Page 4 - Revista da Armada
P. 4

REVISTA DA ARMADA | 525


         OS VALORES E MÉRITOS DOS

         FUZILEIROS





             s fuzileiros, que foram criados no culto das mais
         OanƟ gas tradições navais, e são, permanentemente,
         forjados pelo rigor da vida no mar e na aspereza do ser-
         viço em terra, consƟ tuem o braço armado da Marinha,
         para a projeção do poder naval para além da linha da
         costa. Por isso, o seu lema é “Braço às Armas Feito”.
           O apego aos rituais que os diferenciam, o orgulho nos
         símbolos que os idenƟ fi cam e na Marinha onde servem,
         aliados a uma arreigada camaradagem e a um inquesƟ o-
         nável profi ssionalismo, são qualidades que caracterizam
         o nosso fuzileiro como um militar de eleição, bravo, taƟ -
         camente hábil, leal, disciplinado, dotado de um espírito
         humanitário extremamente apurado, de um denodo
         invulgar e de um senƟ do do dever no mais alto grau. Por
         isso, têm visto os seus extraordinários valores e méritos
         reconhecidos por fi guras de invulgar estatuto e insuspei-
         tas de qualquer interesse corporaƟ vo.
           Tomás Tamayo de Vargas, bibliógrafo, escritor e eru-
         dito espanhol, relaƟ vamente à Restauração da Baía,
         em 1625, referiu-se à bravura e senƟ do do dever dos   Recuperação da Baía de Todos os Santos – 1625.
         militares do Terço da Armada, a primeira designação da   Primeira ação do Terço da Armada (óleo sobre tela).
         Infantaria de Marinha, sob comando de D. Francisco de
         Almeida, nos seguintes termos:                        Lord Nelson, em carta de 19 de dezembro de 1790, ao Marquês
           «EI Mestro de Campo Don Francisco de Almeida, que marchando   de Nisa, cuja esquadra, com Infantaria de Marinha embarcada, ope-
         desde la plaia, adõde avia desembarcado para su quartel, i levando   rava no mar e em terra, na Ilha de Malta, refere-se à sua conduta
         solamente trecientos hombres de las três Compañias de su Tercio,   exemplar, brava e meritória, bem como à disciplina do pessoal, do
         avia por orden del Maestro de Campo general dado ciento i cin-  seguinte modo:
         quenta para traher unas pieças de ar  lleria, que quedaban atras,   «… I have to request you will be pleased to communicate to the
         avia poco   empo que hazia alto en campaña rasa com los demas:   Commodores of the Squadron of her Most Faithful Majesty under
         quando acome  endo el enemigo con una parte de su gente, mando   your Excellency’s orders, my sincere thanks and approba  on of their
         que le saliesse a recibir Pedro Correa de Gama, su Sargento maior,   services whilst under my command, as well as to the Captains and
         conn cinquenta arcabuzeros, que le avian quedado, e el, com las   Offi  cers serving under them, on board their respec  ve Ships; and also
         picas, le inves  o tan a   empo, i com tanto esfuerço por la puerta deI   to the Offi  cers and Men serving on shore in the Kingdom of Naples,
         monasterio, que le hizo, re  rar hasta sus murallas, quedando aquel   and at the Island of Malta, for their very exemplary, brave, and meri-
         puesto tan importante, que aun no estaba por nosotros, seguro   torious conduct, and strict obedience to command.»
         desde entonces cõ su defensa.»                        A tomada de Caiena, em 1808/1809, foi a primeira missão da Bri-
                                                                       gada Real de Marinha no hemisfério Sul. Nela foram
                                                                       empenhados cerca de 300 infantes de Marinha,
                                                                       embarcados nos brigues Infante D. Pedro e Voador. A
                                                                       sua corajosa e competente ação foi determinante no
                                                                       desembarque e na entrada numa zona de fundos bai-
                                                                       xos. Numa carta de 1808, do Tenente-coronel Manuel
                                                                       Marques (de Elvas), ao governador do Pará, pode ler-se
                                                                       o seguinte:
                                                                          «… o Guarda Marinha Irvin [Inglês] conta que no cho-
                                                                       que havido no assalto de cinquenta ingleses e quarenta
                                                                       portugueses do brigue “Infante D. Pedro” [da Brigada
                                                                       Real de Marinha], combinada contra os franceses,
                                                                       mataram um deles e  fi zeram prisioneiros o coman-
                                                                       dante, um capitão, um cirurgião, vinte soldados e trinta
                                                                       pretos; que tomaram algumas armas e puseram em
                                                                       fuga o resto da tropa […] não fi cando dos nossos nin-
                                                                       guém ferido.»
                                                                         O Comissário Régio de Moçambique, Major Mouzinho
                                                                       de Albuquerque, no relatório da Campanha dos Namar-
                                                                       rais, em 1897, salientou a bravura e a habilidade táƟ ca
           Tomada de Caiena – 1808/1809 (óleo sobre tela).
                                                                       das forças de Marinha naquele combate, dizendo:

         4    JANEIRO 2018
   1   2   3   4   5   6   7   8   9