Page 12 - Revista da Armada
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REVISTA DA ARMADA | 550


               NS Patrão Lopes























               Os restos mortais de D. Afonso foram trasladados para Lisboa   encalhar e ser dados como perdidos e, posteriormente, abaƟ dos
              em 1922. Foi uma missão logísƟ ca, com condições de mar nem   ao efeƟ vo.
              sempre favoráveis, que envolveu dois navios da nossa Mari-  Em 29 de janeiro de 1922, fundeados em Bizerta, Tunísia, foi feita
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              nha, o navio de salvamento (NS) Patrão Lopes, comandado pelo   a passagem da urna de D. Afonso  do NS Patrão Lopes para o NRP
              1TEN João António Correia Pereira, e o contra-torpedeiro Vouga,   Vouga, tendo-lhe sido prestadas honras de General de Divisão do
              comandado pelo CTEN José Eduardo de Carvalho Crato.  Exército Português. Conforme descrito no relatório de missão do
               O NS Patrão Lopes Ɵ nha como missão trazer a reboque para   Comandante do NRP  Vouga , “(…)  A guarnição toda vesƟ da de
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              Lisboa os torpedeiros ex-austríacos 88 e 85 (NRP Cávado e NRP   azul, ofi ciais fazendo uso do uniforme número três com espada e
              Zêzere), que faziam parte de uma esquadrilha de seis torpedeiros   uma pequena força armada que apresentou armas quando a caixa
              da classe Ave, reunidos em Veneza, em 1921. Haviam sido atri-  foi colocada a bordo estando a bandeira a meia adriça. (…)”.
              buídos a Portugal pelo Tratado de Versalhes, no seguimento da   O NRP Vouga fundeou na Cruz Quebrada, no dia 1 de março de
              Conferência de Paz de Paris, em 1921, a ơ tulo de compensações   1922, para efetuar a baldeação e limpeza e seguir para a ponte do
              de guerra. Serviram na Marinha entre 1920 e 1940.   Arsenal, conforme ordens recebidas do Gabinete do Ministro da
               Aproveitando a presença do NS Patrão Lopes em Itália, con-  Marinha, Vítor Hugo de Azevedo CouƟ nho . Estas ordens foram
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              forme instruções recebidas do Ministro da Marinha, João Manuel   posteriormente alteradas via rádio, ordenando que o navio conƟ -
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              de Carvalho , de 10 de dezembro de 1921, a caixa com a urna de   nuasse fundeado na Cruz Quebrada e seguisse, no dia 2 de março
              D. Afonso, com cerca de 600 kg, foi entregue em dezembro de   de manhã, para o quadro de navios de guerra no Tejo, amarrando
              1921 no porto de Brindisi, Itália, a bordo do navio pela viúva. A   pelas 14 horas à ponte do Arsenal de Marinha, em Lisboa.
              Marinha italiana prestou as honras previstas na sua ordenança,   Conforme passagem do relatório do Presidente da Junta Autó-
              tendo presente que D. Afonso era príncipe da casa real italiana .  noma das obras do novo Arsenal, “(…) Por acaso vimos neste dia,
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               O NS Patrão Lopes navegou de Brindisi a Tunis por Palermo, com   no gabinete, a Duquesa do Porto, que vinha por moƟ vo dos fune-
              os dois torpedeiros ex-autríacos 85 e 88 a reboque. Junto à costa   rais do D. Afonso, que serão na próxima 6º feira; e achando-se a
              da Tunísia, cerca das 22 horas do dia 22 de janeiro, debaixo de mar   urna funerária, a bordo do destroyer “Vouga”, já chegado. (…)” .
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              grosso, vento forte e chuva intensa, o cabo de reboque rebentou   Os restos mortais de D. Afonso foram transportados para a
              tendo-se perdido de vista os dois navios. O navio de salvamento   Capela de S. Roque, onde foram velados e foi rezada uma missa
              emiƟ u de imediato o seguinte aviso à navegação “(…) AƩ enƟ on Il y   de Requiem. Em 3 de março, num imponente cortejo fúnebre,
              a deux torpilleurs en derive posiƟ on Lat. 37 11N Long. 8 33E (…)” .   a urna foi conduzida para o Panteão da dinasƟ a de Bragança no
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              Derivando com a força do mar, os dois torpedeiros acabariam por   Mosteiro de S. Vicente de Fora .
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               NRP Vouga

























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