Page 20 - Revista da Armada
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REVISTA DA ARMADA | 549

                                                                                     Não há nenhum homem na corte que
                                                                                     não perceba nela a mão do Senhor, e a
                                                                                     todos nos parece um sonho, isto é: nunca
                                                                                     se viu nem ouviu uma batalha assim.

                                                                                     Também o historiador veneziano Paolo
                                                                                    Paruta resumiu o senƟ mento do povo
                                                                                    de Veneza, que “viu esta vitória como o
                                                                                    desaparecimento repenƟ no duma nuvem
                                                                                    negra que o ensombrara durante dois
                                                                                    séculos, quando pensava que Ɵ nha os dias
                                                                                    contados”.
                                                                                     A batalha, que foi considerada como o
                                                                                    maior combate naval desde a «Batalha de
                                                                                    AcƟ um» , em 31 a.C.,  foi  a úlƟ ma e mais
                                                                                          11
                                                                                    cruel batalha contra o domínio otomano
                                                                                    no Mar Mediterrâneo.
                                                                                                     12
                                                                                     Lepanto foi, sem dúvida, um marco rele-
                                                                                    vante na políƟ ca externa dos povos que
                                                                                    rodeiam o Mediterrâneo.
                                                                                     Os principais Estados da Europa modi-
                                                                                    fi caram para sempre a sua estratégia de
                                                                                    combate maríƟ mo. Os navios a remos
                                                                                    que chocavam com os dos inimigos foram
                                                                                    subsƟ tuídos por navios à vela que usavam
                                                                                    a pólvora e Ɵ nham peças de arƟ lharia.

                                                                                                            Santos Maia
                                                                                                                  SAJ
                                                                                                 Mestrando em História MaríƟ ma


                                                                                     Notas
                                                                                     1  Este arƟ go é uma síntese do trabalho efetuado no
                                                                                     âmbito do seminário de História MaríƟ ma AnƟ ga
                                                                                     e Medieval, do Mestrado de História MaríƟ ma da
                                                                                     Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa,
               A Batalha de Lepanto por Paolo Veronese.                              orientado pelos Professores Doutores Ana Arruda
                                                                                     e José Varandas.
                                                                                     2  Pust,  Klemen,  in The BaƩ le of Lepanto (1571)
               Em batalhas navais com navios a remos,   libertados da escravidão cerca de 15 mil   and the VeneƟ an Eastern AdriaƟ c: Impact of a
              o posicionamento era muito importante   cristãos que remavam a bordo das galés   Global Confl ict on the Mediterranean Periphery,
              para a efi cácia dos disparos bem como   muçulmanas.                    Athens Greece: Athens InsƟ tute for EducaƟ on and
                                                                                     Research, 2012, p. 8.
              para o abalroamento  fi nal pelo través   Enquanto as perdas humanas da Liga   3  Comandante das forças navais otomanas na Bata-
              do inimigo, pelo que ambas as forças   Santa não ultrapassaram os oito mil   lha de Lepanto. Morre no confl ito.
              navegavam com vista a posicionarem-se   mortos, os muçulmanos tiveram cerca   4   Pissarra, José V., «Navios de Remo», Francisco
              de forma vantajosa, tendo em conta o   de 20 mil, e um número incalculável de   Contente Domingues (dir), in Navios, Marinheiros e
                                                                                     Arte de Navegar – 1500-1668, Lisboa: Academia de
                                                       10
              vento.                             feridos.                            Marinha, 2012, p.86.
               Os navios muçulmanos estavam orde-                                    5  Idem, ibidem, p. 87.
              nados em forma de Crescente Islâmico,                                  6  Idem, ibidem, p. 97.
                                                                                        Konstam, Angus, «Galley types», in The Renais-
              ao longo de três milhas de comprimento.   CONCLUSÃO                    7 sance War Galley 1470-1590, Oxford U.K.: Osprey
              Os navios cristãos estavam dispostos for-  Devidamente chamada por muitos «A   Publishing, 2002, pp. 18-19.
              mando a Santa Cruz de Nosso Senhor.   Batalha que Salvou o Ocidente Cristão»,   8  Pust,  Klemen,  in The BaƩ le of Lepanto (1571)
              Nesse dia histórico, era a Cruz de Cristo   Lepanto assinalou o  fi m da hegemonia   and the VeneƟ an Eastern AdriaƟ c: Impact of a
                                                                                     Global Confl ict on the Mediterranean Periphery,
              contra o Crescente do Islão.       maríƟ ma islâmica e, consequentemente,   Athens Greece: Athens InsƟ tute for EducaƟ on and
               Em pleno combate, quando a Liga   pôs fi m ao período de terror e de expan-  Research, 2012, p. 24.
              Santa estava com difi culdade em suster   são para ocidente do Império Otomano.   9  Idem, ibidem, p. 25.
              o adversário, estando mesmo em des-  O mais signifi caƟ vo foi que a Batalha de   10  «Lepanto»,  in  Grande Enciclopédia Portuguesa
                                                                                     e Brasileira, Vol. 14, Lisboa: Editorial Enciclopédia,
              vantagem do vento, este foi rondando   Lepanto, ganha pelo poder do “Rosário”,   1935, p. 957.
              até cerca de 180 graus, passando agora   foi uma lição para uma cristandade desa-  11   Teve lugar a 2 de setembro de 31 a.C., perto
              os Otomanos a estar em desvantagem, o   nimada, que acreditava que o Islão era   da Grécia, durante a Guerra Civil Romana, entre
                                                                                     Marco António e Octaviano. O resultado foi uma
              que provocou a desordem na esquadra   invencível.                      vitória decisiva de Octaviano. Esta data marca o fi m
              de Ali Paxá.                        Um mês depois da batalha, a 11 de   da República e o início do Império Romano.
               A batalha, que durou cerca de quatro   novembro de 1571, o Secretário de Estado   12   Konstam, Angus, «IntroducƟ on», in Lepanto
              horas, resultou na vitória da esquadra   de Veneza, João Luís de Alzamora, escre-  1571: The greatest naval baƩ le of the Renaissance,
                                                                                     London: Osprey Publishing, 2003, pp. 5-15.
              da Liga Santa, tendo sido logo de seguida   veu a Don Juan de Austria:


              20   MARÇO 2020
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