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REVISTA DA ARMADA | 539
HORIZONTE 2030
AS MUDANÇAS NA HIERARQUIA DOS OCEANOS
INTRODUÇÃO • As duas potências asiáticas em competição pela reorganiza-
ção futura da Ásia – a China e a Índia.
A Geopolítica é uma área de estudos centrada nas relações de
poder entre os Estados, considerados para o efeito como unida- b) Um Segundo Triângulo que integra as potências regionais – o
des orgânicas pulsantes (podendo nascer, crescer, reproduzir-se Irão, a Arábia Saudita e Israel – mais relevantes na dinâmica de
e morrer), no tabuleiro político internacional. conflitualidade que atravessa o Médio Oriente /Golfo Pérsico –
Regra geral cada Estado é o que é definido pela sua geografia macrorregião que funciona como base energética fundamental
(natural, económica, política e humana) e alicerça-se em três das potências asiáticas – Índia, China e Japão.
pilares: independência, riqueza e poder (enquanto produto de
Capacidade por Vontade). Os Estados interagem entre si, isola- c) Um Terceiro Triângulo que reúne a Rússia, a Alemanha e a
damente ou em alianças, segundo relações de superioridade, Turquia:
igualdade ou inferioridade. • A Rússia, herdeira da União das Repúblicas Socialistas Soviéti-
O principal palco institucional de relações entre Estados é a cas (URSS), está a desenvolver uma estratégia de reforço do seu
ONU. Por debaixo dessa “arena” global existem subdivisões poder no Sistema Internacional, nomeadamente na Eurásia e no
regionais num frágil equilíbrio devido a tensões e conflitos Médio Oriente/Golfo Pérsico; e
de diferente natureza. A Geopolítica procura compreender a • A Alemanha e a Turquia – que foram Estados da “linha da
dinâmica desses jogos de poder através das suas várias mani- frente” da Aliança Atlântica face à URSS – parecem pretender
festações, comportamentos e arranjos. Analisa, por exemplo, o hoje reduzir a dependência para com os EUA e ganhar mais auto-
“crescendo” ou o “esvaziamento” de recursos políticos, econó- nomia nos seus espaços regionais.
micos e militares de um Estado e prognostica o que poderá daí
advir. Para o efeito não só lista riscos e ameaças, mas também
procede à elaboração de cenários a 10, 20, 30, 50 ou 100 anos. OS OCEANOS EM TERMOS ESTRATÉGICOS,
Na construção desses cenários recorre à geografia, à história, GEOPOLÍTICOS E GEOECONÓMICOS
às dinâmicas militares, às pressões dos “media”, às rivalidades
estratégicas, à procura de recursos a nível mundial e à salva- A análise anterior implica consequências sobre a hierarquia futura
guarda do respetivo transporte dos Estados produtores aos dos Oceanos e Espaços Marítimos. Referiremos as seguintes:
Estados consumidores e ainda à análise de pequenas e limita- • O Pacífico vai tornar-se um espaço marítimo muito mais
das (no espaço e no tempo) guerras locais, à fragilidade das tenso – se não mesmo mais conflituoso – com a China a compe-
alianças e ou dos regimes políticos (democráticos ou autocrá- tir com os EUA para controlar o extenso corredor marítimo que,
ticos) e às transformações tecnológicas (e.g. energias limpas), ao longo da sua costa, permite aceder a Taiwan, cortar a sul as
do clima, da essência da guerra, das pressões demográficas e linhas de abastecimento marítimo ao Japão e à Coreia do Sul;
migratórias. sem controlar este espaço marítimo próximo, a China não tem
Segue-se um cenário simples, centrado em 2030, e as respeti- maneira de compensar – com uma abordagem assimétrica – a
vas consequências centradas nos Oceanos. superioridade dos EUA com a sua presença naval ao longo das
2030 – A REFORMULAÇÃO DO
SISTEMA INTERNACIONAL AUSTRÁLIA CANADÁ
– UMA VISÃO JAPÃO EUA R.UNIDO
Na figura propomos uma leitura das
rivalidades e da competição entre ISRAEL
Potências no Horizonte 2030, centrada TURQUIA ALEMANHA
em três “triângulos de rivalidade”:
a) Um Primeiro Triângulo que integra
os Estados Unidos da América (EUA), a
China e a Índia: IRAQUE
SIRIA
• Os EUA – a potência hoje domi- COREIA TAIWAN LIBANO
DO SUL
nante a nível mundial – combinando
uma presença nos Oceanos Pacífico COREIA A.SAUDITA IRÃO
e Índico e no Golfo Pérsico/Mediter- NORTE
râneo e contando com um conjunto
de parcerias com Estados fundamen- CHINA PAQUISTÃO INDIA
tais para o exercício da sua influência
nesses mesmos espaços marítimos – o RÚSSIA
Japão, a Austrália, o Canadá, o Reino
Unido e Israel; e Primeiro, segundo e terceiro triângulos
10 ABRIL 2019