Page 12 - Revista da Armada
P. 12

REVISTA DA ARMADA | 503

  Uma nota final sobre a entrega dos navios parece ser de re-    com o consórcio alemão responsável pelo projecto MEKO. Foi
lembrar: as temperaturas que se fizeram sentir, especialmente    então possível o apoio de diversos países NATO e a assinatura
na entrega do primeiro navio, vislumbra um “sacrifício enorme”   em Julho de 1986 do contrato para a construção de 3 fragatas
por parte da guarnição, que é de enaltecer, pois os fardamentos  tipo MEKO 200 com aquele consórcio.
em vigor não estavam de modo nenhum adaptados aos rigores
das temperaturas que são comuns naqueles locais em determi-        Representou o mais significativo reequipamento das Forças
nadas épocas do ano.                                             Armadas nacionais e foi um enorme salto em relação aos meios
                                                                 então existentes. Para além do recurso generalizado à eletrónica
  A entrega da Corte Real marcou o fim do programa MEKO,         e ao computador, o que introduziu capacidade de automação e
assim chamado conforme o tipo dos novos meios oceânicos es-      controlo até então desconhecidas, e para além do aumento da
colhidos para o reequipamento da Marinha. Foi um programa        fiabilidade dos equipamentos, os navios foram dotados de siste-
de longa gestação iniciado em 1976 com a colaboração das es-     mas que pela primeira vez a Armada iria operar:
truturas da NATO. Foram consideradas várias hipóteses que não
lograram aceitação, até que em 1984 são iniciados contactos        – novas armas, como sejam os mísseis, superfície-superfície
                                                                 (“Harpoon”) e superfície-ar (“Sea Sparrow”), e o sistema de de-
                                                                 fesa próxima anti-míssil “Vulcan-Phalanx”;

                                                                   – propulsão por turbinas a gás;
                                                                   – conceito inovador de limitação de avarias, quer pela cons-
                                                                 trução do navio em zonas estanques e independentes e de de-
                                                                 senvolvimento vertical, quer pela disposição dos encanamentos
                                                                 principais dos circuitos de esgoto e de incêndio e dos cabos prin-
                                                                 cipais de distribuição de energia (que correm ao longo do fundo
                                                                 do navio), bem como pela vivência no interior do navio em cida-
                                                                 dela (sobrepressão de 5 milibares);
                                                                   – sistemas de comando e controlo para as armas e sensores
                                                                 (“Sewaco”) e para a plataforma e propulsão (“Nautos”), além do
                                                                 já conhecido “Sicc”, em nova versão, para as comunicações;
                                                                   – helicópteros em operação como meios orgânicos.
                                                                   Foram equipamentos de diversas origens, em função das com-
                                                                 participações dos países aliados. Mas será de toda a justiça realçar
                                                                 o notável trabalho de integração que os estaleiros desenvolveram,
                                                                 havendo que salientar que à data de entrega dos navios todos os
                                                                 sistemas funcionavam de forma compatível e harmoniosa.
                                                                   De tudo isto resultou:
                                                                   – um navio com capacidade ofensiva e defensiva credível, com
                                                                 capacidade de sobrevivência assegurada, incluindo no ambien-
                                                                 te NBQ, em que passou a ser possível uma mais rápida, correta
                                                                 e eficiente exploração da informação disponibilizada e daí uma
                                                                 melhoria significativa na reação;
                                                                   – uma redução de pessoal a bordo, mas com uma necessi-
                                                                 dade de aumento da sua preparação e qualificação, assim como
                                                                 passou a ser exigido, principalmente aos sargentos, um acrescido
                                                                 nível de responsabilização e de decisão;
                                                                   – uma alteração profunda no modo de vida a bordo. Uma
                                                                 guarnição constituída quase exclusivamente por militares pro-
                                                                 fissionais (somente 8 praças do Serviço Militar Obrigatório) em
                                                                 que a proporção oficiais, sargentos e praças se alterou (com
                                                                 aumento das duas primeiras classes e diminuição de praças).
                                                                 Regime permanente de funcionamento “a bordadas”, indife-
                                                                 renciação de funções entre cabos e marinheiros, ausência de
                                                                 impedidos nas câmaras de oficiais e sargentos e de faxinas na
                                                                 cozinha, trabalhos de manutenção programados, horário e tipo

12 JANEIRO 2016
   7   8   9   10   11   12   13   14   15   16   17