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REVISTA DA ARMADA | 550


              D. JOÃO DE CASTRO




              UM VULTO DA NOSSA HISTÓRIA

              1ª PARTE


              Permitam-me que vos apresente, resumidamente, o exemplo de vida de um dos primeiros governadores (14º) e vice-reis (4º) do Esta-
              do Português da Índia (EPI), consƟ tuído seis anos após a descoberta do caminho maríƟ mo para a Índia por Vasco da Gama, o “ponto
              alfa” da construção do império ultramarino português, o de maior escala relaƟ vamente aos outros impérios do Euromundismo, sope-
              sando a proporcionalidade de recursos demográfi cos e económicos.


              O QUADRO GEOPOLÍTICO E ESTRATÉGICO                  principais posições estratégicas do Índico, desde as portas de
              NACIONAL                                            Bab-el-Mandeb até ao estreito de Malaca, interditando a nave-
                                                                  gação aos mouros e o escoamento das especiarias e demais co-
                 o início do século XV, Portugal era um país pobre e “entalado”   mércio maríƟ mo.
              Nentre o AtlânƟ co e os reinos de Castela e Aragão, sem grande   Bem escutado pelo Rei, foi nomeado 1º Governador da Índia
              alternaƟ va para chegar a outras regiões e mercados fl orescen-  e, após um breve interregno, reconquista Goa (1513), elevada,
              tes, que não a via maríƟ ma, um mar que se lhe ofere-      em termos defi niƟ vos, à condição de capital do EPI
              cia como desƟ no e desígnio nacional, na mira de                em 1532, já na governação de Nuno da Cunha,
              outras paragens, pessoas, culturas, religiões e                   nele se integrando Diu, apenas em 1546, por
              crenças… negócios também.                                            acção de D. João de Castro, depois da sua
               Para esta epopeia foi decisiva a acção de                             reconquista.
              monarcas como D. Manuel e D. João III,                                   O primeiro  ơ tulo de “vice-rei da Ín-
              que souberam estabelecer a necessá-                                       dia” fora entregue a Francisco de
              ria cadeia de comando servida por                                          Almeida (em 1505), embora só em
              um conceito estratégico que ali-                                            1510, com a expansão territorial
              mentou um projecto de expansão                                              realizada por Afonso de Albu-
              por vários séculos.                                                          querque, se tenha ofi cializado o
               As reformas introduzidas no                                                  EPI, abarcando os territórios no
              Reino por D. João III eram vi-                                                Índico, desde a África austral
              sionadas por D. João de Cas-                                                  ao sueste AsiáƟ co.
              tro para os mares do Oriente                                                    Note-se que, durante a vi-
              através do reforço do poten-                                                   gência do regime monárqui-
              cial militar naval português e                                                 co, a  Ɵ tulação do chefe de
              não pelo aumento do número                                                     governo da Índia Portuguesa
              de praças em poder da Coroa,                                                   variou entre “Governador” e
              argumentando que “abasta                                                       “Vice-Rei”, com esta designa-
              para senhoriar a índia três ou                                                ção atribuída apenas a mem-
              quatro fortalezas muito fortes,                                               bros da alta nobreza, sendo
              e nos outros lugares ter feito-                                              ofi cialmente  exƟ nta em 1774,
              rias, e huma grossa armada pos-                                              ainda que mais tarde conferi-
              ta no mar mui bem aparelhada”.                                              da esporadicamente, para o ser
               Advogava, pois, a mesma estra-                                            defi niƟ vamente após 1835. Após
              tégia maríƟ ma de Afonso de Albu-                                         quatro séculos e meio de domínio
              querque, em contraponto à de cariz                                      português, terminava o EPI, mas que
              mais conƟ nental de Francisco de Almei-                                em cuja vigência teremos de colocar no
              da, como resposta à ameaça das galés tur-                            pódio e em lugar cimeiro e de destaque, a
              cas que começavam a desafi ar a supremacia                         fi gura de D. João de Castro.
              naval portuguesa. Daí reivindicar o reforço das                  MarƟ m Afonso de Sousa, acompanhado pelo pa-
              armadas de alto bordo, em especial as caravelas bem        dre Francisco Xavier, liderando os primeiros jesuítas que
              arƟ lhadas, navios muito mais versáteis e adaptados ao  Ɵ po   se deslocaram para o Oriente, chega a Goa em 06MAI1542, as-
              de guerra praƟ cado pelos portugueses nos mares e estuários   sumindo o Governo do território e estabilizando a administração
              orientais.                                          do Estado. Sucedeu-lhe D. João de Castro de 1545 a 1548, e pode
                                                                  afi rmar-se que este período conjunto de 6 anos marca o apogeu
              O ESTADO PORTUGUÊS DA ÍNDIA (EPI)                   do império comercial português no Índico, benefi ciando da acal-
                                                                  mia das conturbações na região, o que nos permiƟ u a reorgani-
               Na sua 1ª viagem à Índia, Afonso de Albuquerque gizou um   zação da administração e das estruturas militares. A comprovar
              grandioso plano imperial que transmiƟ u ao rei D. Manuel após   essa estabilização está o início da acƟ vidade dos Jesuítas no seu
              a sua chegada ao reino, em 1504, visando a conquista das   trabalho de missionação e de aculturação dos povos do Oriente.


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