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REVISTA DA ARMADA | 489
Margarida Peneda, Rúben Silva, Diogo Rouxinol e Francisco Torrado – Agrupamento de Escolas Daniel Sampaio
Para todos eles, a Marinha é sinónimo de credibilidade, foi por os filmes”. A “hierarquia é difícil”, diz o João, mas “o espírito de
isso com satisfação e sentido de “missão cumprida” que ouvimos equipa prevalece”. Aprenderam a fazer “pequenas reparações de
estes estagiários falar do acolhimento feito na BNL, da “disponibili- aparelhos, a ligar e desligar os navios”.
dade, organização e rigor…”, da possibilidade de contactarem com
tecnologias e técnicas que se encontram para além das situações Mas um estágio não se resume só a ganhar experiência, a co-
simuláveis durante a formação e terem tido “o privilégio de passar locar em prática os conhecimentos adquiridos. Embora a aqui-
a sério as fibras óticas, ajudar na implementação da automatização sição destas competências tenha um impacto mais imediato, as
do sistema de abastecimento de água do Alfeite”. Mas a sua apren- competências relacionais, sociais e comportamentais podem ter
dizagem estendeu-se também às vivências inerentes às relações hu- resultados mais duradouros.
manas no trabalho, ao espírito de camaradagem, ao respeito pelo
outro, presente nos almoços em grupo, “Parecemos uma família”. É o caso dos alunos ao abrigo do Programa Integrado de Educa-
ção e Formação (PIEF), programa de “cariz social e educativo, em
Também anualmente temos recebido alunos da Escola Superior de simultâneo, pretendendo dar uma resposta a jovens cujo percur-
Tecnologia de Setúbal, como é o caso do Nuno Fragoso, só que neste so escolar foi pautado pela desmotivação e consequentemente
caso foi ele quem escolheu a Marinha, talvez por ter ligações familia- insucesso reiterado”, como nos explicaram os dois Técnicos de
res à instituição e reconhecer nela “o espírito de entreajuda, o am- Intervenção Local, Pedro Palrão e Rute Pereira, respetivamente
biente saudável, muito diferente de lá fora”. A estagiar no Serviço de destacados para a Escola Secundária Romeu Correia e Escola Se-
Eletricidade, diz já ter aprendido muito no que toca a redes elétricas. cundária do Monte da Caparica.
Do Centro de Emprego e Formação Profissional do Seixal, re- O projeto concretizado nestas escolas permite a certificação dos
cebemos do Curso Técnico de Instalações Elétricas o Fábio Gon- 1º, 2º e 3º ciclos do ensino básico a jovens a partir dos 15 anos
çalves e o João Matos, alunos “bastante interessados e com boa de idade. Desvinculados precocemente da escola, é ao nível das
adaptação ao meio militar”, nas palavras do SAJ Matos do Serviço competências pessoais e sociais que o impacto das suas vivências
de Eletricidade. Embora o Fábio seja filho de marinheiro, a Ma- é mais notório. O “estágio” solicitado à Marinha era ao nível do
rinha que encontrou não era a esperada, “nada tinha a ver com trabalho das competências pessoais, ao nível do saber-estar, indis-
pensáveis “para uma maior autoconfiança e autovalorização dos
Hugo Aguiar, Lorena Casagrande, Yurii Maksymenko e José Caldeira alunos por terem oportunidade de se revelarem como competen-
Centro de Formação e Reabilitação Profissional de Alcoitão tes e responsáveis em contextos de maior responsabilidade, per-
mitindo uma visão mais positiva de si próprios para si e para os
outros”, na opinião dos dois técnicos de intervenção.
Alguns fatores condicionaram, contudo, o sucesso desta inte-
gração, como foi o caso de suspensões, de mudança de escola
e de abandono escolar. Dos sete alunos propostos para estágio,
apenas foi possível falar com o Rodrigo Tavares, da área de Ho-
telaria e Restauração, a estagiar na Messe de Sargentos e Praças.
16 anos, de aspeto franzino, conversador, sorriso fácil, pensa aca-
bar este ano o 6º ano, “A minha mãe e tia é que tiveram a ideia de vir
para a Marinha. Sítio bué fixe. Gosto da cozinha, boa comida”. Faz de
tudo um pouco, descasca cebolas, alhos, desfia frango e pato, limpa
batatas. Até já nos dá dicas, “Para não chorar a cortar cebola, molha
os pulsos, é este o truque”. Mas a empatia vai para o Cabo Gomes,
“um chefe muito fixe, fala comigo, ensina-me e preocupa-se com o
que eu como, ensina-me boas maneiras. Para o ano vou fazer os 7º,
8º e 9º anos e quero vir estagiar outra vez para aqui”.
18 OUTUBRO 2014