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REVISTA DA ARMADA | 526


          da Marinha (até 1868), do Ministério das
          Obras Públicas (até 1892), data em que, “por
          decreto com força de lei de 14 de Agosto”, a
          responsabilidade sobre os faróis foi atribuída
          ao Ministério da Marinha e Ultramar.
           O Serviço de Faróis consƟ tuiu inicialmente
          a 3ª Secção da 6ª ReparƟ ção do Conselho
          do Almirantado, compeƟ ndo-lhe o “serviço
          de iluminação e respeƟ vo material, e o de
          marcas, balizas e sinais sonoros na costa
          do conƟ nente e ilhas adjacentes”. Em 1907
          o Serviço de Faróis passou a consƟ tuir uma
          ReparƟ ção própria, diretamente depen-
          dente da Direcção-Geral da Marinha.
           Com o aumento signifi caƟ vo do número
          de faróis e disposiƟ vos de assinalamento
          implantados, foi então criada a Direção de
          Faróis, por decreto datado de 23 de maio de
          1924, com o objeƟ vo de concentrar numa
          única enƟ dade a responsabilidade por todas   Candeeiro Argand   Válvula Solar  Atual lanterna LED do farol
          as Ajudas à Navegação em Portugal ConƟ -  de duas torcidas                      da Berlenga
          nental e ilhas, assim como pela gestão do
          pessoal faroleiro.                  No  fi nal do século XVIII os faróis come-  automaƟ camente com o nascer e pôr do sol,
           Em 1926 foram construídos, em Caxias,   çam a estar equipados com grandes árvo-  respeƟ  vamente.
          uma ofi cina, um depósito de material e um   res de candeeiros associados a refl etores   O desenvolvimento das baterias e dos
          ediİ cio para receber a estrutura organiza-  parabólicos e funcionamento a azeite. Um   painéis solares permiƟ u, nos anos 80, iniciar
          cional da direção, mas só vinte anos mais   mecanismo de relojoaria proporcionava   a subsƟ tuição de sistemas a gás por sistemas
          tarde, em 8 de julho de 1946, é que a Dire-  movimento rotaƟ vo a estes disposiƟ vos,   solares. Os sistemas energéƟ cos passaram a
          ção de Faróis foi transferida para as insta-  conferindo aos faróis os seus caracterísƟ cos   ter uma autonomia de alguns anos.
          lações do exƟ nto Grupo de Defesa Subma-  relâmpagos.                  No campo da optoeletrónica a evolução
          rina da Costa, em Paço de Arcos, local onde   Uma outra fi gura incontornável da história   dos díodos fotoluminescentes (LED´S) possi-
          permanece até aos dias de hoje, comple-  dos faróis é o İ sico francês AugusƟ n Fresnel   bilita hoje a sua uƟ lização em lanternas que
          mentadas, em 25 de agosto de 1961, com   que, na década de 20 do século XIX, apresen-  chegam a avistar-se a 6 milhas, passando a
          a inauguração do Ediİ cio do Comando e da   tou diversos modelos de aparelhos óƟ cos   ser possível manter pequenas luzes a funcio-
          Escola de Faroleiros.             lenƟ culares de vidro. Estes aparelhos uƟ li-  nar de forma ininterrupta e autónoma em
                                            zavam uma única fonte luminosa e propor-  locais de diİ cil acesso sem a necessidade de
          O ACOMPANHAMENTO                  cionavam um rendimento superior ao dos   intervenção humana. Mais recentemente,
          DA EVOLUÇÃO TÉCNICA               anteriores sistemas. Ainda hoje, se bem que   foi possível aplicar esta tecnologia em alguns
                                            melhoradas, as óƟ cas de Fresnel equipam   faróis tais como o do Bugio, o da Berlenga e
           De início, labaredas de archotes ou foguei-  um grande número de faróis.  o de São Lourenço, necessidade jusƟ fi cada
          ras ardendo livremente no solo ou em torres   Já na segunda metade do século XIX, com   pelo seu diİ cil acesso, que funcionam auto-
          construídas para o efeito, assinalavam o   a descoberta do petróleo, iniciou-se a tran-  nomamente com uma lanterna de LED´s
          abrigo desejado ou o perigo a evitar. Come-  sição para este novo  Ɵ po de combusơ vel,   alimentada por um sistema fotovoltaico.
          çaram por uƟ lizar lenha, de seguida carvão   primeiro uƟ lizando-o em anƟ gos  candeei-  Os progressos da eletricidade e da eletró-
          e por fi m grandes mechas mergulhadas em   ros de azeite, mais tarde candeeiros de nível   nica vieram melhorar radicalmente a opera-
          azeite ou óleo.                   constante, até ao aparecimento da incan-  cionalidade dos faróis. Baterias carregadas
           O árduo trabalho de subir as cargas de   descência pelo vapor de petróleo no início   por aerogeradores, pelo movimento das
          lenha ou de carvão, juntamente com o   do século XX.                 vagas ou por painéis fotovoltaicos, sistemas
          grande volume de que se necessitava e a   Constantes melhorias conseguiam levar a   compactos com painéis solares e lanterna,
          difi culdade de o proteger da chuva, levou a   luz dos faróis cada vez mais longe, surgindo   cambiadores de lâmpadas, fotointerrup-
          que as fogueiras começassem a ser subsƟ -  novos candeeiros aos quais se iam aumen-  tores ligando e desligando os faróis, eclip-
          tuídas por lamparinas de azeite, consƟ tuídas   tando performances no alcance pelo   sores comandando a duração e frequência
          por mechas submergidas no combusơ vel.  aumento do número de torcidas. Havia   dos relâmpagos, lâmpadas que inicialmente
           Um dos marcos históricos, no que à evolu-  candeeiros de 5 e 6 torcidas o que eviden-  foram de arco elétrico dando mais tarde
          ção técnica diz respeito, foi o facto de em   temente não representava um aumento   lugar às de incandescência, inventadas por
          1780, o İ sico suíço Aimée Argand ter inven-  proporcional do alcance da luz.  Thomas Edison (empresário americano) e,
          tado o candeeiro de dupla corrente de ar e   Também as invenções de Gustaf Dalén,   mais recentemente, lâmpadas de fi lamento
          chama protegida por chaminé de vidro, vindo   o eclipsor e a válvula solar, marcaram este   de tungsténio ou de halogéneo, óƟ cas a elas
          a ser uƟ lizado mais tarde nos faróis. Esta   longo processo de constante melhoria,   associadas, arranque automáƟ co de equipa-
          invenção surge da necessidade de aumen-  permiƟ ndo, através da uƟ lização do gás   mentos de emergência, telemonitorização
          tar o alcance dos faróis e, paralelamente,   aceƟ leno, sinalizar algumas ilhas, ilhotas e   das luzes, consƟ tuem hoje a realidade do
          tornar a sua operação mais fácil e económica,   recifes, em lugares isolados sem intervenção   mundo dos faróis.
          permiƟ ndo que se subsƟ tuíssem as grandes   humana. Esta invenção permiƟ u rentabilizar   Todos estes avanços tecnológicos, a fi abi-
          chamas por pequenos candeeiros.   a fonte de energia porque apagava e acendia   lidade do material disponível, a uƟ lização


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