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REVISTA DA ARMADA | 516









           O número de acidentes  e  incidentes  reportado  anualmente
          tem vindo a subir, partindo-se de cerca de 1500 em 2011 para
          cerca de 3500 em 2015. Se analisarmos os 12.591 acidentes e
          incidentes  registados  pela  respetiva  gravidade,  verifica-se  que
          3% são considerados acidentes muito graves, 20% graves, 58%
          pouco graves e 19% foram incidentes.
           No que concerne aos tipos de acidentes, a maioria aconteceu
          por causa de perda de controlo, existindo igualmente acidentes
          por falhas de máquinas, encalhe, afundamento, incêndio, explo-
          sões, colisão, danos no navio ou em equipamentos, entre outras
          causas. Cerca de 50% das ocorrências deveram-se a faltas náu-
          ticas.
           Ao analisarmos os fatores que contribuíram para os acidentes,
          em  conformidade  com  as  investigações  efetuadas,  constata-se
          que a grande maioria se deve a erros humanos. De um total de
          880 acidentes marítimos investigados, 62% dos mesmos foram
          atribuídos a erros humanos. Os acidentes provocados por falhas
          de equipamentos não chegaram a 200. É importante realçar que
          a falta de manutenção foi a razão apontada para cerca de 27%   No que concerne a poluição no mar foram reportados 317 ca-
          dos acidentes provocados por falhas de equipamentos.  sos, entre os quais 278 afetaram o meio ambiente marítimo e 39
           Quanto às consequências dos acidentes para os navios, veri-  apenas provocaram poluição atmosférica. Na maioria dos casos
          ficou-se durante o período em causa que 161 navios deram-se   (210), a poluição do mar deveu-se à libertação de combustíveis
          como perdidos e 166 navios se afundaram. A principal causa do   ou de resíduos e lubrificantes. Em 2015 existiu uma diminuição
          afundamento foi o alagamento (49 casos) e a segunda causa mais   das ocorrências de poluição.
          significativa foi a colisão (43 casos).
           Já por tipo de navio, as principais perdas de navios referem-se
          a embarcações de pesca. 1.832 navios precisaram de reboque ou                          Miguel Júdice Pargana
                                                                                                             CFR
          de assistência de terra. Um total de 79 navios foram abandona-            ASSESSOR JURÍDICO DO ALMIRANTE CEMA
          dos (sendo que destes 48 eram embarcações de pesca).
           Relativamente aos navios de transporte de mercadorias, a ca-
          tegoria de navio mais envolvido em acidentes foi o de transporte   Notas
          de carga geral (33%), seguido de navios porta contentores (17%) e   1   International Maritime Organization, em inglês.
                                                               2   European Maritime Safety Agency, em inglês.
          de navios graneleiros (15%). As colisões representaram 27% dos   3   Conforme o artigo 1º do Regulamento (CE) nº 1406/2002, de 27 de junho de
          eventos envolvendo navios de transporte de mercadorias, sendo   2002, que institui a EMSA.
          que a maioria dos acidentes teve lugar em áreas portuárias (46%),   4   Em conformidade com o artigo 17º da Diretiva 2009/18/CE, de 23 de abril de
                                                                2009,  os  dados  relativos  a  acidentes  e  incidentes  marítimos  são  conservados
          enquanto que em águas territoriais ocorreram 22%. Em âmbito   e analisados por meio de uma base de dados eletrónica europeia, a EMCIP. Os
          europeu, a maioria das ocorrências aconteceu no norte da Europa   órgãos de investigação dos vários Estados-Membros devem notificar a Comissão
          (3440), seguindo-se o Atlântico (647) e o Mar Negro (559).  dos  acidentes  e  incidentes  marítimos  e  fornecer  os  dados  resultantes  das
                                                                investigações de segurança, segundo o modelo do EMCIP. No caso português,
           Já no que se refere a embarcações de pesca, 59% dos aciden-  a responsabilidade pela comunicação à UE dos acidentes pertence ao Gabinete
          tes  envolveram  arrastões.  Os  dois  maiores  tipos  de  acidentes   de Investigação de Acidentes Marítimos e da Autoridade para a Meteorologia
                                                                Aeronáutica (GAMA), nos termos do disposto na alínea j), do nº 2 do artigo 6º do
          foram as colisões e a perda de controlo da propulsão. 53% dos   Decreto-Lei nº 236/2015, de 14 de outubro.
          acidentes ocorreram durante operações de pesca. Fazendo-se a   5   Nos termos da alínea b), do nº 2, do artigo 3º da Lei nº 18/2012, de 7 de maio,
          abordagem em termos de espaços marítimos, 41% dos acidentes   acidente marítimo é um acontecimento ou uma sequência de acontecimentos
                                                                diretamente relacionados com as operações de um navio, com exceção dos atos
          ocorreram em águas territoriais, sendo que 25% ocorreram em   ou omissões deliberados, com o objetivo de provocar danos à segurança de um
          águas integrantes da ZEE. Em termos europeus, o maior número   navio, de uma pessoa ou do ambiente, que tenha como consequência: a morte
                                                                ou ferimento grave de uma pessoa; a perda de uma pessoa que se encontrava
          de acidentes ocorreu no norte da Europa (1446), seguido do Mar   a bordo; a perda, presumida perda ou abandono de um navio; danos materiais
          Mediterrâneo (159).                                   sofridos pelo navio; encalhe ou inutilização de um navio, ou o envolvimento de
           O número total de vítimas mortais ao longo do período em   um navio numa colisão; danos materiais numa infraestrutura marítima exterior
                                                                ao navio; danos graves para o ambiente ou a possibilidade de ocorrência de danos
          análise foi de 477, sendo que 377 mortes se verificaram entre   graves para o ambiente, em resultado dos danos sofridos por um navio ou navios.
          membros da tripulação.                               6   Incidente  marítimo,  nos  termos  da  alínea  v),  do  nº  2,  do  artigo  3º  da  Lei  nº
           Ainda neste período, 1554 navios precisaram de operações   18/2012, de 7 de maio, é um acontecimento, ou sequência de acontecimentos,
                                                                que não um acidente marítimo, diretamente ligado às operações de um navio
          SAR,  dos  quais  616  eram  embarcações  de  pesca.  70%  das   que tenha colocado em risco, ou, se não fosse corrigido, poderia colocar em risco
          ações  SAR  registadas  ocorreram  por  problemas  nos  navios,   a segurança do navio, das pessoas a bordo ou de qualquer outra pessoa ou o
                                                                meio ambiente, não incluindo atos ou omissões deliberados, com o objetivo de
          enquanto 30% se relacionaram com acidentes com tripulan-  provocar danos à segurança de um navio, do indivíduo ou do meio ambiente.
          tes.



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