Page 18 - Revista da Armada
P. 18

REVISTA DA ARMADA | 489

Margarida Peneda, Rúben Silva, Diogo Rouxinol e Francisco Torrado – Agrupamento de Escolas Daniel Sampaio

  Para todos eles, a Marinha é sinónimo de credibilidade, foi por        os filmes”. A “hierarquia é difícil”, diz o João, mas “o espírito de
isso com satisfação e sentido de “missão cumprida” que ouvimos           equipa prevalece”. Aprenderam a fazer “pequenas reparações de
estes estagiários falar do acolhimento feito na BNL, da “disponibili-    aparelhos, a ligar e desligar os navios”.
dade, organização e rigor…”, da possibilidade de contactarem com
tecnologias e técnicas que se encontram para além das situações            Mas um estágio não se resume só a ganhar experiência, a co-
simuláveis durante a formação e terem tido “o privilégio de passar       locar em prática os conhecimentos adquiridos. Embora a aqui-
a sério as fibras óticas, ajudar na implementação da automatização        sição destas competências tenha um impacto mais imediato, as
do sistema de abastecimento de água do Alfeite”. Mas a sua apren-        competências relacionais, sociais e comportamentais podem ter
dizagem estendeu-se também às vivências inerentes às relações hu-        resultados mais duradouros.
manas no trabalho, ao espírito de camaradagem, ao respeito pelo
outro, presente nos almoços em grupo, “Parecemos uma família”.             É o caso dos alunos ao abrigo do Programa Integrado de Educa-
                                                                         ção e Formação (PIEF), programa de “cariz social e educativo, em
  Também anualmente temos recebido alunos da Escola Superior de          simultâneo, pretendendo dar uma resposta a jovens cujo percur-
Tecnologia de Setúbal, como é o caso do Nuno Fragoso, só que neste       so escolar foi pautado pela desmotivação e consequentemente
caso foi ele quem escolheu a Marinha, talvez por ter ligações familia-   insucesso reiterado”, como nos explicaram os dois Técnicos de
res à instituição e reconhecer nela “o espírito de entreajuda, o am-     Intervenção Local, Pedro Palrão e Rute Pereira, respetivamente
biente saudável, muito diferente de lá fora”. A estagiar no Serviço de   destacados para a Escola Secundária Romeu Correia e Escola Se-
Eletricidade, diz já ter aprendido muito no que toca a redes elétricas.  cundária do Monte da Caparica.

  Do Centro de Emprego e Formação Profissional do Seixal, re-               O projeto concretizado nestas escolas permite a certificação dos
cebemos do Curso Técnico de Instalações Elétricas o Fábio Gon-           1º, 2º e 3º ciclos do ensino básico a jovens a partir dos 15 anos
çalves e o João Matos, alunos “bastante interessados e com boa           de idade. Desvinculados precocemente da escola, é ao nível das
adaptação ao meio militar”, nas palavras do SAJ Matos do Serviço         competências pessoais e sociais que o impacto das suas vivências
de Eletricidade. Embora o Fábio seja filho de marinheiro, a Ma-           é mais notório. O “estágio” solicitado à Marinha era ao nível do
rinha que encontrou não era a esperada, “nada tinha a ver com            trabalho das competências pessoais, ao nível do saber-estar, indis-
                                                                         pensáveis “para uma maior autoconfiança e autovalorização dos
Hugo Aguiar, Lorena Casagrande, Yurii Maksymenko e José Caldeira         alunos por terem oportunidade de se revelarem como competen-
Centro de Formação e Reabilitação Profissional de Alcoitão                tes e responsáveis em contextos de maior responsabilidade, per-
                                                                         mitindo uma visão mais positiva de si próprios para si e para os
                                                                         outros”, na opinião dos dois técnicos de intervenção.

                                                                           Alguns fatores condicionaram, contudo, o sucesso desta inte-
                                                                         gração, como foi o caso de suspensões, de mudança de escola
                                                                         e de abandono escolar. Dos sete alunos propostos para estágio,
                                                                         apenas foi possível falar com o Rodrigo Tavares, da área de Ho-
                                                                         telaria e Restauração, a estagiar na Messe de Sargentos e Praças.

                                                                           16 anos, de aspeto franzino, conversador, sorriso fácil, pensa aca-
                                                                         bar este ano o 6º ano, “A minha mãe e tia é que tiveram a ideia de vir
                                                                         para a Marinha. Sítio bué fixe. Gosto da cozinha, boa comida”. Faz de
                                                                         tudo um pouco, descasca cebolas, alhos, desfia frango e pato, limpa
                                                                         batatas. Até já nos dá dicas, “Para não chorar a cortar cebola, molha
                                                                         os pulsos, é este o truque”. Mas a empatia vai para o Cabo Gomes,
                                                                         “um chefe muito fixe, fala comigo, ensina-me e preocupa-se com o
                                                                         que eu como, ensina-me boas maneiras. Para o ano vou fazer os 7º,
                                                                         8º e 9º anos e quero vir estagiar outra vez para aqui”.

18 OUTUBRO 2014
   13   14   15   16   17   18   19   20   21   22   23