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REVISTA DA ARMADA | 521
PARTICIPAÇÃO DA MARINHA
APOIO A PEDRÓGÃO GRANDE
a sequência do incêndio que deflagrou no dia 17 de junho em
NPedrógão Grande e que provocou 64 mortos e mais de 200 feri-
dos, a Marinha prontamente iniciou uma operação para apoio da
Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC). Em menos de 12 horas,
foi ativada, projetada e estabelecida uma Força de Marinha (FM)
auto-sustentável (organograma abaixo), em Avelar/Pedrógão Grande,
com as seguintes capacidades: Vigilância e ações pós-rescaldo; Reco-
nhecimento; Apoio alimentar e Apoio sanitário.
Para responder às diferentes prioridades da ação, a operação foi
dividida em três fases: Fase I (18/06 a 25/06) – Apoio à ANPC através
de rescaldo e vigilância;
Fase II (25/06 a 02/07) – Apoio à Câmara Municipal de Pedrógão
Grande (CMPG) na coordenação e mapeamento;
Fase III – (após 02/07) Potenciar a capacidade organizativa do muni-
cípio, contribuindo assim para estabilização das condições de vida das
populações afetadas.
partir de 19 de junho, a FM contou ainda com o apoio da Autoridade
FASE I Marítima Nacional (AMN), através de dois psicólogos, para apoio às
vítimas da tragédia, e de um posto de comando móvel que permitiu o
A primeira fase iniciou-se às 15h00 do dia 18 de junho, com a saída controlo georreferenciado de todas as patrulhas em operação.
da primeira coluna constituída por duas dezenas de Fuzileiros, cuja Cerca das 08h00 de 19 de junho estava estabelecido o PC da FM
missão consistia em montar uma cozinha de campanha e servir 1600 na área de operações, aguardando-se pelo início de empenhamento
refeições (almoço e jantar, número que cedo passou a 2400) aos ope- operacional em apoio da ANPC, que não tardou a ser solicitado.
racionais que se encontravam no terreno. Para além destes militares, Às 09h00 desse dia foi constituída uma força combinada entre Mari-
foi também enviado, de imediato, um oficial, como parte do Posto de nha, Exército e GNR, para iniciar buscas nas zonas mais afetadas, junto
Comando avançado da FM, para uma avaliação inicial das valências à EN 236-1. Esta força, sob a coordenação da GNR, teve como princi-
necessárias e de ligação ao Posto de Comando (PC) da ANPC. pal missão resgatar sobreviventes em zonas de difícil acesso e pessoas
Às 20h00 do mesmo dia saiu da Base Naval de Lisboa (BNL) a com necessidade de auxílio médico imediato, e apoiar a Polícia Judi-
segunda coluna, de 31 elementos, com a valência de reconhecimento ciária na eventual deteção de cadáveres. Este grupo foi constituído
e com capacidades de busca e resgate em locais de difícil acesso. por 12 equipas, sendo que cada equipa era composta por 2 militares
Às 23h59 saiu o grosso da FM, constituído por vários tipos de viaturas da Marinha, 2 do Exército e 2 da GNR.
transportando 180 militares, a grande maioria dos elementos operacio- Apesar da maioria dos militares deste grupo já ter participado em
nais e parte substancial da logística que deu apoio a toda a operação. teatros de operações como Timor ou Afeganistão, a primeira reação ao
Nesta coluna seguiu um destacamento especial de apoio a combate a chegar ao local foi de acrescido impacto. O fumo e as cinzas que ainda
incêndios florestais, um posto avançado de saúde, com 1 médico e 2 se faziam sentir no ar, as raízes ainda a arder, os carros queimados e der-
enfermeiros, elementos de comunicações, engenharia mecânica, infor- retidos no meio da estrada, o horizonte negro, as aldeias semidesertas,
mática, logística, recursos, socorristas, entre outros. Paralelamente, e a as casas ardidas, foram fatores que fizeram recordar um cenário real de
guerra. Notou-se um ambiente pesado entre o grupo, contudo aquela
população precisava de apoio e o grupo estava lá para a apoiar.
Neste dia foram efetuadas buscas a inúmeras casas, e foram revis-
tados todos os anexos, abrigos, poços e terrenos junto daquela que
ficou conhecida como a “estrada da memória”. Foram ainda repor-
tadas inúmeras necessidades imediatas da população, que não tinha
conseguido estabelecer contacto com o exterior até esse momento,
assim como fornecidos víveres (água e comida). De notar a enorme
solidariedade entre a população local, remetendo em geral a ajuda
que lhe era prestada para populações mais carentes.
À medida que as operações foram avançando, o grupo apercebeu-
-se da extrema dificuldade da tarefa que lhe havia sido solicitada,
em virtude da dimensão da catástrofe e da dispersão da popula-
6 AGOSTO 2017