Page 14 - Revista da Armada
P. 14

REVISTA DA ARMADA | 550



              O CONTRIBUTO DA MARINHA




              NA LUTA ANTI-TUBERCULOSE




              INTRODUÇÃO
                 esde Hipócrates (460-375 a.C.), que
              Dhá registos sobre a descrição e trata-
              mento da tuberculose, então conhecida
              como  phthisis (consumpção), doença fa-
              tal e contagiosa. Concebeu este médico
              lâminas especiais, com o fi m de perfurar
              os espaços intercostais e aƟ ngir a pleu-
              ra, para drenar empiemas, de eƟ ologia
              tuber culosa ou outra.
               A medicina greco-romana já recomen-
              dava, para o tratamento da tuberculose,
              o repouso, boa alimentação e “bons ares”.
               Na Idade Média, Albucassis (936-1013)
              descreveu, também, a drenagem de em-
              piemas.
               Na Europa, a representação mais fre-
              quente da tuberculose incidia sobre a re-
              moção de escrófulas e a menção de elec-
              tuários com múlƟ plos ingredientes de ori-
              gem vegetal e mineral, que funcionavam
              como medidas de suporte, hidratando e
              forƟ fi cando, mas desesperadamente in-  O início dos trabalhos de premunição tuberculosa na Armada, realizados na Escola de Alunos Marinheiros
              fruơ feras.                          em Vila Franca de Xira (Janeiro de 1949)
                Longo foi o caminho até à idenƟ fi cação
              do agente causador da doença, o Myco-
              bacterium tuberculosis, por Robert Koch   Dispensários em vários pontos do País,   francesa, estudando as diferentes varie-
              em 1882 .                          como em Lisboa, na Rua da Ribeira Nova   dades do bacilo tuberculoso, fi xou-se no
                     1
                                                 (Cais do Sodré) e na Rua Tenente Valadim,   bacilo bovino, menos virulento e patogé-
              A TUBERCULOSE EM                   este dirigido pela Soberana e pelos médi-  nico que o bacilo humano, conseguindo
                                                                                    torná-lo incapaz de provocar lesões tu-
                                                 cos Dr. Silva Carvalho e Dr. Teixeira Dinis.
              PORTUGAL                            Nomeado Secretário Geral, o Dr. An-  berculosas, mas conservando um alto
               Em resposta ao preocupante problema   tónio de Lancastre foi ao estrangeiro   poder de imunização. Em 1919 apresen-
              de Saúde Pública posto pela tuberculose   estudar os estabelecimentos congéne-  ta o trabalho “A tuberculose no homem
              no nosso País, o Governo apoia, em Ju-  res que a Soberana desejava fundar. O   e nos animais”, que consƟ tuiu um marco
              nho de 1899, uma iniciaƟ va da Rainha   Dr. Silva Jones, proprietário do Correio   muito importante no combate à doença
              D. Amélia, que convoca e  preside a uma   Médico de Lisboa, secretariava a Mesa.   e na História da Medicina, ao divulgar
              primeira reunião em que afi rma:  “Não   Posteriormente, viriam a colaborar nes-  uma vacina que prevenia uma das mais
              precisando de traçar o horrendo quadro   ta iniciativa outros clínicos, como o Dr.   temíveis doenças de então .
                                                                                                         4
              da mais morơ fera e da mais frequente   Alfredo Luiz Lopes, o Dr. Moreira Júnior,   Até 1930, Portugal era a segunda nação
              de todas as doenças, porque todos têm,   o Dr. Arthur Ravara, o Dr. Ricardo Jor-  da Europa com a mais alta taxa de morta-
              decerto, senƟ do bem perto a sua lutuo-  ge, o Dr. José Joaquim de Almeida, o Dr.   lidade por tuberculose. Nota-se, a parƟ r
              sa passagem, simplesmente direi que vos   Francisco Seia, o Dr. Cassiano Neves, o   desse ano, um leve declínio. Mas, duran-
              reuni hoje aqui para fundarmos uma as-  Prof. Dr. Egas Moniz, o Dr. Manuel Tápia,   te a II Guerra Mundial, o índice sobe e,
              sociação em que eu quereria ver entrar   o Dr. Sousa Martins e o Dr. Lopo de Car-  em 1948, regressa a valores de 1939. Era
              todos os Portugueses e a que chamarei   valho. O Jornal “O Século” tinha um pa-  uma doença que, então, atacava predo-
              Assistência Nacional aos Tuberculosos”.   pel de divulgação .         minantemente jovens adultos, dos quais,
                                                               3
               Entre os presentes, estavam o Dr. Curry   No fi nal da Grande Guerra, chegam até   aproximadamente, um em cada sete
              Cabral, Lente de Medicina, e o Dr. Antó-  nós ecos da grande imprensa da Europa   morria. Em suma, um grave problema sa-
              nio de Lancastre, médico da Armada. Pro-  e América, conduzindo uma bem orien-  nitário .
                                                                                         5
              puseram-se criar sanatórios, maríƟ mos   tada propaganda de vacinação humana   A descoberta da estreptomicina, em
              (como o da Parede e o do Outão) ou de   contra a tuberculose, conhecida como   1943, e da isoniazida, em 1952, permi-
              montanha e de alƟ tude (como o da Guar-  B.C.G. (Bacilo de CalmeƩ e e Guérin).   Ɵ u, fi nalmente, o tratamento da doença.
              da). Porém, a grande obra seria a dos   Albert CalmeƩ e, médico da Marinha   O para-amino-salicilato de sódio (com o


              14   ABRIL 2020
   9   10   11   12   13   14   15   16   17   18   19