas, muitas variantes, tes-
espadas copos com Coroas Inglesas em lugar                                                              temunho da arte e do critério dos fabricantes.
de Coroas Reais Portuguesas, marca evidente                                                             Se muitas bainhas, nomeadamente os mo-
da proveniência da arma e da influência do                                                              delos fabricados em Portugal, comportavam
armamento ligeiro inglês na Armada Portu-                                                               uma âncora na parte superior ou bocal, esta
guesa desde finais do século XVIII.                                                                     podia estar acompanhada por ornatos geomé-
                                                                                                        tricos ou temas vegetais (folhas de acanto por
 De facto, os textos legais que regulamen-                                                              exemplo) ou mesmo temas florais, ao gosto
tam os Uniformes da Marinha Real Portu-                                                                 dos espadeiros portugueses.
guesa durante toda a segunda metade do
século XIX, são sistematicamente, e conti-                                                                Quanto ao uso e ao manejo das espadas,
nuamente, omissos de estampas relativas                                                                 merece apontarmos, por exemplo, que em
às espadas dos Oficiais. Os textos legais do                                                            1891-1892, o Regulamento da Escola Na-
século XIX limitam-se a dar informações                                                                 val incluía no horário do primeiro ano lec-
muito genéricas sobre                                                                                   tivo, uma hora de esgrima e de ginástica. No
as espadas (referindo
uma “Espada Padrão                                                                                                            segundo ano, a forma-
da Marinha”), mas de-                                                                                                         ção dos alunos com-
terminam, no entanto,                                                                                                         portava semanalmente
a obrigatoriedade do                                                                                                          aulas de esgrima, com
uso das armas em fun-                                                                                                         uma duração de duas
ção do posto e do tipo                                                                                                        horas. É igualmente
de uniforme (Patrões                                                                                                          interessante notar que
das Galeotas Reais: Decreto de 1856; Oficiais London, Cater and Sons, Harvey, Osborne, entre                                  poderá ter existido
dos diversos Corpos da Armada: Decreto de outros). As espadas mais comuns, mas também                 uma espada de Oficial, mais específica para
1874; Escola Naval: Decreto de 1886; Corpo de de grande qualidade, eram produzidas para a             combate, que se distinguia dos demais mode-
Marinheiros: Decretos de 1886 e de 1890). São Armada em Solingen, na Alemanha (ver Espada             los por ter lâmina lisa, mais grossa e larga, sem
acessoriamente dados outros pormenores como nº 3), com vários tipos de acabamentos, ou em             ornatos. O Museu de Marinha e a Escola de Tec-
as forras dos punhos das espadas do “Padrão da Espanha, em Toledo (Real Fabrica de Espadas de         nologias Navais da Marinha Portuguesa (ETNA),
Marinha”, que eram brancas para os Oficiais e Toledo, eventualmente com punção ART: “Ar-              conservam vários exemplares dessas armas, no-
pretas para os Sargentos-ajudantes, Segundos-                                                         meadamente de fabrico alemão, Solingen.
-Sargentos, Mestres e Contramestres, segundo
os Regulamentos de Uniformes desses anos.                                                             Os modelos regulamentares de
O conjunto das espadas no período que medeia                                                          espadas navais durante a Repú-
de 1850 a 1910, tem lâminas com tamanhos                                                              blica, de 1910 até à actualidade
variáveis, de 700 mm a 900 mm.
                                                                                                       Com o advento da Primeira República, o Re-
 No último quartel do século XIX, os fabricos                                                         gulamento de Uniformes para os Oficiais da
das espadas da Marinha Real Portuguesa, tinham                                                        Armada de 1911 introduz algumas novidades
origens diversas. Contrariamente aos séculos                                                          em matéria de armamento branco. Por entre
XVII e XVIII, já eram escassos os armeiros portu-                                                     o objectivo de “Adaptar, reduzir e simplificar
gueses, sendo o mais importante a Casa Jorge e                                                        Uniformes...”, existe também uma vontade de
Santos, de Lisboa, (mais conhecida por “Sirguei-                                                      “Fixar o modelo da Espada”9. Por Decreto, a Co-
ria Bello”6), que dispunha duma "Oficina de Es-                                                       roa é omissa da decoração do copo da espada
padeiro"; ou também a Casa J.C., de Lisboa. Eram                                                      que deverá passar a ter unicamente: “Lâmina de
oficinas com produções limitadas, que muitas                                                          aço liso, polido, sem enfeites, com 750 mm a
vezes fabricavam os copos e os punhos das ar-                                                         800 mm de comprimento, tendo ponta de lança
mas brancas nas quais montavam lâminas im-                                                            com dois gumes, com meia cana e ligeiramente
portadas do estrangeiro. Isso significa que a gran-                                                   curva”. O Projecto de Regulamento de 191110,
de maioria das espadas da Armada Portuguesa                                                           dava directivas sobre a decoração do copo da
de finais do século XIX tinha três proveniências                                                      espada: "com o emblema, uma âncora encima-
principais. As mais exclusivas (e mais dispendio- Imagem nº 1                                         da por uma estrela de cinco bicos, em relevo".

                                                                                                       REVISTA DA ARMADA • DEZEMBRO 2013 25
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