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REVISTA DA ARMADA | 526






















           Vista atual da Direção de Faróis
          melhor preparadas para enfrentar condições   edifi cados para o efeito. Serviam, assim,   1959) foi construído um conjunto impor-
          de mar adversas. Desenvolveram a astrono-  como referência noturna, devido à luz, mas   tante de faróis, que ainda hoje permanecem
          mia náuƟ ca e adaptaram os instrumentos e   também como referência diurna, devido ao   a funcionar, quase na sua íntegra, em apoio
          métodos de navegação existentes na época   tamanho da torre. Este Ɵ po de luzes surge   ao navegante. A consequência deste diİ cil e
          às exigências de uma navegação oceânica.   na nossa costa já com um caráter ofi cial, no   moroso processo é a existência de 53 faróis,
          Todavia, o assinalamento maríƟ mo  não   entanto eram apenas estabelecidas alguns   em funcionamento em Portugal.
          acompanhou este desenvolvimento, e a   meses por ano, ou de forma ocasional.
          costa portuguesa permaneceu largos sécu-  O primeiro farol, propriamente dito, a   DIREÇÃO DE FARÓIS
          los às escuras, ao ponto de ser internacional-  nascer em Portugal, consta que foi o de
          mente conhecida por “costa negra”.  Nossa Senhora da Luz, a norte da barra do   - A ORIGEM
           O processo de alumiamento da costa   Douro. O início do seu funcionamento data   A construção e manutenção dos faróis,
          Portuguesa foi bastante compassado no   de 1761, e subsƟ tuiu a luz que anterior-  até meados do século XVIII, esteve a cargo
          tempo; ao que consta poder-se-á considerar   mente vinha sendo manƟ da pela irmandade   de confi ssões religiosas e/ou associações
          como ponto de parƟ da os anos 20 do século   de Nossa Senhora da Luz, no mesmo lugar,
          XVI, com a construção de três “ditos” faróis   desde 1680, altura em que o ediİ cio  foi
          em locais estratégicos de relevância náuƟ ca   erigido. A torre era quadrangular, construída
          e económica. Foi construído um farol no   em alvenaria e cunhais de cantaria, tudo
          Cabo de São Vicente, erguido no extremo   caiado a branco, com uma varanda de ferro
          ocidental da costa algarvia, com o objeƟ vo   na parte superior, tendo uma altura de 19,26
          de “iluminar” um cabo considerado peri-  metros e comunicando com algumas casas
          goso (devido ao facto de se perderem aqui   que serviam de alojamento para o faroleiro
          bastantes navios), e outros dois na aproxi-  e família, de arrecadação e ofi cinas.
          mação das barras do Porto e de Lisboa, São   O processo de alumiamento da costa
          Miguel-o-Anjo e Nossa Senhora da Guia   Portuguesa conheceu como acontecimento
          (junto a Cascais), respeƟ vamente.  seminal digno de registo o alvará pomba-
           A torre graníƟ ca do farol de S. Miguel-o-  lino de 1758, que surge por uma necessi-
          -Anjo foi o único que chegou aos nossos   dade urgente de voltar a iluminar a entrada
          dias, relaƟ vamente bem conservado. É   dos principais portos do país, que  Ɵ nham
          muito provável que os outros dois fossem   fi cado destruídos, com o terramoto de 1 de
          do mesmo Ɵ po, torres quadrangulares, com   novembro de 1755. Embora como resposta
          candeeiros alimentados a azeite, suspensos   a uma catástrofe, permiƟ u a promoção de
          junto às janelas. Na época, o seu funciona-  uma forma sistemáƟ ca, a construção de
          mento era normalmente assegurado pela   vários faróis na nossa costa. Datam dessa
          comunidade religiosa, pois a localização de   época faróis emblemáƟ cos como o de Nossa
          alguns conventos tornava-os locais de elei-  Senhora da Guia (reconstrução), do Cabo
          ção para a colocação daquelas luzes. A ơ tulo   da Roca, de S. Julião, do Bugio, do Cabo   Alvará Pombalino de 1758
          de exemplo, o farol do Cabo de S. Vicente   Carvoeiro e do Cabo Espichel. Um outro
          consta que foi mandado erigir por ordem do   acontecimento, no processo de alumia-  comerciais. Nessa altura, a coroa chamou a
          Bispo de Silves, D. Fernando CouƟ nho, tendo   mento é o primeiro projeto geral de ilumi-  si a responsabilidade de dinamizar e contro-
          sido construído no recinto do convento   nação maríƟ ma da costa portuguesa, a   lar o alumiamento da costa e, até fi nais do
          fundado naquele promontório, em honra do   chamada  Carta dos Pharoes de Portugal,   século XIX, ainda exisƟ am faróis de iniciaƟ va
          márƟ r S. Vicente.                que data de 1866, da autoria do engenheiro   régia e faróis privados.
           Este  Ɵ po de luzes, normalmente chama-  hidrógrafo Francisco Pereira da Silva. Desse   Já numa era contemporânea, a responsa-
          das de faróis, eram, contudo, bem diferen-  projeto resulta, entre outras, a construção   bilidade sobre os faróis esteve sob a alçada
          tes daquilo que atualmente consideramos   dos primeiros faróis nos arquipélagos, o farol   de diversas insƟ tuições, como da Junta do
          como farol. Eram assim chamadas pelo facto   da Ponta de S. Lourenço na Madeira (1870)   Comércio (de 1758 a 1833), do Ministé-
          de estas luzes (fogueiras ou candeeiros)   e da Ponta do Arnel em S. Miguel nos Açores   rio do Reino (até 1852), do Ministério das
          serem acesas em cima de torres ou torreões   (1876). Durante cerca de 200 anos (até   Obras Públicas (até 1864), do Ministério


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