Page 21 - Revista da Armada
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REVISTA DA ARMADA | 495

OS SABRES DE ABORDAGEM
E AS ESPADAS DE COMBATE

DA MARINHA PORTUGUESA

Na Armada, a espada, arma branca de-                                                                 Foto Reiner Daehnhardt                                                                                     Fotos Museu Municipal da Figueira da Foz/Museu Santos Rocha
     vidamente regulamentada, era − e
ainda continua sendo − o apanágio dos          Fig. 1 − Sabre de Abordagem do Século XVIII (Fabrico                          Fig. 2 − “Figure of Eight”. Modelo de Sabre Regulamentar                           Fotos Museu Municipal da Figueira da Foz/
Oficiais. Por seu lado, o sabre de aborda-     Português (?).                                                                “Sea Service” da Royal Navy, 1804 (Fabrico Inglês).                                   /Museu Santos Rocha
gem terá sido usado na Armada, prova-
velmente, até finais do século XIX, prin-      850 mm, com o seu copo inconfundível                                          Fig. 3 − Sabre inspirado no “Figure of Eight”, Inícios Século XIX
cípios do século XX. Pese embora o sabre       formado por dois discos em forma de 8,                                        (Fabrico Português).
de abordagem não tenha sido especifica-        foi muito difundida a bordo dos navios
mente atribuído aos Oficiais, o seu uso        e nos “territórios de Sua Majestade” e                                          O uso de armas de combate a bordo de
para o combate, entre estes, era comum         também abraçada por Marinhas alia-                                            navios da Armada é, por exemplo, docu-
a bordo dos navios da Armada Real Por-         das, tendo sido largamente copiada. No                                        mentado em 1815 na "Relação de Sobres-
tuguesa. Ao contrário das espadas dos          caso português, um documento citado                                           salentes e Munições de Boca de Guerra"
Oficiais, que eram adquiridas pelos pró-       por José António Faria e Silva no seu livro                                   da fragata portuguesa Graça Fénix que,
prios, os sabres eram fornecidos pela          “Armamento Ligeiro da Guerra Peninsu-                                         para uma viagem de 3 meses, levava 40
Marinha e transportados nos navios.            lar” refere que, em Junho de 1808, em                                         espadas1. O mesmo sucede em 1857 com
                                               plena sublevação popular contra os ocu-                                       a fragata Dom Fernando II e Glória em cujo
   Do século XVIII chegou-nos um sabre ru-     pantes franceses, chegaram a Portugal,                                        registo constavam 42 Sabres e suas bai-
dimentar, com folha curva, guarda em for-      entre outras armas vindas de Gibraltar,                                       nhas. Essas armas eram geralmente trans-
ma de concha e punho em osso de vaca,          cerca de 500 sabres do tipo “Sea Service”                                     portadas colocadas em armeiros, ou en-
provavelmente trabalho dum armeiro ou          (Fig. 2). Quanto a variantes de época des-                                    caixotadas nos tombadilhos ou castelos
ferreiro português. Esta arma, duma certa      sa arma de combate, o Museu Municipal
rusticidade, de que se conhecem apenas         da Figueira da Foz conserva um belíssi-
dois exemplares idênticos, um numa co-         mo exemplar de fabrico português, com
lecção privada (R. Daeanhart), outro numa      um copo em forma de “Figure of Eight”,
colecção pública (Museu Municipal da Fi-       mas, contudo, com um punho de marfim
gueira da Foz), dá-nos uma ideia do arma-      e com uma lâmina curva mais curta do
mento usado pelos marinheiros a bordo          que a do modelo oficial inglês (720 mm),
das nossas naus, por volta de 1700-1750        dotada de goteira. Para que não restem
(Fig. 1). Conforme já foi referido, a Brigada  dúvidas quanto à origem do seu fabrico,
Real de Marinha, por Alvará de 1797, usa-      lê-se, na lâmina, a inscrição “Viva o Nos-
va sabres (Oficiais, Marinheiros Artilheiros   so Dom João” (Dom João VI) (Fig. 3).
e Atirador Especial das Vergas).

   O sabre era uma arma de combate de
lâmina mais grossa e larga do que a da
espada de Marinha, geralmente mais
eficiente para conduzir ou impedir uma
abordagem do que a espada ou o espa-
dim. O copo de ferro do sabre oferecia,
em combate, uma boa protecção para a
mão do marinheiro e a sua lâmina, mais
grossa, larga e ligeiramente curva, era
ainda muito útil para pranchar, talhar ca-
bos, malaguetas e libertar espaços nos
conveses e cobertas de navios à vela.
Convém notar que, em 1804, um ano an-
tes da batalha naval de Trafalgar, a “Royal
Navy” já se tinha dotado de um mode-
lo regulamentar de sabre, o modelo “Sea
Service”, mais conhecido por “Figure of
Eight”. Esta arma, de lâmina direita de

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