Page 16 - Revista da Armada
P. 16

REVISTA DA ARMADA | 502

                  Figura 3 – Objetivos atacados em Conacri I e o quartel da Guarda Nacional em Conacri II

informaram que os locais destes objetivos, referenciados pela          Logo que o Presidente Sékou Touré voltou a ter o controlo
força assaltante, estavam desatualizados.                            dos acontecimentos, tomou uma série de medidas com vista a
                                                                     evitar qualquer nova tentativa interna de golpe de Estado. Os
  O ataque aos objetivos governamentais da Guiné foi realizado       elementos da FNLG desembarcados e que tomaram conta dos
por forças mistas da Companhia de Comandos Africanos do Exér-        quarteis militares, foram todos eliminados nos dias seguintes. Os
cito e elementos da FNLG. Estas forças deveriam atacar diversos      24 desertores foram enforcados na República da Guiné um mês
edifícios estatais e militares, incluindo o palácio presidencial, e  depois da operação. Durante mais de um ano foi realizada uma
destruir as estações transmissoras de emissões de rádio. Grande      perseguição política por todo o país, que levou à morte de alguns
parte destes objetivos foi atingido, mas não se conseguiu contro-    milhares de guineenses. O próprio líder do PAIGC, Amílcar Cabral,
lar ou destruir o edifício da rádio.                                 viria a ser assassinado por um seu compatriota, junto à sua resi-
                                                                     dência em Conacri, num local muito próximo da Villa Syli, tendo
  Não tendo conseguido localizar, capturar ou aniquilar a cúpula     surgido especulações sobre a eventual autorização de Sékou Tou-
do poder do PAIGC nem da Guiné-Conacri, o comandante da ope-         ré na sua eliminação.
ração mandou retirar as forças nacionais para bordo dos navios
e iniciar o regresso à Guiné portuguesa. Ao amanhecer, as forças     O DESFECHO
guineenses fizeram fogo contra uma das lanchas de desembar-
que. A resposta foi pronta, e em jeito de ameaça foram feitos, a       No final da operação os portugueses libertados foram transfe-
partir de bordo, tiros de aviso sobre os depósitos de combustível    ridos para Portugal. Por razões de discrição internacional, inicial-
próximo do porto que, caso atingidos, provocariam danos signi-       mente foram condicionados no contacto com os familiares. Portu-
ficativos. A ameaça foi prontamente percebida, tendo as forças       gal nunca reconheceu a realização desta operação, embora já te-
locais interrompido o ataque. Todos os grandes objetivos opera-      nham sido publicados livros e entrevistas, e realizados programas
cionais tinham sido atingidos, mas os estratégicos tinham ficado     de televisão sobre o assunto. O General Spínola, desiludido com
comprometidos.                                                       o facto de não se ter conseguido realizar o golpe de Estado, não
                                                                     deu seguimento às condecorações propostas para reconhecimen-
  O saldo da operação foi estruturalmente bastante penoso para       to do desempenho, do mérito e da coragem de qualquer militar
o PAIGC e para a Guiné-Conacri. Para além dos inúmeros estra-        que participou na operação “Mar Verde”. A Guiné Conacri erigiu
gos de infraestruturas na cidade e nas instalações militares, foram  um monumento dedicado às vítimas da operação que congratu-
abatidas várias centenas de elementos inimigos e libertados cerca    la a “derrota” do imperialismo (Portugal) sobre a Guiné-Conacri.
de 400 presos políticos. Do lado das forças nacionais, registou-se   A Guiné-Bissau tornou-se independente em 1974. A operação
a morte de um oficial europeu do Exército e dois soldados coman-     “Mar Verde” ainda hoje é referida e analisada nos programas de
dos africanos, um fuzileiro com um ferimento grave, e a deserção     estudos avançados de diversas escolas militares internacionais.
de um pelotão da companhia de comandos africanos, num total de
24 homens. Destaca-se o facto de se terem destruído as vedetas                                                                                  Bessa Pacheco
torpedeiras do PAIGC e da Guiné-Conacri, o que permitiu manter a                                                                                              CFR
liberdade de ação marítima de Portugal, que era uma linha de ação
estratégica naval fundamental nesta guerra, e a libertação dos 26
prisioneiros portugueses.

16 DEZEMBRO 2015
   11   12   13   14   15   16   17   18   19   20   21