Page 4 - Revista da Armada

REVISTA DA ARMADA | 512

Stratεgia 26

Estratégias de Compensação

“O planeamento de longo prazo não lida com as decisões futuras, mas com o futuro das decisões do presente”, Peter Drucker

INTRODUÇÃO

expressão Estratégia de Compensação (em língua inglesa:
A Offset Strategy) apareceu nos círculos militares americanos
há cerca de quatro décadas, para caracterizar uma modalidade
de ação em que um contendor, não conseguindo igualar, em ter-
mos quantitativos, as capacidades inimigas, compensa esse han-
dicap melhorando a qualidade das suas capacidades. As Estraté-
gias de Compensação são o resultado da convicção acalentada
pela liderança político-militar dos EUA de que é sua função criar
as condições para que os militares americanos nunca sejam con-
frontados com uma disputa equilibrada. Para isso, o Pentágono
deverá assegurar que os militares americanos possuam sempre
vantagens que lhes permitam superiorizar-se aos contendores.

ANTECEDENTES

Embora o conceito tenha sido desenvolvido nos anos ’70,
ele foi aplicado retroativamente à estratégia de segurança na-
cional seguida pelo Presidente Eisenhower na segunda metade
dos anos ’50, que na altura foi batizada como “New Look”. Num
tempo em que a União Soviética dispunha de muito mais forças
convencionais e em que era necessário reduzir o orçamento do
Pentágono (após a dispendiosa guerra da Coreia), Eisenhower
diminuiu os efetivos militares, mas apostou no reforço das ca-
pacidades nucleares americanas. A supremacia do seu arsenal
nuclear asseguraria a primazia dos EUA em caso de conflito.
Com o passar dos anos, a União Soviética conseguiu equilibrar Dwight D. Eisenhower, o pai da primeira Estratégia de Compensação.
o arsenal atómico norte-americano, pelo que, nos anos ’70, os
EUA apostaram numa nova Estratégia de Compensação, baseada e meia de guerras, o Pentágono anunciou uma terceira Estraté-
no desenvolvimento de capacidades inovadoras, com um ênfase gia de Compensação. Esta estratégia – também designada como
especial em modernos sistemas de Comando & Controlo (C2), “Defense Innovation Initiative” – visa contrariar a erosão da van-
em tecnologias furtivas, em sistemas espaciais de comunicações tagem tecnológica das Forças Armadas americanas, estimulan-
e navegação e em armas inteligentes. Como resultado deste es- do e promovendo um conjunto diversificado de inovações que
forço de inovação, surgiram projetos como o Airborne Warning permitam manter a superioridade perante qualquer contendor.
And Control System (AWACS), o stealth fighter F-117, o Global Po- Esta terceira Offset Strategy, que não é corporizada por nenhum
sitioning System (GPS) e as munições e os mísseis com guiamento documento específico, constitui, assim, um roteiro destinado a
de precisão (quer por GPS, quer por laser). assegurar às forças militares norte-americanas a liderança tec-
Entretanto, com o fim da Guerra Fria, o investimento em ino- nológica.
vação na área da defesa reduziu-se bastante. Além disso, desde
2001, o aparelho político-militar norte-americano tem estado PARTICULARIDADES DA TERCEIRA
sobretudo focalizado nas guerras no Afeganistão e no Iraque, o ESTRATÉGIA DE COMPENSAÇÃO
que acarretou uma redução da prioridade concedida à inovação
militar. Dessa forma, em finais de 2014, numa altura em que os Enquanto as duas primeiras Offset Strategies tinham um alvo
EUA começavam a sair de um período contínuo de quase década bem distinto, a União Soviética, agora pretende-se fazer face a

4 NOVEMBRO 2016