Page 17 - Revista da Armada
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REVISTA DA ARMADA | 481
A GÉNESE
DA MARINHA
PORTUGUESA
(1147-1225)
PARTE 1
A FUNDAÇÃO (1147-1190):
UMA MARINHA INCIPIENTE?
INTRODUÇÃO
Entre a mítica batalha do Cabo Espichel, em Fig. 1a/1b – Diego Xelmírez, arcebispo de Compostela (miniatura do séc. XIII) e D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques (litografia
1180, na qual o lendário D. Fuas Roupinho te- de Pedro Augusto Guglielmi, 1942). O primeiro foi responsável pela criação de uma frota de galés destinada a proteger as costas
ria obtido a primeira vitória naval portuguesa galegas das incursões sarracenas e normandas; a segunda mandou armar barcas para protecção da foz do rio Minho.
sobre os Mouros, e a nomeação do genovês
Manuel Pessanha como almirante, por D. Di- ticamente, ausente da acção estratégica nacio- alguns corsários. Nos reinados de D. Afonso
nis, em 1317, os historiadores inclinam-se mais nal, centrando-se esta quase exclusivamente Henriques e D. Sancho I fala-se genericamente
para a segunda como a data fundadora da Ma- nas conquistas territoriais (sem desprezar, na- destas acções e da necessidade que os monar-
rinha Portuguesa. No entanto, o Mar foi, desde turalmente, o papel de uma modesta compo- cas tiveram de armar alguns pequenos navios
sempre, um factor indissociável da sustenta- nente naval no apoio às operações terrestres, para lhes dar caça e proteger os portos e bar-
ção de Portugal como estado independente e, de que é exemplo a utilização de barcas arma- cos pesqueiros.
provavelmente, o país jamais teria viabilidade das na protecção da foz do rio Minho durante
se os nossos primeiros reis não tivessem segui- a expedição de D. Teresa a Tuy em 11211). Con- Só a partir de 1147, com a conquista de
do uma estratégia marítima coerente e dado quanto fossem, gradualmente, empurrados Lisboa, o País passa a dispor de um porto de
a devida importância ao emprego de forças para o Sul, os mouros mantinham o domínio mar de grande envergadura associado a uma
navais, não apenas em apoio das operações das rotas marítimas da costa portuguesa sem grande cidade marítima2. O passo seguinte foi
terrestres mas também como um indispensá- necessidade de grande frota, bastando armar dado com a conquista de Alcácer do Sal (1157).
vel vector de projecção de força. Ficava, deste modo, assegurada a posse dos
Neste enquadramento, um dos aspectos
que está por esclarecer é a existência ou não
de uma marinha organizada anterior ao reina-
do de D. Dinis. Embora a documentação co-
nhecida seja, nesse âmbito, bastante escassa,
encontramos vários indícios que, conjugados,
nos indicam que já muito antes teria havido a
preocupação de edificar uma força naval de
adequada dimensão para dar resposta a ne-
cessidades básicas de sustentação do País.
NECESSIDADES BÁSICAS
DE DEFESA E SUSTENTAÇÃO
Durante os primeiros anos de Portugal como
“estado” independente e, já antes disso, no pe-
ríodo de afirmação do Condado Portucalense
face ao reino de Leão, o Mar parece estar, pra-
JANEIRO 2014 17