Page 15 - Revista da Armada
P. 15
REVISTA DA ARMADA | 481
essas inspeções foram cumpridas sem o menor to para ser explorado por mergulhadores. a preparação final e praticar o processo de colo-
reparo. No entanto, no início deste projeto al- Embora não fosse necessário ao afundamen- cação de cargas pirotécnicas e explosivas para o
gumas (poucas) vozes se manifestaram contra, afundamento dos navios;
mas os factos vieram provar todas as mais valias to, foram colocados no navio três pontos de
que suportam este projeto. pirotecnia que quase em simultâneo com o re- ■ As diversas entidades de quem dependem
bentamento das cargas que fazem as aberturas as autorizações e inspeções puderam colocar
Tendo sido concluída a preparação em Alhos no casco abaixo da linha de água, explodiram e em prática aquilo que só estava no papel e nun-
Vedros, foi chegada a hora do navio ser rebocado criaram o efeito visual de bolas de fogo. ca tinha sido implementado;
para Portimão onde nas duas semanas anterio-
res ao afundamento se fazem os trabalhos finais. Desta vez a moldura que cercava o local de ■ Quanto ao local, é já neste momento um vi-
afundamento estava bem composta por diver- veiro de peixe; os dois primeiros naufrágios estão
Mas, mais uma vez este navio voltou a “fazer- sos tipos de embarcações cheias de pessoas que completamente cobertos de organismos e as visi-
-se difícil” porque foi necessário aproveitar a quiseram presenciar um evento raro, que foram tas de mergulhadores já superam as expetativas.
maré e logo na saída encalhou antes de alcançar mantidos fora do perímetro de segurança deter-
o canal dos catamarans do Montijo. Tal “enca- minado e mantido pela Autoridade Marítima. Em menos de um ano ficou completa a fase
lhanço” obrigou a espera de nova maré na ma- de afundamento dos quatro navios, a qual
drugada seguinte e após novo “puxão” eis que Mas este projeto contempla ainda a instala- necessitou, no entanto, de quase seis anos de
volta a encalhar noutro local. Só no final desse ção de uma câmara hiperbárica (já adquirida) trabalhos prévios, nomeadamente o reconheci-
dia se conseguiu safar o navio e levá-lo para o no hospital de Portimão. Esse equipamento é
mar da palha onde trocaria de rebocador. semelhante àqueles que estão instalados no mento das mais valias do projeto e as autoriza-
hospital Pedro Hispano no Porto e no hospital ções das inúmeras entidades oficiais que foram
O reboque até Portimão não teve quaisquer da Marinha em Lisboa, que atualmente estão a chamadas a dar o seu parecer.
percalços, mas a manobra de atracar ao PAN foi funcionar de segunda a sexta com sessões de
altamente dificultada pelo vento e pela corren- manhã e de tarde (já com listas de espera), fa- É chegado o momento de reconhecer que há
te de maré que se faz sentir no rio, pelo que só zendo tratamentos de variadíssimas patologias. em Portugal (em Portimão) um sítio único no
na terceira tentativa foi possível atracar. Mundo onde qualquer operador turístico, qual-
É um facto que este equipamento é crucial no quer mergulhador, pode exercer a sua atividade
Mas voltando um pouco atrás, algumas das tratamento de acidentes de descompressão, num recife artificial que é, ao mesmo tempo, um
pessoas que prestaram serviço a bordo deste sobretudo nos relacionados com o mergulho, museu subaquático, criado com todas as precau-
navio referenciaram que o mesmo era famoso mas também e porque recentemente saímos ções ambientais e de segurança.
por ter uma mesa de matraquilhos a bordo, e da época de fogos, a câmara hiperbárica é o
nesse sentido o homem por detrás de todo este aconselhado no tratamento de desintoxicação Persistência e mérito são duas palavras que
projeto, Luís Sá Couto, não quis deixar de colo- por inalação de fumos. Nesta situação uma úni- definem a pessoa que está por detrás do pro-
car a bordo uma mesa de matraquilhos adquiri- ca sessão é suficiente para a recuperação do pa- jeto OCEAN REVIVAL. A persistência de alguém
da em segunda mão. ciente, enquanto que em tratamento hospitalar que idealizou afundar navios num local da cos-
requer uma semana de internamento. ta do Algarve para juntar mais uma atividade
Os preparativos finais em Portimão foram na (não sazonal) na região, que no início conse-
primeira semana executados pelos estaleiros Que balanço se pode fazer para as entidades guiu reunir à sua volta investidores, mas que,
Batistas SA que tiveram de remover a selagem que se envolveram neste projeto? dada a demora de seis anos e a conjuntura que
necessária à viagem de reboque de Lisboa a nos últimos dois anos e meio esteve em re-
Portimão e a abertura das últimas passagens ■ A Marinha e o Ministério da Defesa Nacio- cessão, não puderam esperar; o mérito de ter
interiores e as do casco. nal conseguiram a seu tempo ter a visão de que conseguido, só por si, o que muitos duvidaram e
este activo (os quatro navios) vai valer muito nem se atreveram a tentar.
Na última semana o trabalho foi executado mais ao País como recife artificial do que ven-
pelas equipas do CARC – Canadian Artificial Reef dido como sucata; No entanto, as portas foram abertas e neste
Consultants e da Marinha, e consistiu na prepa- momento já se fala em novos projetos de cariz
ração e colocação da pirotecnia e dos explosivos. ■ A CARC junta ao seu currículo quatro navios semelhante para outras regiões do País.
afundados em Portugal e com um recorde de
Durante esta última etapa, à semelhança das dois afundamentos no mesmo dia; O sonho de um homem (Luís Sá Couto) tor-
anteriores, esteve sempre presente uma equi- nou-se uma realidade que após tanto tempo
pa de mergulhadores sapadores da Marinha, ■ Os estaleiros Batistas SA ganharam uma conseguiu derrubar as muitas barreiras que se
tendo em consideração o tipo muito específico competência mais, a de descontaminar navios lhe foram deparando e concretizou esse sonho
de explosivos que se utilizaram. para serem afundados como recifes artificiais e que deve orgulhar o próprio e Portugal.
local de mergulho;
Uma vez mais as condições meteorológicas e OCEAN REVIVAL
a maré não foram facilitadoras no dia do afun- ■ A equipa de mergulhadores sapadores da http://oceanrevival.org/pt/facebook/oceanrevival.org
damento e, contrariamente ao que tinha sido Marinha teve a oportunidade de acompanhar
“hábito” nos anteriores afundamentos, o navio
só pôde zarpar do PAN de Portimão pelas 10
horas (duas horas mais tarde) porque as corren-
tes de maré no rio assim o determinaram.
Mas também o mar e a ondulação foram
motivo para preocupação pelo que o posiciona-
mento do navio também foi muito dificultado,
tendo em determinado momento o navio fica-
do à deriva pois os cabos que o prendiam aos
rebocadores soltaram-se.
Por fim, e com uma hora de atraso em rela-
ção à hora prevista (13 horas), estavam coloca-
dos os detonadores, foi feita a contagem final
e foram acionadas as cargas que afundaram o
navio. Foi um afundamento perfeito e o navio
“desceu” em cerca de 1 minuto e 15 segundos
tendo ficado na sua posição natural num fundo
de cerca de 30 metros de profundidade e pron-
JANEIRO 2014 15