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REVISTA DA ARMADA | 489
E SE UM ESTÁGIO
PUDER MODIFICAR A VIDA DE UM JOVEM?
Foi com muita sa sfação que "descobri" a abertura da Marinha a estágios curriculares.
Não sei se estarão a par da dificuldade que existe em colocar todos os nossos formandos em estágio curricular.
Maria da Luz Aragão
Centro de Formação e Reabilitação Profissional de Alcoitão
Romana Lopes, Íris Rosa, Manuel Augusto e Leandro Valadão – Agrupamento de Escolas Daniel Sampaio
Quando falam dos seus estágios, é a expressão “ganhar expe- ção tem vindo a alterar-se privilegiando o saber-fazer como um dos
riência” que sobressai, condição sine qua non de admissão fatores de seleção e diferenciação dos candidatos a este mercado.
no mercado de trabalho. É esta a matriz dos estágios. As em-
presas valorizam a componente experiência, difícil é encontrar É o caso do Centro de Formação e Reabilitação Profissional
quem a proporcione. de Alcoitão (CFRPA). De entre as várias ações que o CFRPA de-
senvolve, foram-nos solicitados estágios para quatro formandos
Integrar jovens, licenciados ou não, numa equipa de trabalho de Gestão de Redes Informáticas, de nível 4 de qualificação do
é sempre uma decisão desafiante, quer para a instituição de aco- Quadro Nacional de Qualificações (QNQ). Colocados no Serviço
lhimento quer para os próprios. É necessário saber articular o de Eletricidade da BNL, no Pólo Informático, sob coordenação da
normal funcionamento dos organismos com a atenção e disponi- Direção de Tecnologias de Informação e Comunicações, o facto
bilidade que um estagiário exige de forma a colmatar a sua falta de se tratar de formandos adultos constitui, nas palavras do 2TEN
de experiência e alguma insegurança. D’Albergaria Rodrigues, “uma mais-valia, pois têm maior dedica-
ção ao serviço e maior sentido de responsabilidade”. Os percur-
De entre as várias unidades de acolhimento de estágios da Ma- sos de vida destes estagiários são tão distintos como os seus per-
rinha, destacamos a Base Naval de Lisboa (BNL), nas pessoas do cursos profissionais.
CMG Dores Aresta e do CTEN Duarte de Oliveira, pela conjuga-
ção de vontades; por um lado, continuar o trabalho normal da Lorena Casagrande, 25 anos, sorriso grande, fala com aquele
instituição, por outro abrir a BNL à realidade social envolvente, jeitinho tão próprio dos brasileiros. O seu percurso profissional
tornando-a assim uma parceira efetiva da comunidade, contri- estende-se desde as vendas ao público até florista.
buindo para transformar programas educativos em oportunida-
des concretas e palpáveis… Yurii Maksymenko, 37 anos, de naturalidade ucraniana, mas com
nacionalidade portuguesa, 5º ano da Licenciatura em Matemática e
Os estagiários que este ano chegaram à BNL são maioritariamen- Desenho Técnico da Universidade de Kiev, foi professor de desenho
te oriundos de escolas profissionais. Num país em que a iliteracia técnico na escola em Kiev, empregado de balcão, pintor da constru-
ainda rondava os 5,2% da população, em 2011, e a taxa de abando- ção civil, entre outras profissões, mas ficou desempregado em 2012.
no precoce de educação e formação era de 18,9%, em 2013 (Fon-
te: INE, PORDATA), os cursos de aprendizagem são uma alternativa Hugo Aguiar, 35 anos, técnico-sénior de projeto, instalação e
ao sistema escolar, permitindo a aquisição simultânea de compe- manutenção de equipamentos de uma empresa portuguesa, já
tências académicas para conclusão do 12º ano, com a hipótese de trabalhou em Angola, Cabo Verde e Espanha a dar formação a
prosseguimento de estudos para o ensino superior, e de compe- equipas técnicas nesses países.
tências profissionais, em contexto de trabalho, que potenciam o in-
gresso mais rápido no mercado de trabalho. O paradigma da forma- José Caldeira, 38 anos, empregado de balcão/mesas, ajudante
de serralheiro, pintor, o seu sonho é ser técnico de informática e
criar software para o seu próprio projeto.
OUTUBRO 2014 17