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REVISTA DA ARMADA | 525


          NRP VIANA DO CASTELO

          FRONTEX – MISSÃO EM LAMPEDUSA



         A Marinha tem empenhado, ao longo dos úlƟ mos anos, os seus navios em operações de segurança maríƟ ma no âmbito da Agência
         Europeia de Fronteiras e Guarda Costeira – FRONTEX, para o controlo e vigilância das fronteiras maríƟ mas e combate ao crime trans-
         fronteiriço, estando as unidades navais preparadas para efetuar salvamentos em massa. A úlƟ ma missão foi realizada no período de
         10 de outubro a 9 de novembro, pelo NRP Viana do Castelo.


                                                                                                                 Foto Julio Santasmarinas


















         INTER-AGÊNCIAS                                        Os momentos iniciais eram sempre de grande tensão, indepen-
                                                              dentemente da embarcação. Não é fácil, dentro de um barco sobre-
             NRP Viana do Castelo, adaptado e fl exível para enfrentar um   lotado, conseguir acalmar mais de quatro dezenas de homens que
         O  novo desafi o, com vista a  Ɵ rar o maior parƟ do daquilo que   querem entrar no navio que os salvou.
         são as suas potencialidades, largou pela primeira vez do porto de   Os fuzileiros, pertencentes à equipa de abordagem, conduzem
         Catânia, embarcando dois representantes do Serviço de Estrangei-  inicialmente aproximação à embarcação de madeira e o embarque
         ros e Fronteiras (SEF) e dois elementos italianos, um da Guardia di   disciplinado. “Um de cada vez. Sentem-se. Um de cada vez” – são as
         Finanza e outro da Guardia CosƟ era.                 palavras de ordem que mais enunciam, em francês. Olhando para
           Estes elementos foram fundamentais, quer no processo de idenƟ -  baixo, encostado ao navio, a embarcação de madeira balança muito,
         fi cação, controlo e organização dos processos de transferência dos   batendo nos balões. O medo estava normalmente patente na cara
         migrantes irregulares para as autoridades italianas, quer na ligação   dos migrantes tunisinos amontoados e sempre prontos para sair da
         entre o navio e o Centro de Coordenação Local em Messina. A mis-  embarcação de madeira que os trouxe até ao nosso encontro. O
         são foi coordenada pelo Centro de Coordenação Internacional, em   perigo no embarque e a possibilidade da embarcação de madeira se
         Roma, através de um Ofi cial de Ligação português.    virar, caso todos se concentrassem num dos bordos, estava sempre
                                                              presente. Para isso, a organização do navio contemplava a pronƟ dão
                                                              da equipa de mergulhadores de bordo, posicionados na semirrígida
         SALVAMENTOS EM MASSA
                                                              e na tolda, preparados para atuar em caso de quedas ao mar.
           O navio esteve na área de operações durante 31 dias, navegando   Grande parte dos migrantes eram oriundos da Tunísia, procurando
         525 horas em patrulha, percorrendo 5826 milhas náuƟ cas e acor-  melhores condições de vida. Depois de várias horas a navegar sem
         rendo a cinco eventos de busca e salvamento.         terra à vista, em embarcações com condições de navegabilidade
           A área de operações consisƟ u em patrulhas constantes ao largo da   defi ciente, não interessa o porto de desembarque, só pretendem
         ilha de Lampedusa, sobejamente conhecida pelos diversos inciden-  um porto europeu.
         tes ocorridos com embarcações de migrantes irregulares.  Os nomes eram de origem tunisina. Há quem diga ter pago 1500
           Todos os eventos de recolha de migrantes irregulares foram   ou 3000 euros para fazer a travessia da Tunísia para Lampedusa.
         diferentes, mas a organização a bordo foi praƟ camente sempre a   Havia uns mais esfarrapados do que outros. Quase todos estavam
         mesma. No entanto, não nos podemos esquecer da mais marcante   molhados, no entanto, alguns calçavam ténis e blusões de marca,
         para a guarnição ocorrida em 27 de outubro, o socorro de uma   Ɵ nham telemóveis de úlƟ ma geração e transportavam quanƟ as
         embarcação de madeira que transportava 48 pessoas.   avultadas de dinheiro.
           Nesta embarcação sobrelotada surgiu, quando a semirrígida de   Após o embarque Ɵ ravam, quem os Ɵ nha, as mochilas e os sacos.
         bordo se aproximou, uma criança morena, esguia e de olhar assus-  Os migrantes eram revistados e aguardavam na tolda. Terminada
         tado. A poucas jardas de distância estava o nosso navio a pairar,   a fase de garanƟ r a nossa segurança a calma ia-se restabelecendo,
         acompanhando a manobra da semirrígida a rebocar a embarcação   sendo encaminhados para o parque do helicóptero, onde eram
         até à borda. As condições do mar e o convés baixo da embarcação   idenƟ fi cados, fotografados e entrevistados pelo SEF. O registo indi-
         difi cultaram o transbordo. Foram feitas várias tentaƟ vas para colo-  vidual procedia-se através de pulseiras numeradas a que corres-
         car a criança a bordo, o balanço e a borda baixa da embarcação não   pondiam os sacos numerados com os seus pertences. Neste pro-
         permiƟ am recebê-la em segurança. Finalmente, um dos fuzileiros   cesso coordenado pelo SEF, os presumíveis elementos facilitadores
         da equipa de abordagem conseguiu colocá-la em segurança. Ima-  de migração irregular eram idenƟ fi cados. Num evento foram iden-
         gens arrepiantes e de grande ansiedade que fi cam guardadas na   Ɵ fi cados 7 presumíveis facilitadores, posteriormente entregues às
         nossa memória.                                       autoridades italianas.


                                                                                                   JANEIRO 2018  7
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