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REVISTA DA ARMADA | 539
Russia), capazes de operar até 6000 m de Navio russo de investigação e de recolha de informaçoes Yantar.
profundidade. Em suma, a esquadra russa
tem vindo a ser modernizada, dispondo de
capacidades para afetar ou interferir com
cabos submarinos.
Por tudo isso, não é de surpreender
que em 2015 essa possibilidade tenha
saltado dos documentos militares e de
intelligence (mais ou menos confiden-
ciais) para as páginas do conceituado diá-
rio generalista The New York Times. Num
artigo intitulado “Russian Ships Near Data
Cables Are Too Close for U.S. Comfort”,
alertava-se para o facto de submarinos e
navios-espiões russos estarem a “operar
agressivamente perto de cabos submari-
nos vitais, levantando suspeitas… de que
a Rússia possa estar a planear atacar esses
cabos em caso de tensão ou conflito”. O Submersível da classe Konsul.
Almirante James Stravidis (ex-Coman-
dante Supremo Aliado para as Operações • enterrar mais os cabos subma-
da NATO) comentou que esse era outro rinos, que normalmente são
exemplo da postura assertiva e agressiva colocados no máximo a 3 m de
da Rússia, adotando táticas da Guerra profundidade.
Fria, mas com recurso às mais recentes
tecnologias. Em termos estruturais, identifi-
De então para cá, esta matéria tem sido cam-se as seguintes medidas:
abordada com frequência e grande aber- • adotar instrumentos jurídi-
tura por vários altos responsáveis milita- cos, nomeadamente conven-
res da NATO e de países aliados, incluindo, ções internacionais, que prevejam nos exercícios navais, não só da NATO,
recentemente, o Chairman do Comité mecanismos robustos de proteção dos como a nível nacional.
Militar da NATO, General Stuart Peach, cabos submarinos, de jurisdição e legi-
da Força Aérea Britânica, que referiu, ao timidade para atuar e, ainda, de carác- Para finalizar, gostaria de deixar duas
jornal britânico The Guardian, terem sido ter sancionatório para atos de danifi- notas finais.
identificados navios russos perto de cabos cação desta infraestrutura; Em primeiro lugar, importa frisar que
transatlânticos, tendo acrescentado que • incluir os riscos e as ameaças aos cabos apesar da implementação destas medidas
a Rússia podia constituir uma grande submarinos na documentação estrutu- implicar encargos de monta, bem como
ameaça às nações aliadas, cortando as rante da segurança e defesa nacional e um esforço significativo nos domínios tec-
infraestruturas submarinas essenciais à internacional; nológico, legislativo, diplomático, policial
sociedade da informação e à economia • incluir os cabos submarinos na lista e militar, esses custos serão insignifican-
modernas. de infraestruturas críticas nacionais e tes quando comparados com as perdas e
Dessa forma, importa adotar medidas internacionais; os danos potenciais resultantes de uma
que protejam os cabos submarinos e • reavaliar a adequabilidade das zonas de falha em grande escala da infraestrutura
que mitiguem as consequências da sua proteção de cabos submarinos existen- submarina de cabos de fibra ótica.
eventual disrupção. Com esse fim, siste- tes, alargando-as se necessário. Em segundo lugar, a proteção dos cabos
matizam-se abaixo algumas medidas de submarinos poderia ser vista como uma
proteção, segundo os âmbitos genético, Finalmente, no que respeita ao âmbito “nova” tarefa para as marinhas mas, na
estrutural e operacional. operacional, a proteção destas artérias da prática, não é propriamente uma novi-
Assim, no âmbito genético podem iden- nossa sociedade pode passar por: dade, uma vez que a vigilância, o patru-
tificar-se as seguintes medidas para prote- • incrementar a vigilância dos locais de lhamento e a atuação contra potenciais
ger os cabos submarinos: amarração de cabos submarinos; infratores no mar constam da lista de
• instalar mais cabos submarinos, even- • monitorizar as zonas de passagem de tarefas habituais das esquadras de todo o
tualmente públicos, que proporcionem cabos submarinos, utilizando ferra- mundo. Ou seja, esta é mais uma tarefa
redundância física aos cabos existentes, mentas como, inter alia, o Long Range que se subsume na missão tradicional
maioritariamente privados, de forma a Identification and Tracking (LRIT), o das marinhas de proteção dos espaços
permitir o roteamento do tráfego em Automatic Identification System (AIS), marítimos. Algo que as marinhas sempre
caso de falhas ou ataques; o Satellite-based AIS (S-AIS) e o radar; fizeram e vão continuar a fazer, ao serviço
• diversificar os locais de passagem e os • incrementar as patrulhas nos corredo- da prosperidade, do bem-estar e da segu-
locais de amarração de cabos subma- res onde passam cabos submarinos, rança da Humanidade – agora com uma
rinos; empregando aviões de patrulhamento, atenção redobrada sobre as áreas onde
• instalar sensores nos cabos submarinos, veículos aéreos não tripulados, navios passam estas autoestradas digitais!
capazes de detetar emissões sonar indi- de superfície e submarinos;
ciadoras de possíveis ataques por sub- • incluir a proteção dos cabos submari- Sardinha Monteiro
mersíveis com guiamento por sonar; nos nos exercícios de gestão de crises e CMG
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