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REVISTA DA ARMADA | 549
OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
E A ESTRATÉGIA NO PACÍFICO DR
1ª PARTE
PAÍS IMPERIAL A DEFESA DO IMPÉRIO
a viragem do século XX, após a guerra De facto, a defesa das cerca de
Ncom Espanha, os Estados Unidos da 7.100 ilhas das Filipinas, a mais de
América (EUA), ao assumirem a soberania 7.000 milhas da costa Oeste dos
das Ilhas Filipinas, Guam, Havai e parte do EUA, foi, durante mais de 30 anos,
arquipélago de Samoa, adquiriram o esta- o principal problema da estraté-
tuto de potência colonial, o que lhe impôs gia do Pacífi co. Sabendo que era
a responsabilidade de defender postos impossível a defesa de todas essas
avançados longe das suas fronteiras con- ilhas, foi decidido que os esforços
Ɵ nentais. Essa defesa repousava, funda- seriam concentrados na defesa da
mentalmente, no poder naval, ou seja, na ilha maior e mais rica e, portanto,
existência de uma esquadra e de bases mais importante: Luzon. Aliás, foi o
navais de apoio logísƟ co. próprio almirante Dewey que, ape-
Theodore Roosevelt compreendeu a nas alguns meses após a sua vitó-
importância do poder naval e não foi por ria na “batalha da Baía de Manila”,
acaso que, durante a sua administração, reconheceu que Luzon era a mais
foram tomadas medidas para desenvol- valiosa ilha das Filipinas, quer do
ver a Marinha de Guerra e construir o ponto de vista militar quer do
“Canal do Panamá”. Mas o trabalho por ponto de vista comercial, recomen-
si iniciado não teve conƟ nuidade nas dando que ali se estabelecesse uma
administrações seguintes, uma vez que os estação naval. É com esta visão que
americanos eram maioritariamente isola- nos anos seguintes e, praƟ camente
cionistas e não estavam dispostos a pagar até ao início da Segunda Guerra
o preço de um império colonial. Assim, Mundial, esta ilha, em parƟ cular a Batalha naval de Cavite na Baía de Manila.
com o advento do imperialismo ameri- área de Manila com o seu excelente porto entre a Marinha e o Exército. O mecanismo
cano, os seus líderes comprometeram-se e boas facilidades de transportes e outras para coordenar os dois ramos foi a “Comis-
com objeƟ vos políƟ cos, mas não os sus- infraestruturas, se tornou o foco e a preocu- são Conjunta” (Joint Board) estabelecida
tentaram com a criação e a manutenção pação principal dos estrategos americanos. em 1903 pelos Secretários da Marinha e
de um poder naval adequado para apoiar Embora o principal elemento da estratégia do Exército. Esta Comissão, consƟ tuída por
essas pretensões. no Pacífi co fosse uma esquadra poderosa 8 membros (4 do Exército e 4 da Marinha)
É com este pano de fundo que a estra- e as suas bases de apoio, tal, por si só, não não Ɵ nha funções execuƟ vas nem autori-
tégia americana no Pacífi co deve começar seria sufi ciente. Uma defesa efi caz duma dade de comando, limitando-se a emiƟ r
por ser analisada, pois isto explica muitas posição insular como as Filipinas requeria conselhos e recomendações que só se tor-
das incongruências entre as políƟ cas e uma guarnição permanente, forƟ fi cações navam efeƟ vos após a aprovação dos dois
os planos de defesa implementados nas costeiras e uma força militar com mobili- Secretários ou, em alguns casos, após a
primeiras três décadas do século XX que, dade para se opor efi cazmente a qualquer aprovação do próprio Presidente.
em úlƟ ma análise, levaram a que o país se tentaƟ va de invasão. Outro elemento de
encontrasse numa situação de grande fra- primordial importância para o sucesso, e Piedade Vaz
gilidade nas vésperas da hecatombe que que consƟ tuiu durante muito tempo uma CFR REF
foi a Segunda Guerra Mundial. fragilidade da estratégia, foi a cooperação
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